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Alexis Tsipras antecipa hoje eleições para daqui a um mês

O primeiro-ministro grego esteve reunido com os seus conselheiros mais próximos depois de ontem ter falado com o presidente do país. Demissão hoje e eleições em 20 de Setembro é o cenário mais referido. Essa conclusão já estará a ser anunciada por Tsipras aos demais líderes partidários.

Bloomberg
20 de Agosto de 2015 às 14:39
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Alexis Tsipras esteve reunido com os seus conselheiros mais próximos para decidir sobre o seu futuro político e o do país, após a rebelião que se instalou no seu partido, o Syriza. De acordo com a televisão pública ERT, o primeiro-ministro falou ontem por telefone com o presidente do país, Prokopis Pavlopoulos, o que está a ser interpretado como um sinal de que optou por acelerar o cenário eleições antecipadas.

Ainda segundo a ERT, o primeiro-ministro pode demitir-se ainda hoje, abrindo caminho para que o presidente convoque eleições para daqui a um mês. Duas datas - 13 e 20 de Setembro - estão a ser referidas pelos media gregos, sendo a última dada como a mais provável. A Reuters está também a confirmar esta sequência, citando uma fonte oficial do governo. E o jornal grego Kathimerini diz que Tsipras já está a anunciar aos demais líderes partidários a sua decisão, que deverá ser comunicada aos gregos ao fim do dia, pelas 20h00 (menos duas horas em Lisboa), através da TV.

A Grécia recebeu esta quinta-feira, 20 de Agosto, o primeiro cheque europeu de 16 mil milhões de euros ao abrigo do terceiro resgate, o que lhe permitiu pagar quase 3,5 mil milhões de euros de títulos de dívida gregos que estavam em posse do BCE e que hoje se venciam, e reembolsar o empréstimo de emergência de sete mil milhões acordado pelos europeus em Julho. Outros 10 mil milhões ficaram reservados para a capitalização da banca, mas ficaram à guarda do Mecanismo Europeu de Estabilidade.

Os riscos de eleições agora

Antecipar eleições em Atenas pode servir melhor a ambição de reeleição de Tsipras, ainda líder de popularidade mas com a curva a descer, embora aumente o risco de comprometer a execução de medidas previstas no memorando de entendimento negociadas com os parceiros europeus a troco de mais 86 mil milhões de euros para financiar o Estado grego até ao final de 2018. 

A governação será temporariamente assegurada por um alto magistrado e haverá pelo menos um mês de actividade parlamentar suspensa, o que provavelmente obrigará a adiar a aprovação prevista para Outubro de um Orçamento rectificativo para este ano e do plano orçamental para os próximos três, como prometido por Atenas. "Para demonstrar o seu compromisso com políticas orçamentais credíveis, o Governo vai adoptar, em Outubro de 2015, um orçamento rectificativo para 2015 como necessário, o projecto do orçamento para 2016 e o programa de estratégia orçamental de médio prazo para 2016 a 2018", com medidas que incluam "uma segunda fase da reforma de pensões", "uma reforma do código fiscal sobre o rendimento" e "a eliminação gradual do tratamento fiscal preferencial dado aos agricultores", lê-se no novo memorando.


Atrasados poderão também ficar o processo de recapitalização dos bancos, bem como o calendário da primeira avaliação da troika, prevista para Outubro, sem o qual os europeus não voltarão a flexibilizar as condições de reembolsos dos mais de 200 mil milhões de euros já emprestados – e sem isso, o FMI não entra no terceiro resgate, e sem o FMI a bordo a Alemanha promete cair fora. Devido a esses riscos, os partidos da oposição têm-se mostrado avessos a eleições antecipadas, em particular o Nova Democracia que acaba de eleger um novo líder e que dificilmente escaparia a uma derrota eleitoral.

 

"Tsipras pode surfar uma série de ondas no Outono. Depois de conseguir um terceiro resgate com relativamente pouco alarido e ‘feedback’ positivo dos decisores europeus, ainda tem uma chance de convencer os eleitores do centro de que é capaz de estabilizar a Grécia, ao mesmo tempo que, se avançar nos seus planos para combater a corrupção e a injustiça social, pode manter viva a esperança de manter o apoio da esquerda", analisa Nick Malkoutzis. "Estas serão mensagens muito mais fáceis de fazer passar se os gregos ainda não estiverem a sentir o custo de uma nova ronda de cortes nas pensões, aumentos do IVA e outros ajustamentos", alerta o editor de economia do site noticioso Macropolis.

Vários deputados fiéis ao primeiro-ministro têm defendido esta via, argumentando ser fundamental obter um novo mandato popular e ao mesmo tempo separar as águas no seio do Syriza, um conglomerado de mais de uma dezena de movimentos políticos feito para fazer oposição e que se está a desfazer com os compromissos da governação. "As eleições são imperativas para a estabilidade política. Devido aos problemas na maioria (parlamentar) do governo, a situação pode ser chamada de qualquer coisa menos de estável", disse nesta semana o novo ministro da Energia, Panos Skourletis.


Um terço dos deputados do Syriza rebelou-se contra o primeiro-ministro na passada sexta-feira, votando contra ou abstendo-se quando este submeteu ao parlamento o projecto de "memorando de entendimento" onde se descrevem as metas e as medidas que terão de ser seguidas até ao fim de 2018 a troco de um terceiro empréstimo europeu de até 86 mil milhões de euros. O memorando acabou por ser aprovado graças aos votos dos partidos europeístas na oposição, Nova Democracia, Pasok e To Potami, que já avisaram que não votarão uma moção de confiança que exigirá 120 votos favoráveis – menos do que os 118 obtidos por Tsipras entre as suas fileiras nesta última votação.

A rebelião é protagonizada por duas importantes figuras do Syriza: Panagiotis Lafazanis, ex-ministro da Energia da Grécia entretanto afastado por Tsipras, e Zoe Constantopoulou, presidente do parlamento. Lafazanis, figura de proa da Plataforma de Esquerda, a corrente mais à esquerda entre os que integram a coligação de esquerda radical, anunciou entretanto a criação de um novo movimento que tem como finalidade o combate político às medidas de austeridade aceites pelo governo a troco do novo resgate financeiro.


(Notícia actualizada, com novo título, às 16h20)

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