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O que disse Sikander Sattar na nona audição do inquérito ao BES?

Angola é o tema sensível para a auditora que, além do BES, olhava para as contas da sua unidade africana. Sikander Sattar falou pouco do BESA na sua audição, onde preferiu desenhar um percurso em que mostrou a defesa do seu trabalho, feito "em cima do acontecimento".

Bruno Simão/Negócios
03 de Dezembro de 2014 às 13:15
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Sikander Sattar falou durante perto de cinco horas na audição de 2 de Dezembro da comissão parlamentar de inquérito. Explicou-se entre as 15h e as 20h, com um intervalo de cerca de 15 minutos pelo meio. Depois das 20h, a prestação de declarações continuou. Sem a presença de jornalistas e sem transmissão no canal parlamento.

 

A KPMG era auditora do Banco Espírito Santo e do Espírito Santo Financial Group desde 2002. Para 2014, contou o presidente da unidade portuguesa, a previsão era de que este grupo contasse para 5% da facturação anual da instituição nacional.

 

Ao longo da sua intervenção, Sattar foi fazendo um trajecto em que deu conta de que actuou sempre no tempo certo. "Onde andaram os auditores?", perguntou. "Em cima dos acontecimentos", respondeu.

 

A KPMG Portugal terá dado indicações sobre uma excessiva concentração dos fundos de investimento do banco em activos do Grupo Espírito Santo em 2012, defendeu o responsável da auditora.

 

Em relação ao aumento de capital de 1.045 milhões de euros, que ocorreu em Maio e Junho de 2014 e que trouxe mais accionistas para o BES (que, mantendo o investimento, perderam praticamente tudo com a resolução de Agosto), Sikander Sattar afirma que a indicação de todos os riscos era pública. E a KPMG também os tinha avançado, fosse na certificação de contas fosse em partes anexas a relatórios. "Todos os sinais de alerta" estavam em documentos públicos, garantiu.

 

No trabalho feito nos últimos meses, Sikander Sattar assegurou que houve uma "cooperação de referência" entre a auditora que lidera e as entidades supervisoras Banco de Portugal e Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Esse trabalho permitiu actuar com uma "rapidez assinalável".  

 

No âmbito do trabalho de verificação das contas semestrais, em Julho de 2014, a auditora detectou venda de dívida do BES, e de suas sucursais, com perdas para a instituição e com mais-valias apropriadas por entidades não identificadas. Este esquema passava pelo ES Bank Panamá, revelou o responsável.


A KPMG comunicou este esquema "complexo" ao Banco de Portugal a 16 de Julho, mas apenas tendo uma indicação de que tal estaria a ser investigado. Só a 28 o regulador soube que esse esquema iria custar 1.200 milhões de euros – levando assim aos prejuízos de 3.577 milhões, revelados dois dias depois.

 

Angola foi um tema de destaque da audição. Mas pouco foi dito. Sattar, que é presidente da KPMG Portugal mas também da KPMG Angola, estava numa posição dúbia: foi auditor do BES e do BESA. À resposta ao motivo pelo qual o BES nunca fez uma provisão para os riscos na unidade angolana onde tinha mais de metade do capital, que havia cedido crédito a cujos beneficiários perdera o rasto, o auditor remeteu para a administração do banco: "O BES tomou naturalmente em consideração a existência de uma garantia soberana que permitia salvaguardar eventuais perdas".

 

A sensibilidade do tema Angola, entre outros aspectos, levou a que pela primeira vez nesta comissão parlamentar de inquérito tivesse havido declarações à porta fechada durante parte da audição.

 

 

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