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Trump diz que poder nuclear dos EUA é mais forte do que nunca. Mas é igual à era Obama

Em plena troca de ameaças com a Coreia do Norte, o presidente americano afiançou que o arsenal nuclear "é agora muito mais forte e poderoso do que alguma vez foi". Mas não é, até porque o único plano nuclear em curso foi iniciado pelo presidente Barack Obama e tem conclusão prevista para daqui a 30 anos.

Reuters
10 de Agosto de 2017 às 13:26
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A última quarta-feira foi um dia de improvisações para Donald Trump. Primeiro foi o New York Times a noticiar que a ameaça feita pelo presidente dos Estados Unidos foi de improviso – sem conhecimento prévio da respectiva administração – ao ameaçar a Coreia do Norte com "fogo e fúria como o mundo nunca viu".

 

Entretanto sabe-se que Trump também improvisou – ou mentiu – ao garantir através do Twitter que a primeira decisão que tomou quando chegou à Casa Branca foi para "renovar e modernizar o nosso arsenal nuclear" que "é agora muito mais forte e poderoso do que alguma vez foi".

 

Porém, tal afirmação não corresponde à verdade. Segundo o site Defense News, especializado em questões relacionadas com Defesa, os esforços no sentido de modernizar os equipamentos nucleares norte-americanos estavam já em curso antes da eleição de Trump e demorarão longos anos até estar completados.

 

Especialistas citados pelo Defense News falam em "disparate" e "completa mentira", com Stephen Schwartz, antigo editor da Nonproliferation Review, a assegurar que "nos últimos 201 dias literalmente nada aconteceu para aumentar o poder do arsenal nuclear dos EUA".

 

Do conhecimento público, está apenas em curso um programa relacionado com a capacidade nuclear da maior potência militar mundial, e o mesmo foi iniciado, em 2014, pelo antecessor de Trump, o ex-presidente Barack Obama.

 

De acordo com o New York Times, este plano tem uma duração prevista de 30 anos e representará um custo para o orçamento federal de cerca de 1 bilião de dólares, sendo que a maior parte deste montante só começará a ser desembolsada a partir de 2022.

 

Este plano de revitalização da capacidade nuclear americana contempla intervenções ao nível dos mísseis balísticos intercontinentais, dos submarinos com capacidade para lançar os referidos mísseis, das ogivas nucleares e ainda das infraestruturas.

Capacidade nuclear ligeiramente reduzida

 

O plano firmado por Obama prevê que as armas nucleares modernizadas não estejam disponíveis antes da próxima década, ou mesmo depois. E os novos mísseis balísticos intercontinentais só deverão substituir os actuais Minuteman III em 2018.

 

O New York Times sublinha que a dimensão e capacidade nuclear dos EUA é virtualmente a mesma na era Obama e agora com a administração Trump. Este jornal cita a Federação de Cientistas Atómicos que sustenta que em Janeiro, mês da tomada de posse de Trump, os EUA dispunham de 4.018 ogivas nucleares, tendo esse número descido ligeiramente desde então para "4 mil estimadas".

 

Esta redução justifica-se pelo cumprimento das condições previstas pelo acordo New START (Tratado sobre Redução de Armas Estratégicas, assinado por Obama e pelo então presidente russo, Dmitry Medvedev). Este acordo prevê a redução para metade dos lançadores estratégicos de mísseis nucleares.

Todavia, não deixa de ser verdade que este tema foi abordado por Donald Trump antes ainda de tomar posse como presidente americano. Ainda enquanto candidato à Casa Branca, Trump fez várias declarações contrárias ao consenso de Washington sobre a necessidade de aplicar medidas de não-proliferação nuclear.

 

E já presidente eleito, em Dezembro, Trump defendeu que os EUA "precisam reforçar em grande medida e expandir a sua capacidade nuclear". Pelo seu lado, Obama granjeou apoios para o tratado assinado com Moscovo dando em troca aos "falcões" o apoio ao supracitado plano de modernização nuclear.

 

O site Defense News conclui que apesar de poder ter como principal intenção demover o regime dinástico norte-coreano de prosseguir o programa de armamento nuclear, as ameaças feitas por Donald Trump não estão a contribuir para desescalar a tensão com Pyongyang.

Após a tomada de posse como presidente da "nação indispensável", Trump identificou desde logo a Coreia do Norte como a principal ameaça não só à segurança regional no continente asiático mas também internacional. Desde então tem pressionado a China - principal aliado comercial e geopolítico do regime comunista norte-coreano liderado por Kim Jong-un - a agir por forma a conter as ambições nucleares de Pyongyang. 

Este sábado, a aprovação, por unanimidade, pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde Pequim tem assento permanente, de sanções financeiras contra a Coreia do Norte espoletou um escalar de ameaças entre Washington e Pyongyang, com a possibilidade de uma guerra nuclear a surgir em pano de fundo.

A reforçar esse cenário está a convicção dos serviços de informações americanos - acompanhados pelas autoridades japonesas - de que a Coreia do Norte terá já desenvolvido a capacidade para inserir ogivas nucleares em mísseis balísticos intercontinentais. Pyongyang vem fazendo sucessivos testes de lançamentos destes tipos de mísseis - principalmente desde que Kim Jong-un sucedeu ao seu pai em finais de 2011-, indiferente aos avisos e ameaças de Washington e da ONU.

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