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O que poderá implicar uma guerra entre a Coreia do Norte e os EUA

Com a janela a fechar-se para os EUA conseguirem impedir Kim Jong-un de conseguir obter um míssil nuclear intercontinental, os observadores da Coreia do Norte começam a analisar as opções militares do presidente Donald Trump.

09 de Agosto de 2017 às 16:59
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Donald Trump deixou um aviso na terça-feira, 8 de Agosto, à Coreia do Norte, de que responderia com "fogo e fúria" se este país continuasse com as ameaças. Depois das Nações Unidas terem chegado a acordo para o reforço das sanções ao regime de Kim Jong-un, a Coreia do Norte reiterou que o seu programa de armas nucleares é necessário para evitar uma invasão dos EUA. Para Trump e para os EUA não há escolhas fáceis.

 

Podem os EUA tentar um ataque cirúrgico?

Provavelmente não será suficiente. Os mísseis da Coreia do Norte e as unidades nucleares estão dispersos e escondidos pelo território montanhoso do país. Falhar estes alvos deixaria cerca de 10 milhões de pessoas em Seul, 38 milhões de pessoas em Tóquio e dezenas de milhares de pessoal militar americano, que está no nordeste asiático, vulneráveis a ataques – quer através de ogivas convencionais, quer nucleares. Mesmo que os EUA conseguissem destruir tudo, Seul continuaria vulnerável a ataques de artilharia da Coreia do Norte.

 

Porque é que Kim pode optar pelo nuclear?

"Mesmo um ataque limitado" pelos EUA "aumentaria o risco de ser percepcionado pelos norte-coreanos como o início de um ataque muito maior e [a Coreia] poderia optar por usar as suas armas nucleares", afirmou Jeffrey Lewis, responsável pelo programa de não-proliferação de armamento do Leste Asiático do Middlebury Institute of International Studies. Os EUA teriam de, de alguma maneira, sinalizar quer à Coreia do Norte quer à China – o principal aliado e parceiro comercial de Pyongyang – que o ataque em causa era limitado. Assim deveriam conseguir evitar uma retaliação nuclear.

 

A mudança de regime é uma opção?

Uma nova liderança não levaria, necessariamente, a uma nova forma de pensar da parte da liderança da Coreia do Norte. A exposição prolongada de Kim aos valores do Ocidente – o líder coreano estudou na Suíça – levou a que algumas pessoas acreditassem que optasse por abrir o seu país ao mundo, até este ter tomado posse e provado que essas pessoas estavam erradas. Além disso, se Kim fosse um alvo, as pessoas que estão no poder e que o rodeiam também teriam de sair – tornando a lista demasiado longa. A China, receando tanto uma crise de refugiados como ter tropas americanas nas suas fronteiras, deveria apoiar o regime vigente.

 

Uma guerra total é a melhor opção para os EUA?

Seria necessária uma invasão a toda a escala para conseguir anular depressa a artilharia da Coreia do Norte, bem como os seus programas de mísseis e nuclear. E, ainda assim, qualquer sinal de um ataque iminente – tal como o aumento do poder de fogo dos EUA, a mobilização de militares sul-coreanos e japoneses ou a evacuação de cidadãos americanos da região – poderá levar a Coreia do Norte a atacar preventivamente. China e Rússia poderão ser arrastados. "Realisticamente, a guerra tem de ser evitada", afirmou John Delury, professor assistente de estudos internacionais na Yonsei University, na Coreia do Sul. "Quando se analisa os custos-benefícios, é insano."

 

Como poderá a Coreia do Norte retaliar?

A reacção mais imediata seria um ataque através de artilharia massiva sobre Seul e as suas imediações. As instalações de artilharia da Coreia do Norte ao longo da fronteira podem ser activadas mais depressa do que os recursos aéreos e navais, bem como mísseis balísticos maiores que podem atingir com armas nucleares, químicas e biológicas a Coreia do Sul e as bases japonesa e americana na região. Estes países têm sistemas de defesa anti-mísseis-balísticos mas não é possível garantir que conseguem travar tudo. O Japão já começou a fornecer informação aos seus cidadãos sobre o que fazer se um míssil atingir uma zona próxima da sua posição – essencialmente recomenda que se escondam em sítios subterrâneos – e há empresas americanas a comercializarem abrigos. E se não é certo que a Coreia do Norte conseguirá atingir cidades americanas como Denver e Chicago, através de mísseis-balísticos intercontinentais nucleares (ICBM, na sigla em inglês), também não é certo que os sistemas de defesa dos EUA consigam combater estes ataques – o que aumenta a ansiedade dos americanos.

 

Qual seria a factura económica se a guerra rebentasse?

A Coreia do Sul representa cerca de 1,9% da economia mundial e é sede de empresas como a Samsung Electronics e a Hyundai Motors. Uma queda abrupta na actividade empresarial devido a uma guerra na península causaria danos generalizados na região e ao nível mundial – e isto sem o recurso a armas nucleares por parte da Coreia do Norte contra o seu vizinho. Os mercados financeiros mundiais também sofreriam um choque tremendo no curto prazo, com uma corrida a activos considerados como refúgio, como o ouro, o dólar e o franco suíço. "Uma crise humanitária e a reconstrução económica da península coreana depois de um conflito nuclear requereria uma cooperação internacional de larga escala liderada pela China, EUA e União Europeia e deveria demorar mais de uma década a reconstruir a economia", estima o economista-chefe da IHS Markit para a Ásia-Pacífico, Rajiv Biswas.

 

Que opções continuam em cima da mesa?

Muitos analistas dizem que é altura de iniciar as conversações para prevenir que a situação se agrave. Evitar que a Coreia do Norte consiga obter armas termonucleares, ou mísseis mais avançados, é um objectivo que merece ser perpetrado, defende Jeffrey Lewis, responsável pelo programa de não-proliferação do Leste Asiático do Middlebury Institute of International Studies. Contudo, por mais desagradável que possa parecer, isto significa oferecer recompensas para convencer a Coreia do Norte a regressar à mesa das negociações. Lewis sugere que uma das recompensas possa ser a retirada das forças militares lideradas pelos EUA em torno da Coreia do Norte. A questão sobre o que pode ser oferecido aos norte-coreanos "é uma conversa que deve ser feita com a população, com o Congresso e com os norte-coreanos, em vez de se ter esta conserva imaginária sobre cenários de guerra", salienta John Delury, professor assistente de estudos internacionais na Yonsei University, na Coreia do Sul. "A opção realista é uma via diplomática, que abrande isto. E vai ser preciso muitas conversações".

(Texto original: What War Between North Korea and the U.S. Might Look Like: Quicktake Q&A)

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