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Blatter demite-se e defende limitação de mandatos
O recém-reeleito presidente da FIFA, Joseph Blatter, anunciou esta terça-feira a demissão da presidência do organismo que tutela o futebol mundial. A decisão de Blatter surge ainda na ressaca da acusação a vários dirigentes e ex-dirigentes da FIFA por alegada prática de crimes de corrupção.
"O meu mandato não parece ser apoiado por toda a gente", "não sinto que tenha um mandato [em representação] de todo o mundo do futebol" admitiu Blatter, que logo depois anunciou que irá convocar, com carácter de urgência, um congresso extraordinário que permita eleger o seu sucessor. "Vou convocar um congresso extraordinário para me substituir enquanto presidente". Blatter explicou pretender que as eleições sejam realizadas o mais rapidamente possível, dizendo ainda que irá assumir a condução do organismo até que o seu sucessor seja encontrado.
O dirigente desportivo fez também uma declaração de amor à organização que preside: "Reflecti profundamente sobre a minha presidência e os últimos 40 anos da minha vida (…), aprecio e amo a FIFA mais do que qualquer outra coisa". E afirmou que com esta demissão "estarei numa posição que me permitirá focar em reformas profundas" ao funcionamento da FIFA.
No entender de Joseph Blatter é agora chegado o momento de alterar aquilo que há muito devia ter sido mudado na estrutura e funcionamento da FIFA. "A FIFA precisa de uma profunda reforma", proclamou, para de segida avançar com duas das medidas que considera fundamentais:"A dimensão do comité executivo tem de ser reduzida e os seus membros devem ser eleitos através do congresso da FIFA. Precisamos de impor limites aos mandatos, não apenas do presidente mas de todos os membros do comité executivo".
Ao fim de 17 anos à frente da FIFA, depois de ter substituído, em 1998, o anterior presidente do organismo, o brasileiro João Havelange, Blatter anunciou a demissão somente quatro dias depois de ter sido reeleito para um quinto mandato. Paradoxalmente, depois de ter contrariado os vários pedidos para não se recandidatar à presidência do organismo, Blatter garantiu esta terça-feira ter "lutado por estas mudanças ao longo destes anos, mas, como toda a gente sabe, os meus esforços foram contrariados".
Blatter anunciou ainda que estas medidas serão introduzidas sob a supervisão de Domenico Scala. "Tal como o presidente declarou, estas reformas vão incluir mudanças fundamentais à forma como a organização está estruturada", adiantou Scala.
A polémica reeleição de Blatter concretizou-se na passada sexta-feira já depois de o seu adversário, o príncipe jordano Ali bin Al Hussein, terceiro filho do rei Hussein da Jordânia, ter retirado a sua candidatura logo após a conclusão da primeira volta das eleições. A polémica em torno do processo eleitoral que chegou a contar com a candidatura de Luís Figo, que acabaria por desistir, agudizou-se depois de na quarta-feira passada, 27 de Maio, 14 dirigentes e ex-dirigentes da FIFA terem sido acusados de crimes de extorsão, constituição de redes fraudulentas e lavagem de dinheiro. Num conjunto de acusações que se referem ainda a negócios de transmissão televisiva de jogos de futebol.
As autoridades norte-americanas e suíças revelaram ter intenções de investigar o dirigente suíço, sendo que as autoridades helvéticasproibiramBlatter de se ausentar da Suíça. Todavia, as informações sobre a situaçãodeBlatter são díspares. De um lado, as autoridades suíças asseguram que o dirigente desportivo não está, neste momento, sob investigação. E acrescentam que a demissão não terá qualquer influência no desenrolar do processo de investigação em curso.
Por outro lado, a agência Reuters adianta que esta terça-feira a investigação esbarrou no nome de Blatter, já depois de a FIFA ter negado que o secretário-geral do organismo, Jerome Valcke, estivesse envolvido nas transferências bancárias de 10 milhões de dólares para contas controladas por Jack Warner, nome que esteve na origem das investigações das autoridades norte-americanas que espoletaram o escândalo de corrupção na FIFA.
Também esta terça-feira foi publicada uma carta da federação de futebol sul-africana, endereçada a Jerome Valcke, que confirma a referida transacção, nota a Reuters. O jornal espanhol AS noticiou entretanto que antes de decidir demitir-se, Blatter teria sido confrontado com alegadas provas de corrupção.
Demissão de Blatter bem recebida
Um dos primeiros a reagir a esta demissão foi o presidente da UEFA, Michel Platini. O ex-futebolista francês reconheceu tratar-se de "uma decisão difícil, uma decisão corajosa e acertada". Platini já tinha defendido a não recandidatura do dirigente suíço e na passada quinta-feira, no incío do congresso de dois dias da FIFA, disse directamente a Blatter para se demitir.
Mais efusiva foi a reacção do presidente da federação de futebol inglesa, Greg Dyke, que viu nesta demissão motivos para "celebrar". Demissão que no entender de Dyke nada tem que ver com questões de honorabilidade, porque Blatter "não vinha sendo honrado há anos".
O presidente da federação de futebol alemã, Wolfgang Nierbach, alinhou pelo mesmo diapasão e classificou a demissão de Blatter como "uma decisão correcta" que apenas peca por "tardia".
Numa declaração publicado na sua página oficial de Facebook, Figo disse que este é "um dia bom para FIFA e para o futebol". "A mudança está finalmente a chegar (...) devemos agora, de forma responsável e serena, procurar uma solução consensual em todo o mundo para que comece uma nova era de dinamismo, transparência e democracia na FIFA".
Já o príncipe Ali bin Al Hussein anunciou que será candidato nas próximas eleições para a presidência da FIFA.
(Notícia actualizada às 18h48)