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Rajoy quer "cooperar" com futuro Governo da Catalunha mas "dentro da lei"
O primeiro-ministro espanhol reagiu finalmente à vitória das forças independentistas na Catalunha, assegurando que o futuro Governo da Generalitat "terá toda a cooperação" de Madrid. Mas Rajoy avisa que o diálogo com a Catalunha terá de ser feito com base no respeito pela lei.
As primeiras palavras proferidas pelo primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, depois da vitória dos partidos pró-independência nas eleições autonómicas que decorreram este domingo, na Catalunha, foram para mostrar a disponibilidade de Madrid para dialogar com a Generalitat (Governo autonómico) desde que, "como sempre, no pleno respeito da lei".
Mariano Rajoy, que esperou mais de 12 horas para reagir aos resultados da última noite eleitoral, assegura a pretensão de "cooperar" com a Generalitat desde que sob o "cumprimento da lei". Ou seja, Rajoy aceita dialogar com o futuro Governo catalão desde que este cesse as pretensões independentistas, algo contrário à Constituição espanhola.
As eleições de ontem (27-S) renovaram a maioria parlamentar das forças soberanistas, numa eleição que registou um recorde em termos de participação eleitoral (77,44%), mas Mariano Rajoy fez questão de salvaguardar que "aqueles que propunham uma ruptura, e não tinham apoio legal, também não o recolheram nas urnas". Ainda no domingo à noite, o PP garantia que não viabilizará um processo independentista.
Mesmo sem nenhuma referência directa, o também líder do PP realçou assim que apesar da maioria dos mandatos eleitos pertencer à coligação Juntos pelo Sim e à Candidatura de Unidade Popular (CUP) – partidos pró-independência – a maioria do eleitorado catalão votou em partidos unionistas ou federalistas, ou seja, que defendem a manutenção da Catalunha no reino de Espanha. Para Rajoy, nem a lei nem os votos estão do lado soberanista.
Nesse sentido, o político conservador explicou que "se constatou, uma vez mais, que a Catalunha é muito plural" e recordou que o Executivo que lidera há quatro anos sempre cooperou com a Generalitat "por lealdade institucional e devido a profundas convicções políticas".
Mariano Rajoy garante que o Governo que vier a resultar das eleições de ontem "terá o apoio do Governo espanhol" desde que "governe no interesse de todos os catalães e não apenas de uma parte". "Nenhum espanhol, viva onde viva, ficará de fora da atenção do Governo espanhol", prometeu Rajoy.
O desejo do primeiro-ministro de Espanha é que o futuro Executivo da Generalitat possa "superar a fractura que predominou nos últimos anos e que recupere o diálogo construtivo". Rajoy transmitiu uma mensagem "de tranquilidade para os espanhóis" e prometeu que o seu Executivo "fará cumprir a lei".
Como tal, num momento em que se aproximam as eleições nacionais de Novembro, o candidato a renovar o mandato de primeiro-ministro garante que tudo fará para assegurar "um país forte e solidário", algo que "exige cooperação entre todos", até porque, garante Rajoy, "o diálogo é são e democrático e o que é insano e antidemocrático é tentar romper a lei".
Todavia, é improvável que as palavras do primeiro-ministro espanhol tenham eco na Catalunha. Nos discursos de vitória dos três elementos mais mediáticos da aliança Juntos pelo Sim ficaram claras duas coisas: o processo independentista vai continuar; e foi reforçado e relegitimado pelos resultados da última noite eleitoral. Artur Mas, actual presidente da Generalitat e líder da Convergência Democrática da Catalunha (CDC), um dos partidos integram a coligação Juntos pelo Sim, reforçou mesmo o carácter plebiscitário do acto eleitoral de ontem proclamando: "Claro que é um plebiscito".