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Vítor Costa: "Champions representa um dia em cheio para o turismo. Mas é um dia em 365 dias"

O presidente da Associação de Turismo de Lisboa, Vítor Costa, prefere falar em impacto e não em retorno do final da Champions na capital, porque “não foi preciso pagar nada para este evento vir para cá”, afirma.

Miguel Baltazar/Negócios
24 de Maio de 2014 às 09:00
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Vítor Costa, presidente da ATL, vê o evento desportivo que trará mais de 70 mil turistas para a cidade no próximo dia 24 de Maio, como uma oportunidade de recuperar as 300 mil dormidas, por ano, perdidas com origem no mercado espanhol.

 

Para atrair Madrid, Lisboa investiu 120 mil euros numa campanha publicitária com 600 "spots" televisivos. Mas sem passar por Barcelona, não fosse a capital da Catalunha "reagir mal" à promoção ao dérbi madrileno. 

 

A Associação de Turismo de Lisboa tem alguma estimativa de quantas pessoas é que poderão estar em Lisboa, este fim-de-semana, por causa da final Champions?

 

A estimativa, sustentada, não. Deverão estar dezenas de milhares de pessoas. Sabemos que há muitos espanhóis que vêem sem bilhete – já temos ouvido e lido notícias sobre isso. Isso acontece sempre, nestes eventos desportivos, haver pessoas que vêm ou com outras que têm bilhete, que não arranjaram ou que não quiseram comprar. Vêm simplesmente para a festa, e portanto vai, com certeza, ser uma enchente.

 

Num dia só, [a final da Champions] representa um dia em cheio para o turismo. Mas é um dia em 365 dias. 

 

O que é que este evento, num dia só, pode representar para uma cidade como Lisboa?

 

Num dia só, representa um dia em cheio para o turismo. Mas é um dia em 365 dias. E, portanto, teremos os hotéis cheios, teremos com certeza bons negócios na restauração, no comércio, em tudo aquilo que são serviços ao turismo. É um dia importante, vai deixar uma receita – há uma estimativa na comunicação social, não sei como é que ela foi feita, à volta de 46 milhões. Mas não sei como é que chegaram a essas contas. É impossível fazer esse estudo, em geral, porque depende das equipas, e das suas localizações. Neste caso, são duas equipas de uma cidade importante, de um país importante em termos turísticos e da sua população, com certeza que terá mais impacto do que se fossem duas equipas de países mais pequenos. Mas nós não temos nenhuma estimativa séria, nem possibilidade de a fazer, sobre o impacto directo.

 

E do retorno?

 

O retorno… quer dizer, nós não investimos. Esse é um evento da UEFA. A UEFA é que fez o investimento, tens uns apoios da Câmara [Municipal de Lisboa], logísticos e um jantar que a Câmara oferece. Mas a Associação de Turismo de Lisboa não tem nenhuma participação financeira. Não foi preciso pagar nada para este evento vir para cá, ao contrário do que acontece com outros. E que às vezes vale a pena. Mas neste caso, não, porque ele tem uma sustentabilidade e uma dimensão muito grande e é a UEFA que decide e que faz esse investimento.

 

Mas a Associação de Turismo de Lisboa não tem nenhuma participação financeira. Não foi preciso pagar nada para este evento vir para cá, ao contrário do que acontece com outros. 

 

Mas em termos de impacto do evento para a cidade?

 

Temos de facto um impacto, que é o do dia. E depois temos um impacto, que para nós é muito relevante, que é um impacto promocional. Porque toda esta jornada, toda esta competição, foi subordinada a um slogan que era "the road to Lisbon". Via-se nos túneis de acesso dos jogadores, nas transmissões televisivas, nos estádios – " the road to Lisbon". Isto foi uma promoção muito grande para Lisboa.

 

A própria transmissão televisiva vai ter um impacto enorme em termos da sua visibilidade. Lisboa tem uma projecção internacional fortíssima a propósito deste evento, que para ter um efeito semelhante seria necessário um enorme investimento publicitário, que nós não temos, que nenhuma instituição tem em Portugal capacidade para fazer. Depois, tem ainda um efeito que esperamos, e é aí que tentámos no caso do Turismo de Lisboa, tentar concentrarmo-nos, que são os efeitos que isto pode ter no mercado espanhol.

 

Lisboa tem uma projecção internacional fortíssima a propósito deste evento, que, para ter um efeito semelhante, seria necessário um enorme investimento publicitário, que nós não temos, que nenhuma instituição tem em Portugal capacidade para fazer. 

 

O mercado espanhol é muito importante?

 

O mercado espanhol, para Lisboa, é o primeiro mercado em termos de dormidas. Mas, nos últimos três anos, 2011, 2012 e 2013, por causa da crise, que também efectuou, e ainda afecta Espanha, com o desemprego, etc, passámos de 1,3 milhões de dormidas de espanhóis para um milhão. Perdemos 300 mil dormidas de espanhóis por ano.

 

A nossa estratégia, relativamente a este evento, foi concentrarmo-nos em recuperar essas 300 mil dormidas por ano – para os próximos anos –, e até eventualmente ultrapassar esse número.

 

Aproveitámos também algumas acções feitas pela Câmara, pelo presidente da Câmara [António Costa], de relações públicas. Ele deslocou-se há poucos dias a Madrid, o que teve um impacto grande, tentámos potenciar isso, através da nossa agência de comunicação local e temos o relatório, do impacto que teve em televisões, imprensa, etc. E estamos a fazer um investimento publicitário, uma campanha publicitária em televisões, com incidência em Madrid, de 600 "spots" televisivos, num curto período [de tempo].

 

Quando é que começou?

 

Começou há 10 dias, e vai até ao fim desta semana. São 600 "spots" por dia. Concentramo-nos em Madrid porque também achámos que se fosse fazer uma campanha nacional [em toda a Espanha], se calhar os de Barcelona reagiam mal. E concentramo-nos na capital, que também é o principal mercado turístico para Lisboa. E, para além da televisão, em dois jornais de grande leitura, o "El País" e o "El Mundo", e dois desportivos, a "Marca" e o "As". É isso um pouco o que estamos a fazer. A festa está organizada, vai ser com certeza um sucesso, vai correr tudo bem.

 

Isso é mais ou menos garantido, é isso que está a dizer?

 

Lisboa tem experiência e já demonstrou que consegue organizar e receber estes grandes eventos, sem problema. Portanto, a festa está garantida. O dia está garantido com os hotéis cheios, com bons preços, felizmente, e com bom negócio para toda a gente. Agora, nós preocupamo-nos em procurar projectar e aproveitar isto para o "day after".

 

Nos últimos três anos - 2011, 2012 e 2013 -, por causa da crise, que também efectuou, e ainda afecta Espanha, passámos de 1,3 milhões de dormidas de espanhóis para um milhão. Perdemos 300 mil dormidas de espanhóis por ano. 

 

Qual foi o valor do investimento publicitário?

 

Foram 120 mil euros, aproximadamente.

 

E como é que pensa que irão rentabilizar o "day after"?

 

A ideia é também cativar os 300 mil espanhóis perdidos [em dormidas] para outros eventos, uma vez que eles estão a 600 quilómetros de carro. De avião são 50 minutos. Algo mais a médio, longo prazo. Nós perdemos 300 mil dormidas, em termos líquidos. Porque também houve um fenómeno, que foi uma parte de espanhóis que viajava para destinos mais longínquos, vieram para destinos mais próximos, com a crise, para gastar menos dinheiro. Haverá aí alguns que vieram [para Lisboa], que iriam, se não houvesse crise, para outros lugares. Quer dizer que perdemos muito mais do que 300 mil dormidas. Podemos ter ganho 200 mil dormidas desses e 500 mil dormidas de outros. Líquidos, perdemos 300 mil - é o principal mercado.

 

Também tivemos três anos em que montámos outra estratégia, quando vimos que em Espanha isso ia acontecer: mantivemos a níveis mais baixos a intervenção promocional em Espanha, e optámos por ir buscar a outros mercados - o Brasil, por exemplo, que passou a segundo, em termos de dormidas, com um investimento acrescido que fizemos. Porque [o Brasil] estava em boas condições económicas, que é a principal motivo que determina [os fluxos], tinha boas ligações aéreas, além de todas as outras ligações afectivas e culturais. E portanto, investimos bastante no Brasil, e compensámos. Porque conseguimos neste período de crise, aumentar o número de visitantes e de dormidas na globalidade. Portanto, o que nós queremos é conservar os outros que conseguimos durante este tempo e agora ir buscar outra vez as 300 mil dormidas. Isso vai representar muito negócio consistente para os próximos anos.

 

Qual é o número de dormidas que Lisboa recebe anualmente?

 

Atingimos os 10 milhões de dormidas este ano [2013], pela primeira vez. Hóspedes são 3,5 milhões.

 

Concentramo-nos em Madrid porque também achámos que se fosse fazer uma campanha nacional [em toda a Espanha], se calhar os de Barcelona reagiam mal. 

 

A festa está garantida, Lisboa recebe bem, os hotéis estão cheios. Mas nos jornais espanhóis têm havido alertas nas notícias sobre tarifas muito altas da hotelaria. Acha que isso pode ter um efeito reputacional menos agradável para Lisboa? Que a cidade fique colada a uma imagem de ser muito cara, para quem não conhece?

 

Esse tema tem sido lançado. Vários jornais já o fizeram, quer cá, quer também em Espanha se falou disso. Cá, até acho um pouco estranho o espírito – mesmo que fosse verdade. Como respondeu o presidente da Câmara lá, em Madrid, a essa pergunta: "mas os hotéis estão cheios". Ou seja, houve um mercado, que funcionou, aumentaram os preços naturalmente, mas houve procura. É natural que em eventos deste tipo subam sempre os preços. Porque se formos ver, em Londres, aumentaram em 1.000% quando foram os Jogos Olímpicos.

 

Pode-se gostar ou não gostar, mas é o negócio, é isso?

 

É um negócio. Nos hotéis também normalmente temos preços abaixo dos outros. Se houver uma oportunidade… mas é preciso que se note: os preços, o máximo que atingiram em hotéis de gama superior, andaram pelos 800 euros. Também não estamos a falar de nada do outro mundo. O que acontecerem foram dois fenómenos, que foram depois explorados: primeiro, há um oportunismo de pessoas que não estão no negócio, nem vão pagar impostos por isso, e que estão a pôr anúncios.

 

De camas não classificadas?

 

Sim, ainda ontem vi uma reportagem na televisão e isso é lamentável. Há autoridades para actuar. Porque não há impostos para pagar, é uma concorrência desleal – não há nenhuma razão para isso. E depois, houve algumas situações de hotéis, que por razões dos acordos que têm com operadores online, são obrigados a ter sempre uma disponibilidade nesses operadores. E, como já não tinham [quartos], porque venderam, e para não terem situações de "overbooking", são obrigados a ter a disponibilidade, mas o preço são eles que fixam. Então houve quem fixasse preços completamente absurdos, para ninguém comprar, como não existiam esses quartos à venda.

 

Os preços, o máximo que atingiram em hotéis de gama superior, andaram pelos 800 euros. Também não estamos a falar de nada do outro mundo.

 

Isso é próprio do negócio, é isso que me está a dizer?

 

É uma "chique-espertice" do director comercial – houve quem tenha anunciado uma noite a 6.900 euros. Porque já tinha tido uma experiência noutra altura, em que fez a mesma coisa e anunciou 700 ou 800 euros, e mesmo assim conseguiu vender. Depois teve que indemnizar e ficou-lhe bastante caro. Então, desta vez, lá o director ou alguém responsável por fixar os preços, decidiu pôr 6.900 euros, que de certeza que não aparece ninguém.

 

Tem alguma preocupação de maior em relação a este evento? Em termos de segurança, de trânsito, como presidente da Associação de Turismo de Lisboa, que acha que tem que ser acautelado?

 

Temos conhecimento que a operação está toda montada em termos de segurança pelas polícias e pelas entidades competentes, quer pela portuguesa, quer pela espanhola. Nessa visita [a Madrid], o presidente da Câmara reuniu-se com as autoridades [espanholas] responsáveis pela administração interna, que explicaram estar tranquilos, que têm uma boa posição com a polícia portuguesa. A PSP também, e penso que as coisas estão montadas. A própria organização, a UEFA também é muito experiente neste tipo de organização, tem locais próprios para concentração de adeptos, já prevendo depois a acessibilidade ao Estádio. O Atlético de Madrid, por exemplo, oferece um bilhete de metro a cada pessoa que se concentrar nos locais programados.

 

As coisas estão organizadas, pode sempre acontecer qualquer coisa, estamos a falar de multidões. Quando há concentração de muita gente pode sempre acontecer qualquer coisa. Mas nós já tivemos no passado recente muitos eventos em Lisboa, incluindo na área do futebol, o Euro 2004, e não houve nenhum incidente, nenhuma queixa, nenhum problema. Temos essa experiência acumulada, não só de eventos desportivos, como de espectáculos. Há aqui uma grande experiência das nossas autoridades. E a organização disto é muito profissional, estamos a falar da UEFA.

 

Tradicionalmente, torceria mais pelo Atlético, porque o Real é mais aquela coisa imperial, mas agora com o Cristiano Ronaldo, vou torcer por ele.            

 

Vai ao jogo? E vai torcer por quem?

 

O presidente da Câmara teve ontem [terça-feira] a amabilidade de me convidar para ir, e eu aceitei. Vou ver o jogo.

 

E vai torcer por algum deles?

 

Isso não é politicamente correcto dizer. Tradicionalmente, torceria mais pelo Atlético, porque o Real é mais aquela coisa imperial, mas agora com o Cristiano Ronaldo, vou torcer por ele. Se ele não jogar, torço pelo Atlético.

 

 

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