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Stellantis pede ao Governo ferrovia até Vigo ou Leixões, energia mais barata e ajudas para compra de elétricos

O Governo prepara-se para apresentar esta semana um novo pacote de 60 medidas para aumentar a competitividade da economia portuguesa. O CEO da Stellantis, Carlos Tavares, pediu "ajudas para o consumidor final" que "favoreçam o desenvolvimento dos veículos elétricos".

Reuters
03 de Julho de 2024 às 10:11
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Com um novo pacote de 60 medidas para aumentar a competitividade da economia portuguesa, que será apresentado esta semana pelo Governo, depois de aprovado em Conselho de Ministros, o CEO da Stellantis, Carlos Tavares, defendeu que no caso da sua empresa são necessárias três medidas de apoio mais urgentes: uma ligação ferroviária de Mangualde a Vigo ou a Leixões; energia mais barata; e ajudas à compra de veículos elétricos por parte do Governo. 

O novo pacote do Governo incidirá em áreas como "a inovação, sustentabilidade, comércio e turismo" e inclui igualmente "incentivos para que as empresas em Portugal ganhem escala".

No caso da Stellantis, que em 2023 produziu em Portugal 84.296 veículos (366 carros por dia, 94% dos quais exportados para França, Espanha, Itália e Turquia), Carlos Tavares voltou a falar na necessidade de uma ligação ferroviária da fábrica de Mangualde aos portos de Vigo e de Leixões, "um projeto que está avançar". "É necessária do ponto de vista ambiental, porque são menos camiões na estrada, e do ponto de vista do custo é muito mais barato do que transportar os carros com camiões", frisou.

O responsável aludiu também à necessidade de reduzir o custo de energia para um valor competitivo, que seria "abaixo dos 70 euros por megawatt/hora" e, depois, "controlar a volatilidade desse custo de energia". "Não pode estar sempre a ir para baixo e para cima, porque nem sempre podemos modificar o preço da venda dos automóveis só para compensar a energia", afirmou. O grupo automóvel está empenhado em ter, no próximo ano, todas as fábricas do mundo a produzirem, "pelo menos, 50% da energia que consomem", proveniente de recursos renováveis.

Além disso, o presidente executivo do grupo automóvel Stellantis aconselhou o Governo português a usar dinheiro do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para "acelerar o desenvolvimento da rede de carregamento" de baterias de veículos elétricos.

Em declarações aos jornalistas no final da cerimónia que assinalou o arranque da produção de veículos totalmente elétricos na unidade de Mangualde, quando questionado sobre o pacote de medidas de impulso à economia que o Governo deverá anunciar quinta-feira, Carlos Tavares pediu "ajudas para o consumidor final" que "favoreçam o desenvolvimento dos veículos elétricos".

"Temos um problema de custo que não permite às classes médias comprarem veículos elétricos. Há dois tipos de ajuda: um é diretamente ao consumidor final e outro são infraestruturas de carregamento de baterias", explicou.

No entender do responsável do grupo automóvel, se as infraestruturas de carregamento de baterias "forem visíveis e de um nível de densidade elevado vão permitir que os carros tenham baterias mais pequenas, com uma autonomia mais pequena".

"Cada um de nós vai estar tranquilizado pela visibilidade dos postos de carregamento e, portanto, já não está com aquela ansiedade de precisar de 600 quilómetros de autonomia. Pode ter uma bateria mais pequena e se, a bateria for mais pequena, o carro é mais barato", frisou.

O presidente executivo da Stellantis pediu ao Governo que ajude as classes médias a comprarem veículos elétricos, referindo que "já se viu pela Europa fora que as ajudas andam entre cinco e sete mil euros por automóvel", o que "faz um buraco enorme nos orçamentos de Estado". "E logo que essas ajudas param, a procura desaparece", acrescentou.

Neste âmbito, se tivesse que dar uma recomendação ao Governo, seria: "podem utilizar o PRR para acelerar o desenvolvimento da rede de carregamento e podem utilizar o dinheiro que tiverem para incentivar e ajudar as classes médias a comprar carros elétricos a um nível mais acessível".

"Há um ciclo que é muito positivo: mais densidade da rede de carregamento quer dizer menos ansiedade na autonomia, quer dizer baterias mais pequenas, baterias mais pequenas querem dizer veículos elétricos mais acessíveis", acrescentou.


Presidente da Stellantis alerta para risco de "bolha" no mercado europeu dos carros elétricos
 
Na mesma conferência de imprensa, Carlos Tavares disse ainda que "não se pode criar uma bolha" no mercado europeu com taxas de importação aos veículos elétricos, porque haverá "inflação dentro da bolha".

Enquanto empresa mundial, a Stellantis tem "uma visão global", disse. "Sabemos muito bem que não vamos ser protegidos no mundo inteiro. Portanto, quaisquer que sejam as decisões que sejam tomadas pela Europa ou pelos Estados Unidos vamos ter que afrontar a concorrência chinesa no resto do mundo", afirmou, considerando que a proteção pode causar um adormecimento "neste combate renhido". Segundo o responsável, os veículos produzidos da China saem de fábrica já com um preço 30% inferior, face à Europa. 

No entender do responsável, estar protegido na Europa não permite ganhar no que respeita à concorrência em África e na América Latina. "Portanto, do ponto de vista da empresa, que é uma empresa global, nós só temos uma possibilidade, que encaramos com muito ânimo e com muito apetite: vamos combater os chineses", frisou Carlos Tavares.

A empresa tem a tecnologia necessária e está "a trabalhar muito duramente nos custos" para poder oferecer às classes médias, inclusive às europeias, "veículos elétricos a preços que elas possam pagar", acrescentou, garantindo que "a única maneira de combater os chineses é ter uma estrutura de custos alinhada com a deles".

E explicou: "Com inteligência, com frugalidade e com sentido de inovação, a fábrica em Mangualde tem um custo na montagem dos veículos que é comparável e competitivo com os chineses. O problema é que, numa estrutura de custo global, temos 5% de logística, 10% de montagem dos automóveis numa fábrica como esta e 85% de peças que se compram. e que têm de vir de países de low cost".

O líder da Stellantis disse ainda que "tentar aplicar taxas a nível individual das empresas já em si é quase caricato". "Traduz uma complexidade mental que não está adequada à realidade do que nós estamos a viver. Nós estamos a viver uma realidade que é muito simples: temos a tecnologia, somos capazes de fazer veículos elétricos estupendos e temos um problema de custo que não permite às classes médias comprarem veículos elétricos", sublinhou. Na sua opinião, é este problema que tem de ser tratado "pela raiz" e não "tentar por proteções à volta".

Carlos Tavares questionou: "Se puser o mercado europeu dentro de uma bolha, dentro da bolha vai haver inflação e como é que se vai tratar a inflação dentro da bolha? Com subsídios. Como é que se vão criar os subsídios? Com impostos".

"É óbvio que na Europa já há impostos a mais. Já temos uma taxa de imposição que é excessiva", acrescentou.
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