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Medicamentos, combustíveis e sementes: o que compra e vende Portugal aos Estados Unidos
Mercado norte-americano é um dos grandes destinos das exportações nacionais. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos estão no top 10 de fornecedores nacionais. Mas as tarifas de Trump podem ditar constrangimentos. Saiba o que compra e vende Portugal para lá.
As exportações para os Estados Unidos representam cerca de 6% do total exportado por Portugal em bens e serviços. Até novembro, Portugal exportou 122,6 mil milhões de euros e, desses, 9,4 mil milhões tiveram como destino o mercado norte-americano. Mas afinal o que vende Portugal aos Estados Unidos e como é que as tarifas anunciadas por Donald Trump pode prejudicar essas vendas?
Comecemos pelos bens. Os Estados Unidos são o principal destino das exportações portuguesas de bens fora da União Europeia (UE) e o quarto principal destino considerando todos os mercados. Até novembro, Portugal exportou um total de 4,9 mil milhões de euros em bens para o outro lado do Atlântico. O valor compara com 4,5 mil milhões registados em igual período do ano passado, o que se traduz num aumento de 8,9%.
Aliás, foi para os Estados Unidos que as exportações portuguesas de bens cresceram de uma forma mais significativa entre os 10 maiores clientes nacionais, ficando apenas atrás da Alemanha cujas exportações cresceram 19,5%. Essa subida surge em vésperas do regresso de Donald Trump à Casa Branca, com uma agenda mais protecionista que faz antever constrangimentos nas relações comerciais entre Washington e a UE.
É sobretudo sobre as trocas comerciais de bens que incidem as tarifas pré-anunciadas por Donald Trump. Durante a campanha, o republicano prometeu avançar com uma tarifa universal de 10% sobre todas as importações dos Estados Unidos. A medida deverá penalizar as exportações europeias, incluindo as portuguesas, ao torná-las mais caras para os consumidores norte-americanos e incentivando-os a comprarem outros produtos.
Dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) ao Negócios revelam que os produtos mais vendidos aos Estados Unidos são medicamentos. Até novembro, foram exportados 1,1 mil milhões de euros em medicamentos para Washington. Os combustíveis minerais e a borracha completam o pódio dos bens mais exportados, com um total de 999,7 milhões e 339 milhões vendidos, respetivamente, nos primeiros 11 meses de 2024.
Produtos como ferro, cortiça, vestuário e calçado fazem também parte da lista de bens mais vendidos para os Estados Unidos. O maior aumento face ao ano anterior deu-se, no entanto, na venda de flores, que aumentou nove vezes mais para 176,5 milhões de euros até novembro.
Já no que toca aos serviços, Portugal exportou 5,4 mil milhões de euros para os Estados Unidos até novembro, segundo os dados divulgados na sexta-feira pelo Banco de Portugal (BdP). O valor compara com 4,9 milhões observados em igual período de 2023. Desses 5,4 mil milhões nos 11 primeiros meses de 2024, mais de 45% dizem respeito a exportações de viagens e turismo (2,3 mil milhões de euros).
Além de viagens e turismo, Portugal exporta também para os Estados Unidos outros serviços, como serviços de transporte (1,2 mil milhões até novembro) e telecomunicações, informática e informação (335 milhões).
Balança excedentária para Portugal
A balança comercial de bens e serviços face aos Estados Unidos tem sido sempre positiva para Portugal desde que há registo – ou seja, desde 1996 – e tornou-se ainda mais positiva desde a pandemia. Os dados do BdP revelam que, até novembro, Portugal acumulou um excedente de 6 mil milhões de euros em trocas comerciais com Washington. Em 2023, o excedente acumulado foi de 5,5 mil milhões.
Então e o que compra Portugal aos Estados Unidos? Em termos de bens, o produto mais comprado pelos portugueses aos norte-americanos são combustíveis. Até novembro, Portugal pagou um total de 1,2 mil milhões de euros em combustíveis minerais e derivados, segundo os dados do INE. A compra de combustíveis aos Estados Unidos acentuou-se sobretudo desde a guerra na Ucrânia. Em comparação com o ano anterior, verificou-se um acréscimo de 4,9% no total comprado em termos homólogos até novembro.
Com uma grande margem de diferença, as máquinas e equipamentos eletrónicos surgem em segundo lugar na lista de principais bens importados dos Estados Unidos. Até novembro, foram importados bens desse género no valor total de 114 milhões de euros, mais 37,5% face a 2023. A completar o top 3, estão sementes, plantas e frutos diversos, cujas importações aumentaram 9,8% para 99 milhões até novembro.
Ao todo, Portugal importou 2,2 mil milhões de euros em bens dos Estados Unidos até novembro. Ao contrário do que acontece nas exportações, os Estados Unidos não são o principal fornecedor nacional extra-UE. O país aparece em nono lugar na tabela geral e atrás da China (4,7 mil milhões até novembro) e do Brasil (3,3 mil milhões) quando analisados apenas os países fora da UE.
Já no que toca aos serviços, Portugal importou, até novembro, 1,5 mil milhões dos Estados Unidos. Os serviços de transporte lideram a lista de importações nesta área, com um total de 401 milhões pagos até novembro. Seguem-se viagens e turismo (216 milhões) e telecomunicações, informática e informação (96 milhões).