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Os esquemas que permitiram a Isabel dos Santos tornar-se a mulher mais rica de África
Milhares de documentos mostram como a empresária usou a Sonangol para angariar uma enorme fortuna. Vários portugueses foram cúmplices deste projeto.
Uma enorme divulgação de dados permitiu perceber o esquema que transformou Isabel dos Santos na mulher mais rica de África. Uma investigação de 117 jornalistas mostra como a empresária conseguiu angariar uma fortuna estimada em mais de dois mil milhões de euros. A investigação levada a cabo por 34 órgãos de comunicação social pertencentes ao Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) apurou centenas de benefícios conseguidos por Isabel dos Santos durante a presidência do seu pai, José Eduardo dos Santos.
Revela o jornal Expresso que a Sonangol transferiu, em cerca de seis meses, pelo menos 115 milhões de dólares de fundos públicos para o Dubai. O período em causa corresponde ao último terço do mandato de Isabel dos Santos frente à petrolífera estatal. Justificadas como pagamento de serviços de consultoria prestados à Sonangol, essas transferências tiveram como destino uma conta bancária de uma companhia offshore, a Matter Business Solutions, controlada pelo principal advogado da empresária angolana, o português Jorge Brito Pereira, sócio da Uría Menéndez, o escritório de Proença de Carvalho, revela o semanário, que participou na investigação a par - entre os órgãos portugueses - com a SIC.
Vários portugueses estarão envolvidos nestes esquemas que permitiram à empresária enriquecer. O Expresso refere a participação de Paula Oliveira, sócia principal da SDO, uma empresa de consultoria em Portugal e Angola criada em 2016; Mário Leite da Silva, gestor de negócios de Isabel dos Santos e diretor da Fidequity, empresa de gestão com sede na avenida da Liberdade; Jorge Brito Pereira, o advogado pessoal da empresária; e Sarju Raikundalia, administrador financeiro da Sonangol. Segundo o procurador-geral da República de Angola, Raikundalia "abandonou o país" logo a seguir a ser exonerado da Sonangol.
Os Luanda Leaks resultaram da divulgação de mais de 715 mil emails, gráficos, contratos e auditorias obtidas pela Plataforma de Protecção de Delatores em África (PPLAAF, na sigla original).
Num pequeno resumo publicado por vários jornais do consórcio de jornalistas, escreve-se que:
- A Sonangol vendeu a Sindika Dokolo, marido de Isabel dos Santos, uma larga fatia da empresa mais importante do portfólio do casal: ações na Galp. O investimento de 11 milhões valorizou de tal forma que ascendeu aos 750 milhões de euros;
- 115 milhões de euros foram pagos a consultoras e enviados para contas no Dubai controladas por alguns dos associados mais próximos de Isabel dos Santos;
Empresária nega todas as acusações
"Há um ataque orquestrado pelo atual governo movido politicamente e completamente infundado", refere a empresária num comunicado à BBC Africa. Isabel dos Santos diz ainda que as suas empresas foram alvo de um ataque informático. A filha de José Eduardo dos Santos nega ter cometido qualquer ato ilícito.