Notícia
Yes she May
O número 10 de Downing Street tem novo inquilino. Theresa May chega com a incumbência de tirar o Reino Unido da União Europeia. Garante que o fará. Quem a conhece também garante que ela conseguirá.
Em 1975, Margaret Thatcher apareceu na campanha a favor da permanência do Reino Unido na então Comunidade Económica Europeia no referendo realizado pelo país nesse ano. Era, então, líder da oposição. Os trabalhistas estavam no poder. 41 anos depois... o Reino Unido realiza novo referendo sobre a sua existência enquanto Estado-membro da entretanto convertida União Europeia. Theresa May, ministra do Interior, aparece, timidamente, na campanha pelo "Remain". Mas ambas mantêm um olhar de desconfiança sobre a Europa.
Thatcher acabou, até, por ficar para a História como uma das opositoras da moeda única, com críticas fortes à criação do Banco Central Europeu, que seria, considerou, um caminho para o federalismo europeu. O que Thatcher não queria. May não é, também, das mais fervorosas apoiantes de uma maior integração europeia, nomeadamente a sua expansão. É por isso que muitos analistas a consideram, de alguma forma, afastada do que pode ser o caminho da União. Para já, será ela o rosto do Brexit. Fez campanha pelo "in", mas é a chefe de Governo - nomeada na passada quarta-feira, 13 de Julho - que vai ficar colada ao "out". Deixou já bem claro que "Brexit significa Brexit" e que não fará novo referendo, como muitos pedem. E é pessoa para isso.
É referida como determinada, persistente e mesmo teimosa. Ao que os amigos acrescentam honesta e de confiança. Não estará muito longe do que se dizia de Thatcher, a primeira mulher a alcançar a liderança do governo no Reino Unido. Theresa May queria esse lugar na História para si. O seu amigo, dos tempos de Oxford, Pat Frankland, garantiu isso mesmo ao The Guardian. May queria ser a primeira mulher a entrar pela porta grande do número 10 de Downing Street e ficou "irritada" (palavra de Frankland) quando Thatcher a bateu. Thatcher chegou ao poder em 1979, tinha 53 anos. Theresa May chega 26 anos depois, aos 59 anos.
Quando Thatcher chegou a Downing Street, Theresa May estava no Banco de Inglaterra, aquele que Thatcher defendeu das "garras" do Banco Central Europeu. Num debate parlamentar, em 1990, cheio de humor britânico, como habitual nesses debates, até houve um deputado trabalhista (Dennis Skinner) que brincou dizendo que Thatcher iria ser a futura governadora do banco europeu. A Dama de Ferro não se conteve. Desmanchou-se (literalmente) a rir e, também ironizando, acabou a dizer: "Que boa ideia!", mas aproveitou a deixa para as suas críticas: "O objectivo de um banco central europeu é não haver democracia, tirar os poderes de cada parlamento [nacional], e poder ter a moeda única, e ter uma política monetária e de taxas de juro que nos tira os poderes políticos."
O Reino Unido foi-se opondo à moeda única. Nunca a integrou e agora será mesmo o primeiro país a sair da União Europeia. Theresa May é quem o vai fazer. Fez campanha pelo "Remain", mas sempre considerou que a migração tinha de ter controlo e interrogou mesmo, antes de chegar à liderança dos "tories", "será certo a União Europeia continuar a expandir-se, conferindo a cada novo Estado integrante todos os direitos de membro?", para de seguida acrescentar que deixar a União Europeia pode travar o desenvolvimento do mercado único, levar à perda de investidores, fazer o país retroceder a nível de comércio internacional e ameaçar o Reino Unido. Agora, já como líder conservadora e primeira-ministra, assume como uma missão sua a união do Reino, que ficou dividido com o referendo sobre a permanência na União. Escócia e Irlanda do Norte votaram a favor, Gales e Inglaterra escolheram sair e venceram.
Diz ser sua missão unir o país. Lembra, agora, que o seu partido se chamava Conservador e Unionista. Pede para se lembrarem desta última parte. Para já, conseguiu unir o partido à sua volta e até levou opositores à liderança para dentro do Governo. O mais controverso? Boris Johnson.
Boris terá de pedir desculpas?
Aquele homem, loiro, bonacheirão, que foi presidente da Câmara de Londres foi o rosto do Brexit. Mas acabou por se afastar da corrida à liderança do partido conservador. Não sentia que fosse a pessoa certa para o cargo. Disse-o poucas horas depois de Michael Gove - que com ele cerrou fileiras pelo movimento de campanha da saída - se ter antecipado e assumido a candidatura à liderança do partido. No final ganhou Theresa May, que despediu Gove de ministro da Justiça e convidou Boris para os Negócios Estrangeiros.
E, assim que foi para ministro, a pergunta da Sky News era inevitável: "Vai ter de pedir desculpas a alguém?" Boris Johnson tem um rol de conteúdos na internet com apelidadas gafes, algumas parecendo menos ingénuas. Durante a visita de Barack Obama ao Reino Unido, em plena campanha do referendo, o Presidente dos Estados Unidos apelou ao "sim" pela permanência. A resposta de Johnson não se fez esperar, sugerindo ressentimento anti-imperialismo britânico devido à ascendência queniana de Obama.
A escolha de Johnson para chefe da diplomacia suscitou várias reacções a nível internacional. Uns riram-se de forma irónica, outros foram mais agressivos. O agora homólogo francês não teve papas na língua: é um mentiroso.
O ditado "não importa que falem mal, o importante é que falem" parece encaixar como uma luva em Boris Johnson. Não terá directamente o papel de negociar a saída do Reino Unido da União, embora como chefe da diplomacia não possa ser afastado do processo. E na próxima semana já estará em Bruxelas no conselho dos ministros dos Negócios Estrangeiros. Boris conhece bem Bruxelas. Quando era jornalista, foi lá correspondente.
Ainda assim, o papel (principal?) de preparar a saída caberá a David Davis, outro "leaver", que é advogado e que, logo após a nomeação, os jornais britânicos se apressaram a lembrar que tem um processo contra o Estado britânico num tribunal europeu, a propósito de uma lei originada pelo Ministério do Interior de Theresa May...
Unionista, diz May que, de uma assentada, afastou de possíveis intrigas palacianas Boris Johnson, Liam Fox (outro "leaver" que se candidatou ao partido e que acabou ministro de May) e até Andrea Leadsom, que desistiu à última da corrida depois de uma polémica que lhe atribuiu palavras de como seria melhor primeira-ministra por ser mãe, ao contrário de Theresa May (por questões de saúde, não o foi). A desistência de Leadsom foi a via verde que permitiu a May receber da rainha Isabel II a nomeação para chefe do Governo já em Julho, não tendo de esperar por Setembro, quando ficariam concluídas as eleições no partido conservador. Chega a Downing Street sem eleições e tem afastado a possibilidade de as convocar.
Negoceia com Merkel, mas olha para Hillary
Sempre quis ser primeira-ministra. É nesse papel que agora terá a palavra decisiva. Muitos consideram-na uma negociadora nata e intransigente. Diz querer o melhor acordo para o Reino Unido com a União Europeia, mas quer que o seu país tenha um papel relevante no mundo. Thatcher também jogou o que tinha e o que não tinha no espaço internacional e ficará ligada à "luta" contra o bloco de Leste e contra o comunismo. Foi, aliás, essa batalha que lhe valeu o epíteto de Dama de Ferro, em 1976, por um jornal soviético. Nesse ano, Theresa May estava a terminar o curso de Geografia. No continente europeu, Angela Merkel, que vivia na Alemanha Oriental, estudava Física em Leipzig. Falava, segundo algumas biografias, fluentemente russo.
Merkel nasceu na Alemanha Ocidental, mas com poucos anos de idade a família mudou-se para o outro lado do muro. Theresa May e Angela Merkel são da mesma geração. Têm até alguns pensamentos concordantes. E são, hoje, duas das pessoas mais poderosas a nível mundial. Terão agora de se sentar à mesma mesa para negociarem a saída dos britânicos da União Europeia. Theresa May estará já a pensar noutra poderosa... Hillary Clinton. Se as eleições de Novembro lhe derem a vitória, Clinton pode ter um papel de balança nas negociações. Pode equilibrar ou desequilibrar. Boris Johnson, nascido nos Estados Unidos (em Nova Iorque), não recebe simpatias do outro lado do Atlântico. Theresa May dará a cara pelas negociações do Reino com os históricos aliados norte-americanos. O acordo entre os dois países poderá ditar o compasso das negociações na Europa.
Hillary Clinton é quase 10 anos mais velha. Vai fazer 69 anos (May fará 60 em Outubro). Em 1976, já era procuradora nos Estados Unidos. Já era casada com Bill Clinton, que ascendia na sua carreira política. Um caminho que o levou à Presidência dos Estados Unidos, cargo que em Novembro poderá ser ocupado por Hillary que ainda tem de superar o obstáculo Donald Trump. Também eles jogaram no referendo. Hillary, que chegou a apelar ao "sim", diz não ter percebido o voto final. Trump chegou à Escócia no dia seguinte ao referendo, para dizer que tinha sido "uma grande coisa. [Os britânicos] recuperaram o seu país."
Marido está no fundo accionista da EDP e que esteve na PT
Hillary, já se sabe, é casada com Bill Clinton. Um casal que sabe o que é o poder. Já Merkel e May têm maridos discretos. "Low-profile." Que tentam ficar na sombra. Philip John, marido de May, vai para Downing Street sabendo que a sua vida vai ser escrutinada. A sua carreira foi passada na banca de investimentos, sendo agora um dos altos quadros do Capital Group, um fundo de investimento que detém 16,97% da EDP e que era um dos mais antigos accionistas da PT (a antiga), e dos mais relevantes. E até chegou a ser accionista do BES. E também já esteve na Galp. É um fundo que tem 1,4 biliões de dólares em activos e que, como prontamente os jornais ingleses noticiaram, investe em empresas como a Amazon ou a Starbucks, que são referidas algumas vezes como companhias peritas em evasão fiscal.
Philip John trabalha num mundo ao qual Theresa May já foi apontando o dedo. As grandes corporações. May quer, enquanto primeira-ministra, mudar o governo das sociedades. Quer trabalhadores representados no conselho de administração - à semelhança do sistema alemão - e quer que as remunerações dos gestores sejam decididas pelos accionistas de forma obrigatória.
Já disse que não vai governar para os poderosos, privilegiados, ou ricos. Vai governar para os normais trabalhadores que todos os dias têm de ir à luta. Falou de justiça social no seu primeiro discurso como primeira-ministra. Theresa May não é de uma classe alta, mas não se pode dizer que seja de um Estado pobre. Nasceu em Eastbourne, mas foi criada em Oxfordshire, que alberga a Universidade de Oxford, onde estudou. É, pois, uma mulher do Sul de Inglaterra, mas é no Norte que estão as comunidades mais desfavorecidas e que foram, até, os garantes da vitória do Brexit. O pai era um pastor anglicano. O que, aliás, valeu vários textos na imprensa internacional sobre as filhas dos pais religiosos. Merkel também é. A educação religiosa forma caracteres? Alguma coisa o fará, dizem, dadas as semelhanças entre May e Merkel. Implacáveis, disciplinadas, estudiosas, com sentido de serviço público. Há também quem associe o carácter de Theresa May ao facto de ter perdido os pais cedo (tinha pouco mais de 20 anos). Obrigou-a a crescer depressa, sendo filha única.
Mas pouco fala de si e não são muitos os dados biográficos de Theresa May. É por isso que em todos os perfis surge o seu gosto pela moda, embora os seus gostos sejam questionados. É uma política "low-profile", pouco expansiva, mas numa coisa as máquinas fotográficas focam sempre a sua atenção quando May entra: nos sapatos... a colecção é grande. E gosta de Abba, sendo "Dancing Queen" uma das suas músicas de eleição.
Os amigos atribuem-lhe sentido de humor. Terá de ter para enfrentar o Parlamento. Até Thatcher acabava por se rir e fazer rir. A primeira-ministra britânica foi Thatcher. A Dama de Ferro foi Thatcher. Ficou na História. May, acabada de chegar a Downing Street, também terá o seu lugar marcado, se concretizar a saída do Reino da União. Mas, para isso, o país volta a precisar de uma nova Dama de Ferro.
Thatcher acabou, até, por ficar para a História como uma das opositoras da moeda única, com críticas fortes à criação do Banco Central Europeu, que seria, considerou, um caminho para o federalismo europeu. O que Thatcher não queria. May não é, também, das mais fervorosas apoiantes de uma maior integração europeia, nomeadamente a sua expansão. É por isso que muitos analistas a consideram, de alguma forma, afastada do que pode ser o caminho da União. Para já, será ela o rosto do Brexit. Fez campanha pelo "in", mas é a chefe de Governo - nomeada na passada quarta-feira, 13 de Julho - que vai ficar colada ao "out". Deixou já bem claro que "Brexit significa Brexit" e que não fará novo referendo, como muitos pedem. E é pessoa para isso.
Quando Thatcher chegou a Downing Street, Theresa May estava no Banco de Inglaterra, aquele que Thatcher defendeu das "garras" do Banco Central Europeu. Num debate parlamentar, em 1990, cheio de humor britânico, como habitual nesses debates, até houve um deputado trabalhista (Dennis Skinner) que brincou dizendo que Thatcher iria ser a futura governadora do banco europeu. A Dama de Ferro não se conteve. Desmanchou-se (literalmente) a rir e, também ironizando, acabou a dizer: "Que boa ideia!", mas aproveitou a deixa para as suas críticas: "O objectivo de um banco central europeu é não haver democracia, tirar os poderes de cada parlamento [nacional], e poder ter a moeda única, e ter uma política monetária e de taxas de juro que nos tira os poderes políticos."
O Reino Unido foi-se opondo à moeda única. Nunca a integrou e agora será mesmo o primeiro país a sair da União Europeia. Theresa May é quem o vai fazer. Fez campanha pelo "Remain", mas sempre considerou que a migração tinha de ter controlo e interrogou mesmo, antes de chegar à liderança dos "tories", "será certo a União Europeia continuar a expandir-se, conferindo a cada novo Estado integrante todos os direitos de membro?", para de seguida acrescentar que deixar a União Europeia pode travar o desenvolvimento do mercado único, levar à perda de investidores, fazer o país retroceder a nível de comércio internacional e ameaçar o Reino Unido. Agora, já como líder conservadora e primeira-ministra, assume como uma missão sua a união do Reino, que ficou dividido com o referendo sobre a permanência na União. Escócia e Irlanda do Norte votaram a favor, Gales e Inglaterra escolheram sair e venceram.
Diz ser sua missão unir o país. Lembra, agora, que o seu partido se chamava Conservador e Unionista. Pede para se lembrarem desta última parte. Para já, conseguiu unir o partido à sua volta e até levou opositores à liderança para dentro do Governo. O mais controverso? Boris Johnson.
Boris terá de pedir desculpas?
Aquele homem, loiro, bonacheirão, que foi presidente da Câmara de Londres foi o rosto do Brexit. Mas acabou por se afastar da corrida à liderança do partido conservador. Não sentia que fosse a pessoa certa para o cargo. Disse-o poucas horas depois de Michael Gove - que com ele cerrou fileiras pelo movimento de campanha da saída - se ter antecipado e assumido a candidatura à liderança do partido. No final ganhou Theresa May, que despediu Gove de ministro da Justiça e convidou Boris para os Negócios Estrangeiros.
E, assim que foi para ministro, a pergunta da Sky News era inevitável: "Vai ter de pedir desculpas a alguém?" Boris Johnson tem um rol de conteúdos na internet com apelidadas gafes, algumas parecendo menos ingénuas. Durante a visita de Barack Obama ao Reino Unido, em plena campanha do referendo, o Presidente dos Estados Unidos apelou ao "sim" pela permanência. A resposta de Johnson não se fez esperar, sugerindo ressentimento anti-imperialismo britânico devido à ascendência queniana de Obama.
A escolha de Johnson para chefe da diplomacia suscitou várias reacções a nível internacional. Uns riram-se de forma irónica, outros foram mais agressivos. O agora homólogo francês não teve papas na língua: é um mentiroso.
O ditado "não importa que falem mal, o importante é que falem" parece encaixar como uma luva em Boris Johnson. Não terá directamente o papel de negociar a saída do Reino Unido da União, embora como chefe da diplomacia não possa ser afastado do processo. E na próxima semana já estará em Bruxelas no conselho dos ministros dos Negócios Estrangeiros. Boris conhece bem Bruxelas. Quando era jornalista, foi lá correspondente.
Ainda assim, o papel (principal?) de preparar a saída caberá a David Davis, outro "leaver", que é advogado e que, logo após a nomeação, os jornais britânicos se apressaram a lembrar que tem um processo contra o Estado britânico num tribunal europeu, a propósito de uma lei originada pelo Ministério do Interior de Theresa May...
Unionista, diz May que, de uma assentada, afastou de possíveis intrigas palacianas Boris Johnson, Liam Fox (outro "leaver" que se candidatou ao partido e que acabou ministro de May) e até Andrea Leadsom, que desistiu à última da corrida depois de uma polémica que lhe atribuiu palavras de como seria melhor primeira-ministra por ser mãe, ao contrário de Theresa May (por questões de saúde, não o foi). A desistência de Leadsom foi a via verde que permitiu a May receber da rainha Isabel II a nomeação para chefe do Governo já em Julho, não tendo de esperar por Setembro, quando ficariam concluídas as eleições no partido conservador. Chega a Downing Street sem eleições e tem afastado a possibilidade de as convocar.
Negoceia com Merkel, mas olha para Hillary
Sempre quis ser primeira-ministra. É nesse papel que agora terá a palavra decisiva. Muitos consideram-na uma negociadora nata e intransigente. Diz querer o melhor acordo para o Reino Unido com a União Europeia, mas quer que o seu país tenha um papel relevante no mundo. Thatcher também jogou o que tinha e o que não tinha no espaço internacional e ficará ligada à "luta" contra o bloco de Leste e contra o comunismo. Foi, aliás, essa batalha que lhe valeu o epíteto de Dama de Ferro, em 1976, por um jornal soviético. Nesse ano, Theresa May estava a terminar o curso de Geografia. No continente europeu, Angela Merkel, que vivia na Alemanha Oriental, estudava Física em Leipzig. Falava, segundo algumas biografias, fluentemente russo.
Merkel nasceu na Alemanha Ocidental, mas com poucos anos de idade a família mudou-se para o outro lado do muro. Theresa May e Angela Merkel são da mesma geração. Têm até alguns pensamentos concordantes. E são, hoje, duas das pessoas mais poderosas a nível mundial. Terão agora de se sentar à mesma mesa para negociarem a saída dos britânicos da União Europeia. Theresa May estará já a pensar noutra poderosa... Hillary Clinton. Se as eleições de Novembro lhe derem a vitória, Clinton pode ter um papel de balança nas negociações. Pode equilibrar ou desequilibrar. Boris Johnson, nascido nos Estados Unidos (em Nova Iorque), não recebe simpatias do outro lado do Atlântico. Theresa May dará a cara pelas negociações do Reino com os históricos aliados norte-americanos. O acordo entre os dois países poderá ditar o compasso das negociações na Europa.
Hillary Clinton é quase 10 anos mais velha. Vai fazer 69 anos (May fará 60 em Outubro). Em 1976, já era procuradora nos Estados Unidos. Já era casada com Bill Clinton, que ascendia na sua carreira política. Um caminho que o levou à Presidência dos Estados Unidos, cargo que em Novembro poderá ser ocupado por Hillary que ainda tem de superar o obstáculo Donald Trump. Também eles jogaram no referendo. Hillary, que chegou a apelar ao "sim", diz não ter percebido o voto final. Trump chegou à Escócia no dia seguinte ao referendo, para dizer que tinha sido "uma grande coisa. [Os britânicos] recuperaram o seu país."
Marido está no fundo accionista da EDP e que esteve na PT
Hillary, já se sabe, é casada com Bill Clinton. Um casal que sabe o que é o poder. Já Merkel e May têm maridos discretos. "Low-profile." Que tentam ficar na sombra. Philip John, marido de May, vai para Downing Street sabendo que a sua vida vai ser escrutinada. A sua carreira foi passada na banca de investimentos, sendo agora um dos altos quadros do Capital Group, um fundo de investimento que detém 16,97% da EDP e que era um dos mais antigos accionistas da PT (a antiga), e dos mais relevantes. E até chegou a ser accionista do BES. E também já esteve na Galp. É um fundo que tem 1,4 biliões de dólares em activos e que, como prontamente os jornais ingleses noticiaram, investe em empresas como a Amazon ou a Starbucks, que são referidas algumas vezes como companhias peritas em evasão fiscal.
Philip John trabalha num mundo ao qual Theresa May já foi apontando o dedo. As grandes corporações. May quer, enquanto primeira-ministra, mudar o governo das sociedades. Quer trabalhadores representados no conselho de administração - à semelhança do sistema alemão - e quer que as remunerações dos gestores sejam decididas pelos accionistas de forma obrigatória.
Já disse que não vai governar para os poderosos, privilegiados, ou ricos. Vai governar para os normais trabalhadores que todos os dias têm de ir à luta. Falou de justiça social no seu primeiro discurso como primeira-ministra. Theresa May não é de uma classe alta, mas não se pode dizer que seja de um Estado pobre. Nasceu em Eastbourne, mas foi criada em Oxfordshire, que alberga a Universidade de Oxford, onde estudou. É, pois, uma mulher do Sul de Inglaterra, mas é no Norte que estão as comunidades mais desfavorecidas e que foram, até, os garantes da vitória do Brexit. O pai era um pastor anglicano. O que, aliás, valeu vários textos na imprensa internacional sobre as filhas dos pais religiosos. Merkel também é. A educação religiosa forma caracteres? Alguma coisa o fará, dizem, dadas as semelhanças entre May e Merkel. Implacáveis, disciplinadas, estudiosas, com sentido de serviço público. Há também quem associe o carácter de Theresa May ao facto de ter perdido os pais cedo (tinha pouco mais de 20 anos). Obrigou-a a crescer depressa, sendo filha única.
Mas pouco fala de si e não são muitos os dados biográficos de Theresa May. É por isso que em todos os perfis surge o seu gosto pela moda, embora os seus gostos sejam questionados. É uma política "low-profile", pouco expansiva, mas numa coisa as máquinas fotográficas focam sempre a sua atenção quando May entra: nos sapatos... a colecção é grande. E gosta de Abba, sendo "Dancing Queen" uma das suas músicas de eleição.
Os amigos atribuem-lhe sentido de humor. Terá de ter para enfrentar o Parlamento. Até Thatcher acabava por se rir e fazer rir. A primeira-ministra britânica foi Thatcher. A Dama de Ferro foi Thatcher. Ficou na História. May, acabada de chegar a Downing Street, também terá o seu lugar marcado, se concretizar a saída do Reino da União. Mas, para isso, o país volta a precisar de uma nova Dama de Ferro.