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Partido independentista propõe partilha de poder na Catalunha
A CUP avançou com uma alternativa de governação independentista na Catalunha, propondo à aliança Juntos pelo Sim que o próximo Governo autonómico tenha uma "presidência partilhada" protagonizada por "três ou quatro perfis de peso equivalente".
A solução para a formação de um Governo autonómico (Generalitat) na Catalunha suportado por uma maioria parlamentar independentista poderá passar por uma "liderança partilhada". Foi esta a proposta apresentada esta quinta-feira, 1 de Outubro, pela Candidatura de Unidade Popular (CUP) à coligação soberanista Juntos pelo Sim.
Anna Gabriel, número dois da CUP nas últimas eleições regionais logo atrás de Antonio Baños, defendeu que a próxima Generalitat deve ser liderada por uma "presidência partilhada" e protagonizada por "três ou quatro perfis de peso equivalente". E se durante a campanha a CUP assegurou que não apoiaria a investidura de Artur Mas, actual presidente da Generalitat e líder da Convergência Democrática da Catalunha (CDC), um dos principais partidos que integram a coligação Juntos pelo Sim, que venceu as eleições autonómicas, logo na segunda-feira reiterou essa decisão.
No entanto, Anna Gabriel, citada pelo El País, disse hoje que a CUP não pretende "enterrar" politicamente Artur Mas. E mesmo depois de Antonio Baños, cabeça-de-lista do partido soberanista e anti-sistema, ter defendido, na terça-feira, que "começamos uma nova etapa e não podemos fazê-lo com a imagem dos cortes na Catalunha como presidente", numa directa a Mas, a CUP abre agora a possibilidade de Artur Mas continuar na liderança da Generalitat, embora de forma "partilhada" e num Governo de carácter "excepcional".
"Não pedimos a morte política de Mas. Porém, falemos do papel que ele poderá desempenhar", acrescentou ainda esta manhã Anna Gabriel em declarações à Catalunya Ràdio. Apesar da vitória da aliança Juntos pelo Sim no passado domingo, esta coligação elegeu apenas 62 mandatos, ficando a seis do mínimo necessário a alcançar a maioria absoluta. Pelo que a força que integra Artur Mas e Oriel Junqueras, líder da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), necessita dos 10 deputados eleitos pela CUP para assegurar a formação de um Governo suportado por uma maioria parlamentar que legitime o retomar do processo independentista da Catalunha.
E perante a intransigência da coligação Juntos pelo Sim e da CDC em prescindir de Artur Mas como futuro presidente da Generalitat, Anna Gabriel pediu que não seja passada a ideia de que "o processo [soberanista] está em perigo por uma pessoa", sublinhando a vontade da CUP em "chegar a um acordo". E mesmo afiançando que a CUP não pretende garantir "nada" para este partido de extrema-esquerda, Anna Gabriel nota que deve poder pensar-se "em mulheres" para a liderança da Generalitat.
Mas os entraves a um acordo entre as duas forças independentistas catalãs não se prendem apenas com o nome de Artur Mas, que foi constituído arguido na terça-feira na sequência de um processo judicial espoletado pela "consulta cidadã" sobre a independência da Catalunha realizada a 9 de Novembro do ano passado.
Enquanto a aliança vencedora Juntos pelo Sim mantém que uma maioria parlamentar soberanista de 68 deputados é mais do que suficiente para legitimar a aprovação, no Parlamento catalão, de uma Declaração Unilateral de Independência face a Madrid, a CUP também insiste que esse processo só seria irreversível se os partidos independentistas tivessem alcançado não apenas a maioria dos mandatos, mas também a maioria dos votos (pelo menos 55% dos votos foi o valor indicado).
Ainda assim, de acordo com o El Mundo, nas conversações entre a aliança Juntos pelo Sim e a CUP que decorreram nos últimos dias, este partido esquerdista terá defendido o "acelerar" de alguns passos tendentes à secessão face a Madrid de forma a alcançar um "ponto de não retorno". Outra garantia deixada pela número dois deste partido radical foi que a CUP não se apresentará às eleições gerais espanholas, que ao que tudo indica só serão realizadas em Dezembro próximo, porque considera "inútil" a presença desta força no parlamento madrileno.