Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
Celso Filipe - Diretor-adjunto cfilipe@negocios.pt 09 de Novembro de 2016 às 11:46

Trump: a vitória que é um mal necessário

Os sinais da vitória do candidato republicano estavam lá: populismo, apelo ao patriotismo e indignação.. Talvez a eleição de Trump seja um mal necessário para forçar a uma refundação dos sistemas de representação democráticos.

  • 20
  • ...

O mundo está em choque. A vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas surpreendeu tudo e todos e levanta um conjunto significativo de incógnitas sobre o futuro próximo.

Os sinais para uma possível vitória de Trump estavam lá. O populismo, o apelo ao patriotismo, a indignação contra os protagonistas do "establishment" político. A oferta de soluções simples para problemas complexos. A verdade de Trump, maniqueísta, sobrepôs-se aos concubinatos dos poderes estabelecidos e representou uma aproximação real ao povo.

A vitória de Trump deixou as elites norte-americanas e Europa estupefactas, precisamente porque existe um fosso cada vez mais significativo entre os agentes políticos e aqueles que os elegem. Há um distanciamento da realidade que já tinha ficado patente quando, também contra todos os prognósticos, o Brexit venceu no Reino Unido.

É verdade que entre as promessas feitas pelo candidato Trump e aquelas que serão concretizadas pelo agora presidente Trump, irá uma longa distância e este acabará por ceder em algumas das bandeiras políticas. Ou seja, o sistema acabará por polir algumas das suas arestas agressivas, mas a matriz que elegeu Trump continuará lá e será dominante na sua acção.

Daniel Innerarity, filósofo político, constatava numa entrevista ao Jornal de Negócios, publicada a 16 de Setembro: que "estamos numa época de populismos, de Trump, Le Pen, da Aliança para a Alemanha, com fórmulas muito simplistas. Por isso, os políticos democratas e não demagogos têm um grande desafio pela frente, que é o de dar explicações e relatos do que se passa, mais convincentes do que as formas simplificadoras que agora estão a ter êxito".

Nos EUA este cenário consubstancia-se numa necessidade de regeneração dos democratas, derrotados nestas eleições, e também dos republicanos, porque Trump esteve longe de ser um candidato consensual dentro do partido, acabando por ser aceite de forma envergonhada.

Com a vitória de Donald Trump, o mundo ficou mais perigoso. Trump nos EUA, Putin na Rússia e o crescimento da extrema-direita na Europa são uma mistura explosiva que colocam em causa os sistemas de representação democrática como os concebemos.

O problema não é só dos políticos. É também dos cidadãos, dos Estados Unidos e da Europa, que se desresponsabilizaram pelo curso dos acontecimentos, atribuindo todos as culpas aos políticos que foram aceitando, sobretudo por inacção, como condutores dos respectivos destinos.

Talvez a eleição de Trump seja um mal necessário, para forçar a mudança porque, como diz Innerarity, "as ideias simples, baratas e fáceis só têm um êxito imediato. Com o passar do tempo as pessoas irão constatar que as soluções dos populistas não são boas". Para que tal aconteça é preciso começar, desde já, a trabalhar, na refundação dos nossos sistemas de representação colectivos. 

Ver comentários
Saber mais Donal Trump Estados Unidos presidenciais Europa Vladimir Putin Democratas Republicanos Daniel Innerarity
Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio