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Independentistas catalães divididos sobre processo soberanista da Generalitat

Apesar da vitória das forças soberanistas nas eleições deste domingo, os partidos nacionalistas mostram estar em desacordo quanto ao futuro do processo independentista. A CUP, que elegeu 10 deputados, garante que não vai apoiar recondução de Artur Mas.

David Ramos/Reuters
28 de Setembro de 2015 às 19:09
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O futuro da Catalunha não ficou mais nítido no dia seguinte às eleições autonómicas que decorreram este domingo, 27 de Setembro (27-S), e que garantiram uma maioria parlamentar aos partidos independentistas que, no entanto, não conseguiram alcançar pelo menos 50% dos votos dos cerca de 5,5 milhões de eleitores inscritos.

 

Entre os soberanistas, a coligação vencedora (Juntos pelo Sim) defende que ganhou o "sim" à independência, enquanto a Candidatura de Unidade Popular (CUP) sustenta que não apoiará uma declaração de independência porque "não vencemos o plebiscito".

 

As diferenças sobre uma futura interpretação dos resultados eleitorais entre a aliança Juntos pelo Sim, que elegeu 62 deputados, e a CUP, que obteve 10 mandatos, ficaram registadas ainda durante a campanha para as eleições regionais. Se a coligação avisou que a eleição de pelo menos 68 deputados, número que assegura maioria no Parlamento da Generalitat, garantiria condições para avançar com uma Declaração Unilateral de Independência no prazo de seis meses, a CUP defendia que tal só seria legítimo se os soberanistas conseguissem não só a maioria dos mandatos, mas também dos votos. O que não se verificou, uma vez que apenas 47,74% dos eleitores votaram nas duas forças independentistas, tendo 50,62% votado em partidos autonomistas ou federalistas.

 

Entretanto, a CUP já confirmou outro dado que havia pré-anunciado na campanha. Este partido de extrema-esquerda não apoiará a investidura de Artur Mas, que mesmo não sendo cabeça-de-lista da aliança era, fruto de um acordo no seio da Juntos pelo Sim, candidato à presidência da Generalitat. Mas este partido eurocéptico e anti-sistema vai mais longe. Segundo o candidato Antonio Baños, a CUP não apoiará "passar do fetichismo de Mas ao fetichismo de [Raül] Romeva nem ao de [Oriol] Junqueras", reafirmando que a independência da Catalunha "é o caminho a seguir".

 

Este conjunto de factores deixa, para já, a Catalunha num impasse. Por um lado, é preciso perceber se a aliança Juntos pelo Sim chegará, ou não, a acordo com a CUP para a formação de um Executivo com apoio parlamentar maioritário. Por outro, continua por perceber quem poderá assumir a presidência da Generalitat. Artur Mas ou outro nome que venha a resultar de eventuais negociações com a CUP.

A possibilidade de um Governo minoritário ou uma tentativa de negociação com a coligação promovida pelo Podemos, Catalunha Sim que é Possível, também estão em cima da mesa. Sergi Sabriá, porta-voz da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que também integra a coligação Juntos pelo Sim, disse hoje que vão sondar a coligação Catalunha Sim que é Possível porque eles "também querem iniciar um processo constituinte" e defendem que os catalães possam decidir em referendo o futuro da região. No entanto, além da CUP, também a aliança promovida pelo Podemos rejeita um Governo autonómico que seja novamente liderado por Mas. Já a ERC e, naturalmente, a Convergência Democrática da Catalunha (CDC) de Artur Mas, garantem que não contemplam sequer a possibilidade de não ser o ainda líder da Generalitat a ser reconduzido no cargo.

 

Neste momento só o futuro poderá ditar se as forças independentistas avançarão mesmo com um processo tendente à secessão face a Madrid. E antecipando-se que os soberanistas continuarão os seus intentos tendo em vista a independência da Catalunha, tal como confirmado ainda durante a noite eleitoral de ontem, é difícil prever em que moldes o farão.

 

Grande parte das esperanças soberanistas está depositada nas eleições gerais de Novembro. A previsão de que o próximo Governo seja minoritário e que o Parlamento nacional se caracterize por um forte polarização partidária é encarada pelos independentistas catalães como uma oportunidade para garantir mais cedências por parte de Madrid. Para já, o actual Governo central liderado pelo primeiro-ministro conservador, Mariano Rajoy, está disponível para dialogar e cooperar com o futuro Governo regional catalão, desde que segundo a lei. Lei essa que impede qualquer intento soberanista.

 

Assim, as eleições autonómicas deste domingo terão servido, essencialmente, para recolocar na agenda a questão independentista da Catalunha e para reacender as disputas internas sobre a quem cabe o protagonismo.

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