A segunda vez
Mesmo envolto em processos judiciais e com responsabilidades no ataque ao Capitólio, ocorrido a 6 de janeiro de 2021, Donald Trump voltou a ser o candidato presidencial dos republicanos e derrotou de forma inequívoca a democrata Kamala Harris.
O furacão Trump "varreu" Kamala Harris e conquistou a Casa Branca. A vitória nas eleições presidenciais norte-americanas de 5 de novembro foi concludente e vai transfomar a imprevisibilidade num novo normal à escala mundial.
Donald Trump ainda não tomou posse e já está a mudar o xadrez geoestratégico. Apesar de só se tornar no próximo presidente dos EUA a 20 de janeiro, a sua eleição mexeu de imediato com os mercados. E não só. O republicano de 78 anos rapidamente acenou com a imposição de tarifas alfandegárias adicionais sobre os produtos importados de vários países, como a China, e a lembrança da guerra comercial com Pequim no seu primeiro mandato deixou os mercados receosos – mas apenas numa primeira reação a quente, já que o conhecido "cheerleader" de Wall Street tem trazido boas perspetivas a muitas classes de ativos, como as ações e as criptomoedas.
Foi a 25 de novembro que Trump anunciou que pretendia impor tarifas adicionais de 10% sobre a importação de produtos chineses e de 25% sobre bens provenientes do México e do Canadá. Mas muitos observadores dizem que pode estar apenas a usar uma tática de dissuasão, já que esta medida se deve à imigração ilegal e ao tráfico de drogas provenientes daqueles países. Por isso, os receios de uma guerra comercial mais alargada não estão, para já, em cima da mesa. Ainda assim, a sua ameaça mais recente - impor "tarifas em toda a linha" aos produtos europeus se a União Europeia não reduzir o "gigantesco" excedente comercial com os EUA - trouxe novos temores.
E Trump, que foi o primeiro presidente eleito não consecutivamente nos Estados Unidos, tem "disparado" em muitas outras frentes. Quer colocar um ponto final na guerra entre a Rússia e a Ucrânia e está a pressionar o Hamas para que liberte, até à sua tomada de posse, os israelitas que tomou como reféns no ataque de 7 de outubro de 2023 – ameaçando com "sérias consequências" se isso não acontecer. E além de algumas nomeações que fez para a sua Administração terem também provocado polémica, tem continuado a avançar com ideias inesperadas, como tornar o Canadá no 51.º estado norte-americano ou acabar com o limite ao endividamento federal – o chamado "debt ceiling".
A China, já a precaver-se para potenciais novas tarifas da era Trump, anunciou entretanto que pretende adotar mais medidas de estímulo monetário e orçamental em 2025. Foi a primeira vez nos últimos 14 anos que definiu uma alteração na sua política monetária.
E, noutros planos, há estratégias que podem também ajudar se houver tarifas adicionais dos EUA. É o caso da UE e dos países do Mercosul, que chegaram a um acordo político para aquele que será o maior acordo comercial e de investimento do mundo, servindo um mercado de 700 milhões de consumidores, no âmbito do reforço da cooperação geopolítica, económica, de sustentabilidade e de segurança.
Tudo está em aberto, mas uma coisa parece certa: o novo presidente dos EUA já está a levar à redefinição de estratégias comerciais, políticas, económicas em grande parte do mundo.