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Isabel dos Santos atribui corrupção em Angola a dirigentes partidários e construtoras
A empresária diz que a corrupção se fez sentir, sobretudo, ao nível das obras públicas, mas aponta também o dedo à Sonangol.
Isabel dos Santos atribui o problema da corrupção em Angola a dirigentes partidários (não identifica de que partido) e a "empresas de construção nem sempre honestas". A empresária, em entrevista à publicação de língua francesa La Libre Afrique, adianta que "essa corrupção atingiu principalmente o setor das estradas e obras públicas, onde a maioria das empresas estrangeiras tinha parceiros locais influentes".
Isabel dos Santos, que viu as suas contas bancárias e participações em empresas angolanas arrestadas pelo Tribunal Provincial de Luanda, sustenta que "o verdadeiro problema da corrupção em Angola está associado a esta febre de aumentos de investimentos que subiu de mil milhões de dólares em 2002 no final da guerra [ano da morte do líder da UNITA, Jonas Savimbi] para 11 mil milhões de dólares apenas em 2015".
"Muitos dirigentes partidários após a guerra formaram parcerias com empresas de construção nem sempre honestas. Os preços das obras e a sua qualidade fizeram o Estado perder quantidades colossais" sustentou a empresária, que se encontra em guerra com o Estado angolano e o presidente, João Lourenço.
Isabel dos Santos aponta também o dedo à Sonangol, que neste período temporal era liderada por Manuel Vicente, o qual chegou a ser vice-presidente do seu pai, José Eduardo dos Santos. "Esse também foi o caso no setor de petróleo, onde a Sonangol gozou de muita autonomia e para a qual o governo nunca conseguiu implementar uma ferramenta de controlo eficaz", sublinha.
Neste contexto, Isabel dos Santos refuta o seu envolvimento em qualquer situação de desvio ou aproveitamento de fundos públicos. "A corrupção nunca foi um problema da família de José Eduardo dos Santos, como muitos beneficiários desses contratos públicos querem fazer acreditar hoje. Ao contrário de todos aqueles que gritam aos lobos, nunca ocupei cargos no Executivo".
Questionada sobre se aproveitou a sua posição para fazer negócios e enriquecer à custa do Estado angolano, Isabel dos Santos considera que essa foi uma narrativa criada através de uma "campanha de imprensa habilmente orquestrada por círculos próximos ao poder preocupados em considerar a hipótese de uma carreira política, criando a figura de uma princesa africana sentada em uma fabulosa conta bancária de três mil milhões de dólares".
"A verdade deve ser reposta. Como qualquer operador económico, usei empréstimos bancários para desenvolver os meus projetos. Até hoje, os meus projetos têm uma parcela significativa de dívidas bancárias. Acima de tudo, sou uma empresária determinada que acredita no seu país, que investiu nele e assumiu riscos reais. Nos últimos 20 anos, criei mais de uma dúzia de empresas em diversos setores. Gastei capital no meu país nos setores das telecomunicações, televisão, bancos e comércio. Em termos de investimento estrangeiro direto, acho que influenciei amplamente a economia angolana. Hoje, sou o maior empregador do meu país. No emprego direto, isso representa mais de 20.000 pessoas", conclui Isabel dos Santos na entrevista à La Libre Afrique.