Yanis Varoufakis acusa, numa entrevista à New Review, do The Guardian, Alexis Tsipras de ter decidido "render-se" às exigências punitivas dos credores internacionais. Em vez de se manter fiel à defesa de políticas anti-austeridade, posição que o fez ser eleito através do Syriza como primeiro-ministro da Grécia.

O ex-ministro das Finanças helénico vai mais longe, afirmando que Alexis Tsipras deixou que o seu ego levasse a melhor e tomou a decisão, de forma consciente, de se tornar "o novo De Gaulle, ou, mais provavelmente, Mitterrand."

"Tsipras tomou a decisão, na noite do referendo, não só de se render à troika, mas também de implementar os termos da rendição tendo por base que é melhor que um governo progressista implemente os termos da rendição que despreza, do que deixá-los nas mãos dos lacaios da troika, que implementam os mesmos termos da rendição com entusiasmo", afirmou.

Varoufakis diz também que o Syriza, que foi a esperança na Europa contra a austeridade, traiu a causa. "Eu já testemunhei esta mutação" do partido que venceu as últimas eleições na Grécia, o que deu origem a cisões que "os que votaram corajosamente Não [no referendo] não mereciam".

A cisão de 25 deputados do Syriza deu origem à formação da Unidade Popular, liderado por Panagiotis Lafazanis, um partido que quer cancelar o terceiro resgate à Grécia e defende o cancelamento de parte da dívida pública do país. Lafazanis promete que "o ‘não’ do referendo não ficará órfão".

Sobre o facto de Tsipras ter apresentado a sua demissão na última quinta-feira, 20 de Agosto, Varoufakis considera que está relacionado com o facto de não poder continuar a justificar constantemente a introdução de políticas que considera "tóxicas". A determinada altura a justificação deixa de fazer efeito e tem de se tomar outro caminho, defende o ex-ministro das Finanças.

Estas declarações surgem numa altura em que o presidente da República helénica já deu mandato ao partido conservador grego Nova Democracia, liderado por Vangelis Meimarakis, para formar Governo. As últimas informações apontam para que o responsável esteja a ter muitas dificuldades em conseguir chegar a bom porto nesta missão, tendo até segunda-feira para encontrar uma solução.

A Constituição helénica prevê que, no caso de demissão do Governo, o presidente dê um "mandato exploratório" para a formação de um Executivo ao líder do segundo partido mais votado. Caso este passo se revele infrutífero, é a vez do líder do terceiro partido mais votado tentar formar Governo.