Notícia
O que dizem os bancos de investimento e as gestoras de activos sobre a vitória de Trump
Da "auto-imolação do Ocidente" à esperança que à medida que Trump for nomeando os elementos-chave para a sua administração a incerteza diminua. Os analistas alertam para um período de volatilidade nos mercados e para os riscos para a economia mundial.
Fitch: Implementação de todas as medidas de Trump seria negativo
"A vitória de Donald Trump na eleição presidencial nos EUA não tem implicações de curto-prazo para o "rating" soberano dos EUA de AAA/estável, que ainda beneficia de pontos fortes únicos. O impacto no médio prazo das políticas económicas e orçamentais de Trump será negativo para a qualidade de crédito se implementadas na totalidade".
Schroders: Mercados emergentes estão particularmente vulneráveis
"É improvável que seja visto como favorável pelos mercados: as taxas das obrigações podem subir à medida que os investidores exijam uma maior compensação para o risco de inflação e é expectável que os mercados accionistas sejam reavaliados. É provável assistirmos a uma volatilidade significativa já que o ambiente de taxas baixas dos anos recentes, que apoiou a avaliação das acções, desapareça de forma dramática. Os cortes nos impostos para as empresas irão compensar alguns destes impactos e sectores como a energia e o financeiro podem beneficiar de uma redução da regulação. Mais geralmente, a perspectiva de proteccionismo e de menor crescimento global atingirá os mercados accionistas e os activos de risco a nível mundial. Os mercados emergentes estão particularmente vulneráveis dada a sua dependência do comércio internacional."
Scotiabank: Investidores devem ter cautela e não agir por impulso
"Os mercados financeiros globais estão a encarar [a eleição de Trump] de forma negativa já que a economia mundial sofre um golpe na confiança e a incerteza escala. Mas é importante em alturas como esta injectar uma nota de cautela em relação a reacções tomadas por impulso. Há claras consequências negativas para partes da economia e dos mercados globais, mais existem importantes factores mitigadores que podem ser esquecidos no rescaldo imediato e serem apenas considerados mais tarde. À medida que os efeitos são digeridos pelos mercados, as orientações dadas em relação às linhas de actuação política por parte dos líderes mundiais, incluindo o presidente eleito dos EUA mas não só, são da maior importância."
Mizuho Securities: O "big money" não tem ideia do que contar com Trump
"A vitória de Trump ocorre num período de crescente incerteza política e económica e os mercados abominam a incerteza. Isto explica por que os mercados reagiram de forma tão significativa a cada oscilação dos resultados eleitorais durante a última noite. O "big money" queria Hillary e agora tem de procurar protecção e reagrupar-se. Sabia a situação com que iria ficar com os Clintons mas não tem ideia de qual a influência que terá junto da equipa de Trump. Isto assegura um período de incerteza que se estenderá após o período de transição entre Obama e Trump."
Pictet: Volatilidade no curto prazo. Vantagens para as acções no médio prazo?
"Esperamos que os mercados continuem a sofrer no curto prazo – potencialmente por várias semanas – criando picos de volatilidade que afectarão também o dólar. No entanto, os mercados irão depois mudar para as perspectivas de médio prazo. E caso se torne aparente que Trump e um Congresso liderado pelos Republicanos anunciarem um regresso a uma economia pelo lado da oferta e, potencialmente, a uma grande mudança na política orçamental, o crescimento mais elevado pode criar um ambiente mais favorável para as acções e potencialmente para o dólar no médio prazo, apesar de ser negativo para as obrigações."
Moody’s: As cinco áreas políticas que poderão afectar os "ratings" de empresas dos EUA
"A vitória de Donald Trump na eleição presidencial de 2016 irá provavelmente trazer um conjunto de políticas que divergem profundamente das seguidas pela administração Obama. Da perspectiva dos EUA como soberano, os principais desafios serão de longo-prazo e relacionados com o aumento dos custos orçamentais. No imediato, e tendo em conta as posições na sua campanha política, uma presidência de Trump irá provavelmente alterar as condições de muitos sectores. Há cinco áreas de política em que as potenciais alterações terão efeitos significativos na qualidade de crédito da dívida de emitentes: comércio internacional, regulação financeira, saúde, imigração e impostos para as empresas."
Capital Economics: Volatilidade no mercado perdurará por meses ou mesmo por anos
"O discurso de vitória conciliatório sugere que Trump pode ser um Presidente com mais sentido de Estado do que o demagogo da campanha eleitoral ajudou a reverter algumas das perdas iniciais das acções no rescaldo imediato ao seu triunfo chocante. No entanto, a conclusão é que ele provou repetidamente ter uma personalidade volátil. Além disso, nem Trump nem muitos do seu círculo próximo têm qualquer tipo de experiência de governação. Estes factores sugerem que a incerteza e a volatilidade do mercado permanecerá elevado por meses, se não anos."
Fidelity International: Sentimento do mercado fica mais deprimido
"Desafiando os comentadores políticos, os Democratas e até os Republicanos, Donald Trump será o próximo presidente dos EUA. Isto será provavelmente interpretado de forma negativa pelos mercados, com as políticas restritivas de Trump na imigração e no comércio livre a prejudicarem potencialmente o crescimento dos EUA. Uma presidência de Trump alimenta também uma maior incerteza política e mina a confiança na abertura ao sistema internacional. Apesar de estes riscos serem abstractos, são difíceis de avaliar sobre como serão incorporados nos preços nos mercados, irão levar a um sentimento mais deprimido. A melhor opção para uma presidência de Trump é que as suas políticas sejam obstruídas pelo Congresso, e mesmo os republicanos irão provavelmente opor-se a algumas propostas."
Pioneer Investments: Partido Republicano pode restringir parcialmente iniciativas de Trump
"A imprevisibilidade e a mudança geram preocupações na maior parte dos participantes no mercado, como a reacção inicial do mercado no rescaldo imediato do resultado das eleições demonstrou claramente. Em particular, as preocupações de que Trump poderá começar uma guerra comercial com a China e impor penalizações fiscais a empresas que tentem mudar as suas operações dos EUA. No entanto, esperamos que alguma moderação do partido Republicano possa parcialmente restringir a capacidade de Trump decretar algumas das suas iniciativas mais controversas."
Natixis: Estava tudo bem, não estava?
"O mercado não acreditava neste desfecho e até ao toque do sino de ontem era "business as usual": está tudo bem, nada pode acontecer, a história não se vai repetir, o Brexit foi uma excepção, os institutos de sondagens nos EUA eram mais sofisticados, etc… O mercado não estava preparado e portanto irá mudar para uma abordagem de aversão ao risco nos próximos dias."
Rabobank: Expectativas para o PIB e para a Fed arriscam ser revistas em baixa
"Na resposta à vitória de Trump, poderemos ver um foco inicial de aversão ao risco com os mercados a atribuírem uma maior incerteza política sobre este desfecho. No entanto, ele não tomará posse até 20 de Janeiro de 2017 e os mercados irão provavelmente estabilizar antes do final do ano. Ainda assim, a possibilidade de uma guerra comercial em 2017 reduzirá as expectativas sobre o crescimento do PIB dos EUA e a subida de juros por parte da Fed. O dia da inauguração presidencial poderá ser o início de episódios de aversão ao risco nos mercados. Haverá um elevado risco de recessão de esse jogo terminar mesmo numa guerra comercial, o que irá deprimir os preços as acções por um período contínuo."
Allianz Global Investors: Crescimento global ameaçado
"Até as políticas de Trump serem conhecidas, a sua retórica sobre o comércio internacional, imigração e cooperação ameaçarão o crescimento económico dos EUA e global. O mercado dos EUA deverá entrar num ambiente de aversão ao risco marcado por uma maior volatilidade e uma maior procura por ouro e obrigações soberanas dos EUA. Ironicamente, as acções europeias poderão tornar-se um bastião de estabilidade em comparação com os EUA."
Deutsche Bank: Super-ciclo da globalização pode ter-se invertido
"Primeiro o Brexit, agora Trump e o triunvirato anti-sistema pode ficar formado em menos de quatro semanas com um "não" no referendo para a reforma constitucional italiana. O mundo político está a mudar e as consequências disso serão provavelmente enormes nos próximos anos. O super-ciclo de 35 anos nos activos, políticas e globalização provavelmente inverteu-se."
Société Générale: Incerteza irá diminuir à medida que se conhecerem as prioridades de Trump
"A surpresa da vitória, combinada com a incerteza sobre as propostas poderá causar um prémio de incerteza no mercado semelhante ao do Brexit. A incerteza sobre as propostas de Trump a nível fiscal podem momentaneamente afectar as decisões de investimento das famílias e das empresas. Mas com o tempo, à medida que Trump nomear os elementos-chave do seu governo e estabelecer as prioridades legislativas, a incerteza irá diminuir. Mas este período de incerteza irá provavelmente adiar uma subida da taxa de juro em Dezembro."
Creditsights: Risco de recessão é uma preocupação real
"A natureza "outsider" da campanha de Trump permite todo o tipo de especulações. E é esta imprevisibilidade sobre quais os objectivos a que Trump irá dar prioridade na Casa Branca que levou os mercados globais a reagirem tão fortemente. A incerteza política é uma potente fonte de transmissão de risco à economia real; as equipas de gestão não fazem planos de investimento de longo prazo quando as perspectivas não são claras. O risco de recessão torna-se assim uma preocupação real."
Commerzbank: A auto-imolação do Ocidente continua
"O resultado equivale a um terramoto político. Com um Trump proteccionista na Casa Branca os conflitos comerciais tornam-se ameaçadores. Além disso, a vitória de Trump trará ventos favoráveis aos partidos anti-sistema também na Europa. A auto-imolação do Ocidente continua. E para os mercados, a vitória de Trump é um problema bem maior que o Brexit."