O antigo ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, anunciou que não vai ser candidato nas próximas eleições legislativas gregas, que deverão realizar-se a 20 de Setembro. Numa entrevista concedida esta quarta-feira, 26 de Agosto, à rádio australiana ABC, Varoufakis disse ainda que pretender criar um partido pan-europeu e criticou Alexis Tsipras por assinar um acordo que inclui "os termos de uma rendição".

Desde logo, Varoufakis afiança que não será candidato por não acreditar "que o parlamento que irá emergir destas eleições possa assegurar uma maioria a favor de um programa económico racional e progressista". Pelo que o economista diz que "em vez de participar numa campanha eleitoral que acho que será triste e infrutífera, vou continuar politicamente activo, talvez ainda mais activo do que fui até agora, ao nível europeu".

Também conhecido pela sua vertente polémica e mediática, Yanis Varoufakis anunciou que concentrará esforços no sentido de "formar uma rede europeia". Na óptica do antigo ministro, a realidade actual que se observa é que "os partidos nacionais vão formando frágeis alianças na Europa para operarem como um bloco", a favor dos "seus próprios interesses". "Acho que esse modelo já não funciona", remata antes de concluir que "que devemos tentar criar uma rede europeia que a determinado ponto evolua para um partido pan-europeu".

Questionado sobre a sua posição relativamente à Unidade Popular, um grupo parlamentar que resultou da cisão inicial de 25 deputados do Syriza (também membros da Plataforma de Esquerda, a corrente mais radical da coligação de esquerda radical) em desacordo com as medidas de austeridade preconizadas no terceiro memorando de entendimento acordado com as instituições, Varoufakis adiantou que apesar da "simpatia" recíproca "não me irei juntar a eles". Justificando que "temos divergências fundamentais".

Para Varoufakis, alinhado aos membros da Plataforma de Esquerda também votou contra o primeiro pacote de medidas que permitiu desbloquear as conversações entre Atenas e os credores, "o Syriza já não existe efectivamente depois de se ter dividido".

Yanis Varoufakis não se coibiu de mostrar o seu desacordo face ao acordo que deverá permitir à Grécia receber até 86 mil milhões de euros ao longo de um resgate de três anos, nem a sua posição crítica em relação a Alexis Tsipras. "Ouça isto", pediu Varoufakis ao seu interlocutor australiano.

"Veja o que ele (Tsipras) assinou: o Governo compromete-se a consultar e acordar com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, todas as acções relevantes para alcançar os objectivos antes de legalmente adoptadas". "Ouviu isto? O Governo compromete-se a concordar mesmo que não concorde. Isto são os termos de uma rendição", lamentou Varoufakis.

O ex-ministro e, em breve, também ex-deputado não acredita sequer que Alexis Tsipras "acredite que no programa político previsto no acordo". E lamenta o rumo seguido pelo Syriza e pelo seu líder Tsipras: "O partido que servi e o líder que servi decidiram mudar completamente de rumo, aceitaram políticas que não fazem sentido, que nos foram impostas". Também Alexis tsipras disse ontem que a demissão de Varoufakis tornou-se inevitável depois de este ter perdido a "credibilidade" face aos seus interlocutores durante as negociações com as instituições.

A finalizar, Varoufakis assegurou não estar minimamente preocupado em relação às acusações de alta-traição ao seu país, recordando o seu "dever" de dizer ao povo grego aquilo que pensa. A entrevista terminou com o entrevistador a citar Varoufakis: "A Primavera de Atenas foi esmagada, não com recurso a tanques, mas a barcos".