"É tempo de retribuir". Foi assim que Miguel Maya, CEO do BCP, anunciou em outubro que queria reforçar os dividendos. O líder do maior banco privado (e único na bolsa de Lisboa) já tinha apontado para um aumento da remuneração dos acionistas, mas desta vez definia uma meta ainda maior: 75% dos lucros vão ser distribuídos em 2028. E justificou a decisão: "a melhor proteção do banco é ter acionistas satisfeitos, quer os grandes quer os pequenos".
O objetivo é atingir um resultado líquido acumulado de 4 a 4,5 mil milhões de euros entre 2025 e 2028 – numa média anual superior a mil milhões – e devolvendo três quartos desse valor em dividendos. O "payout" é muito superior ao atual, que está em 30% e será de 50% no próximo ano - e, para isso, o banco vai lançar um programa de recompra de ações no valor de um quarto do lucro que obtiver em 2024.
Até setembro, o BCP lucrou 714,1 milhões de euros (mais 9,7% do que no período homólogo), o que Miguel Maya considerou mostrar uma "fortíssima capacidade de geração orgânica de capital". Contudo, pela primeira vez nos últimos trimestres, a margem financeira caiu, ainda que de forma marginal: menos 0,3%.
A evolução resulta do impacto da descida dos juros do Banco Central Europeu (BCE) e é mesmo o maior desafio que os analistas antecipam para o BCP, dado que se espera que as reduções das taxas de referência na Zona Euro continuem a cair em 2025, com impacto para a remuneração que os bancos recebem dos créditos. As comissões ajudam a amortizar este efeito, tal como o crescimento do negócio na Polónia, onde o declínio das provisões relacionadas com créditos em francos suíços deverá apoiar os resultados e tornar esta geografia um contribuinte para os lucros do grupo a partir do próximo ano.
De forma geral, o plano estratégico é assim visto como "ambicioso", mas também como possível de realizar e seguiram-se sucessivas revisões em alta dos preços-alvo para a ação. O consenso dos analistas que cobrem os títulos aponta para um potencial de valorização de 24,17%, para 0,56 euros por ação, em relação aos 0,4510 euros em que fechou na última sessão antes do Natal.
E os investidores deram força a essa confiança. Seguindo-se a um 2023 em que valorizou 87,43%, este ano volta a ser positivo para o BCP. Com um ganho superior a 60%, é a cotada que mais valoriza no principal índice da bolsa de Lisboa e a capitalização bolsista cresceu 2,5 mil milhões de euros, situando-se atualmente na ordem dos 6,8 mil milhões. O banco, a par da Galp, está, aliás, a ser novamente um dos motores do PSI, que está abaixo da linha de água no acumulado do ano, penalizado pela família EDP.