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Centeno alerta para “efeito sistémico” se a Caixa comprar o Novo Banco
O governador do Banco de Portugal mostra-se favorável a uma Oferta Pública Inicial do Novo Banco e pede cautela quanto a aquisições ou a uma consolidação do setor bancário nacional.
Uma compra do Novo Banco pela Caixa Geral de Depósitos pode trazer consequências sistémicas para o sistema financeiro, avisa o Governador do Banco de Portugal (BdP).
"A Caixa é um banco muito importante, mas isso também traz responsabilidades. É uma decisão de negócio com consequências sistémicas que devem ser analisadas", afirma Mário Centeno em entrevista à Reuters.
Por outro lado, o responsável do banco central mostra-se favorável a uma Oferta Pública Inicial (IPO, na sigla inglesa), considerando que essa opção seria benéfica para o sistema financeiro nacional.
"Uma Oferta Pública Inicial seria um bom desfecho para a competitividade do setor bancário português", afirmou, enaltecendo que a entrada em bolsa do quarto maior banco nacional seria positiva porque só existe uma instituição financeira cotada – o BCP.
Governador do Banco de Portugal
"A consolidação é um tema que o mercado decidirá", comentou, apelando aos agentes do setor que sejam "cautelosos e cuidadosos" de forma a não colocar em causa os resultados que o sistema financeiro atingiu nos últimos anos em termos de capital e liquidez.
O líder do banco central alerta que "a estabilidade do setor exige que os agentes que nele operam também precisam de estar estáveis" e recordou sem especificar que no passado, várias tentativas de fusão e aquisição falharam, facto que não é desejável que se repita. Em 2006 o país assistiu a uma das mais mediáticas, a tentativa – falhada - de OPA do BCP sobre o BPI.
Ao fim de mais de dez anos de vida – e mais de sete desde que foi vendido ao fundo norte-americano Lone Star - o Novo Banco prepara uma nova fase da sua vida depois de uma restruturação dura que implicou uma redução do número de trabalhadores e balcões, a venda de operações internacionais e a alienação de ativos problemáticos, sobretudo imobiliário e crédito malparado que herdou do antigo Banco Espírito Santo.
Governador do Banco de Portugal
O cenário central do banco é uma dispersão do capital em bolsa – a Lone star quer vender até 30% - mas uma venda direta nunca foi posta de parte.
Até agora, nenhum dos principais concorrentes mostrou uma vontade clara e objetiva de avançar. E apenas o Caixabank, dono do BPI, afirmou em janeiro que está fora da corrida, garantia que duraria pouco tempo: na semana passada o Jornal Económico avançou que o Caixabank tinha destacado uma equipa interna para avaliar o Novo Banco, assim como o BCP e a Caixa Geral de Depósitos.
Taxas de juro do BCE devem continuar a descer
Na mesma entrevista, Mário Centeno afirmou que o Banco Central Europeu poderá ter de cortar as taxas de juro abaixo dos níveis neutrais para estimular o crescimento económico do bloco, agora pressionado pela ameaça de tarifas alfandegárias dos EUA.
"Precisamos de manter a trajetória de queda das taxas de juro", acrescentou, para que a taxa de inflação atinja os 2% "mais cedo do que mais tarde". O líder do Banco de Portugal acredita ainda que a economia do bloco não é suficientemente forte para sustentar a inflação em 2%.