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O que disse Vítor Bento na oitava audição da comissão de inquérito ao BES?

A falta de disponibilidade do Estado para capitalizar o BES, convicção com que Vítor Bento ficou depois de reunir com a ministra das Finanças a 30 de Julho, foi um dos temas mais tratados na audiência do antigo líder do banco. O interesse de privados no BES, a exposição a Angola e o esquema fraudulento de emissão de obrigações foram outros pontos em análise.

Bruno Simão/Negócios
02 de Dezembro de 2014 às 17:26
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"Não me parece que houvesse disponibilidade para o envolvimento de fundos públicos na capitalização". Foi com esta convicção que Vítor Bento ficou depois da reunião que teve com a Ministra das Finanças, a 30 de Julho, no dia em que foram conhecidos os prejuízos semestrais do BES, que ascenderam a 3,6 mil milhões de euros.

 

A ideia foi transmitida pelo antigo presidente do BES aos deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão do banco e do Grupo Espírito Santo de diversas formas. "Nunca pedimos à ministra para fazer a capitalização pública. O que queríamos era o compromisso de que, se necessário, haveria o apoio de fundos públicos. A ministra disse que não o faria por receio de que afastasse os privados" que estariam interessados em investir na instituição, mas não houve uma recusa expressa de apoio ao banco, garantiu o economista.

 

A reunião de Vítor Bento com Maria Luís Albuquerque foi pedida depois de serem conhecidos os prejuízos históricos do BES que, a 29 de Julho, tinham levado o vice-governador do Banco de Portugal, Pedro Duarte Neves, a pedir à gestão do banco que apresentasse um plano de capitalização no prazo de dois dias.

 

O antigo banqueiro recusou dar a sua opinião sobre este calendário, mas avisou que "não havia investidores privados para fazer a capitalização privada do BES em dois dias". Foi com base nesta impossibilidade que Bento afirmou "ainda hoje não sei se havia investidores privados interessados em fazer essa capitalização do banco. Não tive tempo para ver".

 

Certo é que, segundo o economista, "era necessário um novo aumento de capital para o banco voltar funcionar normalmente. O banco já estava descapitalizado antes de entrarmos. Não dispus de tempo para fazer face à descapitalização do banco", justificou-se.

 

Foram os traços gerais do plano de capitalização que estava a ser preparado para o BES que a administração de Bento divulgou ao mercado depois da divulgação dos prejuízos recorde. "Não vejo o que de mais relevante pudesse ser comunicado ao mercado", repetiu o então presidente, garantindo que só soube que o Banco de Portugal ia aplicar uma medida de resolução ao BES na noite de 1 de Agosto. Desta forma, o economista afastou qualquer possibilidade de ter divulgado esta informação publicamente.

 

Durante esse mesmo dia, o então banqueiro tinha sido surpreendido com a informação de que a negociação das acções do BES estava suspensa. "Soube por SMS da suspensão". Naquela altura, Bento estava reunido com quadros do BES para "procurar motivá-los de que era possível superar as dificuldades". "Nem me tinha apercebido da queda das acções", admitiu.

 

Ainda sobre as contas do BES relativas ao primeiro semestre, o economista justificou o facto de não haver qualquer provisão para o crédito de 3.300 milhões de euros que o banco tinha sobre o BES Angola. "Não foi feita nenhuma provisão para a exposição a Angola, nem ela foi recomendada por auditores e supervisores", sublinhou. Mas o tema não lhe poupou uma crítica de pouca colaboração por parte da deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua.

 

Hoje, Bento reconhece que se tratava de uma exposição de "montante anormal" e revelou que o BES ainda tentou que o Banco Nacional de Angola desse uma garantia directa de reembolso deste valor. Um processo que foi interrompido com a resolução aplicada à instituição.

 

Depois da separação do BES em banco mau e Novo Banco, Vítor Bento e a sua equipa quiseram abandonar funções e só ficaram porque foi feita uma alteração legislativa que lhes dava tempo para reestruturarem a instituição e vender através de uma dispersão em bolsa.

 

"Tivemos a noção de que fossem quais fossem as circunstâncias não poderíamos recusar ficar", após a resolução. "Pois caso contrário o banco não abriria portas e a estabilidade financeira ficaria posta em causa", afirmou o economista na apresentação inicial aos deputados.

 

Foi já como presidente do Novo Banco que Bento aprovou o sentido de voto da instituição na assembleia-geral da Portugal Telecom que viabilizou os novos termos da integração da PT na brasileira Oi. Esta decisão "era a menos pior de todas as alternativas", sublinhou o economista, pedindo previamente desculpa pelo "pontapé na gramática".

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