O primeiro-ministro demissionário da Grécia, Alexis Tsipras, concedeu, na última quarta-feira, à Alpha TV, a primeira entrevista desde que na semana passada pediu a demissão do seu Governo. "Ainda não tive oportunidade de governar", realçou Tsipras, numa altura em que há eleições antecipadas à vista, provavelmente a 20 de Setembro. O responsável justifica este facto com as duras e prolongadas negociações com a troika e com a "asfixia económica" imposta à Grécia.

A necessidade de novas eleições foi novamente justificada pelo facto de a partir de 12 de Julho, quando as instituições e Atenas atingiram um princípio de acordo sobre as medidas exigidas às autoridades helénicas, o Executivo saído das eleições de 25 de Janeiro já não deter um mandato eleitoralmente legitimado. Alexis Tsipras diz ainda que o polémico referendo sobre as medidas exigidas a Atenas permitiu-lhe passar de "um não a um mau acordo", para "um sim a um acordo com problemas mas também com potencial".

E quanto ao acordo final alcançado com os credores, o primeiro-ministro demissionário salienta que o mesmo garante à Grécia "espaço orçamental para pagar a dívida" do país. Tsipras deixou também uma mensagem àqueles que à esquerda, quer na Grécia, quer na Europa, criticam Atenas por não ter colocado a possibilidade de abandonar o euro ("Grexit"). "A batalha tem de ser travada no seio da Europa", justificou.

Citado pelo To Vima, o ainda secretário-geral do Syriza insiste que o acordo alcançado com os credores poderia ter sido melhor, mas também sublinha que poderia ter sido pior, e mantém a convicção de que continua a haver um défice de democracia nas instituições europeias.

O líder do Syriza, que governou durante cerca de sete meses em coligação com os conservadores nacionalistas Gregos Independentes (Anel), rejeitou ainda coligar-se após novas eleições com os partidos gregos mais moderados, nomeadamente o Nova Democracia, o Pasok e o To Potami (O Rio), forças políticas que no entender de Tsipras "representam o velho sistema político".

O ex-ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, que criticou recentemente Tsipras "por ter mudado completamente de rumo", também mereceu críticas do antigo primeiro-ministro. Apesar de reconhecer que Varoufakis contribuiu com um importante "impulso inicial" nas conversações com as instituições, Tsipras justifica a demissão do seu antigo ministro com o facto de Varoufakis ter perdido credibilidade junto dos seus interlocutores, "que já não o ouviam", o que impediu a sua continuidade à frente das Finanças helénicas. Já Euclid Tsakalotos, o sucessor de Varoufakis, mereceu rasgados elogios porque "sem ele não teríamos chegado a acordo" com os credores.

O presidente da República grego, Prokopis Pavlopoulos, deverá iniciar ainda esta quinta-feira, 27 de Agosto, o processo tendo em vista a convocação de legislativas antecipadas. À hora de almoço desta quinta-feira, em Atenas, Panayiotis Lafazanis, líder do grupo parlamentar Unidade Popular que conta com 25 deputados que cindiram do Syriza em oposição às medidas de austeridade previstas no novo memorando de entendimento a três anos, vai devolver ao presidente grego o "mandato exploratório" tendo em vista a formação de Governo.

E tendo em conta a recusa de Tsipras em formar um Governo composto por todos os partidos com assento parlamentar, Prokopis Pavlopoulos deverá agendar já amanhã, 28 de Agosto, as próximas eleições. Uma sondagem recente citada pelo EUobserver mostra que 61% dos gregos inquiridos tem uma opinião positiva de Alexis Tsipras.