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Porque está Guam na mira da Coreia do Norte?

A pequena ilha no meio do Pacífico, que nas últimas horas virou potencial alvo de Pyongyang, não só está ao alcance dos mísseis desenvolvidos pela Coreia do Norte como tem associado um lado simbólico. Faz esta quinta-feira 73 anos que os EUA recuperaram o território.

Reuters
09 de Agosto de 2017 às 12:22
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A troca de declarações incendiadas entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, que ameaçam ataques mútuos e retaliações sempre com o poderio nuclear debaixo de olho, colocaram nas últimas horas a ilha de Guam no centro das atenções, depois de Pyongyang anunciar que está a ponderar um ataque com mísseis àquela ilha no Pacífico ocidental.

"A força estratégica do Exército Popular da Coreia está agora a examinar cuidadosamente o plano operacional para um cerco às áreas em torno de Guam com mísseis balísticos estratégicos de médio a longo alcance Hwasong-12 para travar as principais bases militares em Guam."

A frase, deixada esta madrugada por porta-vozes do regime norte-coreano na televisão, coloca finalmente um dedo em cima do alvo, depois de meses de tensão: a ilha com pouco mais de 500 quilómetros quadrados de onde têm partido os mais recentes esforços de apoio dos EUA à Coreia do Sul em respostas aos testes de mísseis por parte da Coreia do Norte.

Ainda na segunda-feira, foi dali que saíram dois bombardeiros norte-americanos B-1 como parte da "presença contínua" na península coreana, para participar em exercícios conjuntos com a Coreia do Sul e do Japão, entendidas como ameaça pelo regime liderado por Kim Jong-un.

Mas porquê Guam? Além de ser base para o apoio a Seul e de estar dentro do alcance dos mísseis desenvolvidos por Pyongyang - uma distância de cerca de 3.400 quilómetros da península da Coreia, quando os Hwasong-12, testados em Maio passado, podem potencialmente percorrer 4.500 quilómetros –, a ilha tem também um peso simbólico para os Estados Unidos, ligado a um episódio fulcral da II Guerra Mundial.

Parte do arquipélago das Marianas - ilhas descobertas pelo português Fernão de Magalhães em 1521 - Guam foi reclamada por Espanha em 1565 e as Marianas colonizadas a partir de 1668. Em 1898, na sequência da guerra Hispano-Americana, foi incorporada como território norte-americano.

Mas é cerca de meio século mais tarde que entra no imaginário da história contemporânea dos EUA: na semana que marcou a entrada dos Estados Unidos na II Guerra Mundial, as forças japonesas tomaram a ilha em Dezembro de 1941, três dias depois do ataque a Pearl Harbor. Daí o peso simbólico, pelo paralelismo que estabelece com o ataque-surpresa das forças nipónicas a domínios norte-americanos.

Recuperada aos japoneses no Verão de 1944 – faz esta quinta-feira, 10 de Agosto, 73 anos -, foi em 1950 tornada território norte-americano, com os EUA a deterem um terço da ilha, onde a Sul está instalada uma base naval (Santa Rita) e uma da guarda costeira, enquanto a Norte se situa a base aérea de Andersen em Yigo, esta usada durante a guerra do Vietname.

Os seis mil militares que vivem em Guam dão à ilha de 162.000 habitantes um contributo económico importante sendo a presença militar, a par do turismo, uma das principais fontes geradoras de riqueza.

Residentes em Guam receosos

A ilha de Guam está protegida pelo sistema THAAD (sistema anti-míssil de defesa de elevada altitude), capaz de abater mísseis balísticos. Este sistema, que está também instalado na Coreia do Sul, consegue interceptar mísseis a altitudes entre os 40 e os 150 quilómetros e com um alcance de até 200 quilómetros.

Depois de detectada a ameaça via radar, o alvo é identificado e bloqueado, o projéctil interceptor é disparado e destrói, em voo, o míssil que ameaça a localização em causa.

Apesar de o governador da ilha, Eddie Calvo, ter descartado a possibilidade de um ataque, salvaguardando que o território está preparado para qualquer eventualidade, os residentes na ilha dizem-se receosos.

"Estou um pouco preocupado, um pouco em pânico. Isto vai mesmo acontecer? (…) Se for só comigo, não me preocupa, mas tenho de me preocupar com o meu filho. Apetece-me sair de Guam agora," disse Cecil Chugrad, um motorista de autocarro de 37 anos, à Associated Press.

"Se acontecer alguma coisa, temos todos de estar preparados e rezar a Deus para que nada aconteça. (…) Toda a gente está com medo, porque estão a lidar com poderes que estão para lá de nós," disse Daisy Mendiola à mesma agência.

Ainda esta quarta-feira, no Twitter, o comando da Força Aérea norte-americana no Pacífico, sediada no Hawaii, disse estar pronto para qualquer eventualidade, com a chegada de pilotos a Guam para conduzir missões bilaterais com o Japão e a Coreia do Sul.

"Prontos para combater esta noite," lê-se na mensagem, que se refere à chegada dos dois bombardeiros B-1, depois de uma missão de dez horas que incluiu a península da Coreia. Os bombardeiros dos EUA estão presentes em permanência na região Indo-Ásia-Pacífico desde 2004.


Palavras que secundam o que já tinha sido afirmado, também esta terça-feira, por Donald Trump. O presidente norte-americano prometeu responder com "fúria e fogo" às ameaças de Pyongyang.

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