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Bacelar Gouveia diz que Maria Luís pode levar "segredos de Estado" para a Arrow Global
O constitucionalista social-democrata diz que é pouco relevante se a ex-ministra vai ter, ou não, um papel executivo na empresa britânica, e critica uma eventual saída do Parlamento, "renegando a confiança" dos eleitores.
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O constitucionalista Jorge Bacelar Gouveia considerou esta sexta-feira, 4 de Março, que Maria Luís Albuquerque se colocou numa situação "bastante grave" ao aceitar o convite para ser administradora não-executiva da Arrow Global e que existe o risco de levar consigo para a empresa "segredos de Estado".
"A situação em que ela se colocou é bastante grave. (…) A estrita incompatibilidade pode não se aplicar, mas tendo terminado funções de ministra e deputada tem segredos de Estado, que são também económicos e financeiros. Passa para a actividade privada e leva segredos estratégicos de Estado", defendeu o também militante do PSD, em declarações esta manhã na RTP3.
Bacelar Gouveia levantou mesmo a hipótese de, se essa matéria confidencial ser usada a favor da companhia, o caso poder ser alvo de investigação criminal. "Esta empresa que contratou Maria Luís Albuquerque não a contratou por ser cidadã, mas por ter sido ministra das Finanças", defendeu, argumentando que ser ou não ser administradora executiva "não parece muito relevante".
O constitucionalista critica ainda o facto de, politicamente, a deputada saia no início do mandato no Parlamento para ir trabalhar para o estrangeiro, "renegando a legitimidade e a confiança" dos eleitores. "Lamento, até como militante do PSD, que de repente abandone funções", disse.
Depois do coro de críticas que de levantou nas bancadas de Bloco, PCP e PS, esta quinta-feira à noite também Manuela Ferreira Leite, ex-ministra das Finanças, censurou a decisão da social-democrata, dizendo que houve ausência total de bom-senso da parte de Maria Luís Albuquerque.
O PSD veio ao final desta manhã defender a posição da ex-ministra de Passos Coelho, dizendo que não há nada na lei que impeça esta contratação, que o assunto está a ser usado como arma de arremesso político e que Maria Luís está disponível para esclarecer a subcomissão de Ética da Assembleia da República. Ontem, Passos Coelho recusou falar do assunto.
Maria Luís Albuquerque deverá ser, a partir da próxima segunda-feira, administradora não-executiva do grupo britânico Arrow Global, que comprou créditos ao Banif numa altura em que já se tinha dado a intervenção do Estado e em que Albuquerque era secretária de Estado do Tesouro.