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09 de Novembro de 2016 às 11:46

Trump: a vitória que é um mal necessário

Os sinais da vitória do candidato republicano estavam lá: populismo, apelo ao patriotismo e indignação.. Talvez a eleição de Trump seja um mal necessário para forçar a uma refundação dos sistemas de representação democráticos.

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O mundo está em choque. A vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas surpreendeu tudo e todos e levanta um conjunto significativo de incógnitas sobre o futuro próximo.

Os sinais para uma possível vitória de Trump estavam lá. O populismo, o apelo ao patriotismo, a indignação contra os protagonistas do "establishment" político. A oferta de soluções simples para problemas complexos. A verdade de Trump, maniqueísta, sobrepôs-se aos concubinatos dos poderes estabelecidos e representou uma aproximação real ao povo.

A vitória de Trump deixou as elites norte-americanas e Europa estupefactas, precisamente porque existe um fosso cada vez mais significativo entre os agentes políticos e aqueles que os elegem. Há um distanciamento da realidade que já tinha ficado patente quando, também contra todos os prognósticos, o Brexit venceu no Reino Unido.

É verdade que entre as promessas feitas pelo candidato Trump e aquelas que serão concretizadas pelo agora presidente Trump, irá uma longa distância e este acabará por ceder em algumas das bandeiras políticas. Ou seja, o sistema acabará por polir algumas das suas arestas agressivas, mas a matriz que elegeu Trump continuará lá e será dominante na sua acção.

Daniel Innerarity, filósofo político, constatava numa entrevista ao Jornal de Negócios, publicada a 16 de Setembro: que "estamos numa época de populismos, de Trump, Le Pen, da Aliança para a Alemanha, com fórmulas muito simplistas. Por isso, os políticos democratas e não demagogos têm um grande desafio pela frente, que é o de dar explicações e relatos do que se passa, mais convincentes do que as formas simplificadoras que agora estão a ter êxito".

Nos EUA este cenário consubstancia-se numa necessidade de regeneração dos democratas, derrotados nestas eleições, e também dos republicanos, porque Trump esteve longe de ser um candidato consensual dentro do partido, acabando por ser aceite de forma envergonhada.

Com a vitória de Donald Trump, o mundo ficou mais perigoso. Trump nos EUA, Putin na Rússia e o crescimento da extrema-direita na Europa são uma mistura explosiva que colocam em causa os sistemas de representação democrática como os concebemos.

O problema não é só dos políticos. É também dos cidadãos, dos Estados Unidos e da Europa, que se desresponsabilizaram pelo curso dos acontecimentos, atribuindo todos as culpas aos políticos que foram aceitando, sobretudo por inacção, como condutores dos respectivos destinos.

Talvez a eleição de Trump seja um mal necessário, para forçar a mudança porque, como diz Innerarity, "as ideias simples, baratas e fáceis só têm um êxito imediato. Com o passar do tempo as pessoas irão constatar que as soluções dos populistas não são boas". Para que tal aconteça é preciso começar, desde já, a trabalhar, na refundação dos nossos sistemas de representação colectivos. 

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