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Imprevisibilidade de Trump vai causar instabilidade nos mercados no curto prazo
Os especialistas que participaram na conferência do Jogo da Bolsa esperam instabilidade a curto prazo, mas afastam quedas abruptas tal como aconteceram no pós-Brexit.
A eleição de Donald Trump surpreendeu os investidores e acelerou uma correcção das acções mundiais. E a expectativa é que a imprevisibilidade de Trump crie volatilidade nos mercados no curto prazo, mas acabem por normalizar, antecipam os especialistas.
"Vai haver algum nervosismo no curto prazo, mas a poeira vai assentar rapidamente", antecipa Rui Cartaxo, na conferência do Jogo da Bolsa, organizada pelo Negócios e pela GoBulling, que decorreu esta manhã em Lisboa, sob o tema "Mercados financeiros e estratégias de investimento". O consultor do Banco de Portugal admite que o resultado desta madrugada nos EUA não foi o que esperava mas também não o surpreendeu.
Ao contrário de grandes bancos de investimento mundiais Cartaxo não espera uma correcção expressiva das bolsas mundiais, como aconteceu no Brexit. Luís Amado tem uma opinião semelhante. O também consultor e antigo ministro espera que os mercados "abanem", mas tendam a ajustar-se para um ponto de equilíbrio. Para o especialista, os investidores têm que preparar-se para "fenómenos disruptivos", os quais "são perfeitamente expectáveis" na conjuntura actual.
"Os agentes económicos têm que estar preparados para viver momentos de instabilidade", referiu Luís Amado, acrescentando que é necessária ter a "noção da extrema complexidade que estamos a viver" e vamos viver nas próximas duas décadas "cenários de grande incerteza".
Incerteza é mesmo a palavra transversal ao discurso dos especialistas. Filipe Garcia, economista da IMF, refere porém que ao contrário do Brexit, em Junho, agora "os mercados estavam muito mais preparados" e a reacção não foi tão negativa.
Já João Pereira Leite, director de investimentos do Banco Carregosa, destaca o factor de imprevisibilidade que Donald Trump traz. "No Brexit sabíamos mais ou menos o que vai acontecer. Com o Trump ninguém sabe o que vai acontecer", explica. A evolução futura dos mercados irá, contudo, na opinião dos analistas depender do que o novo presidente dos EUA vai dizer.
Ricardo Mourinho Félix, secretário de Estado adjunto do Tesouro e das Finanças, alerta para os tempos de incerteza em que vivemos. Na sessão de encerramento da conferência do Jogo da Bolsa, o político alertou que mais uma vez o populismo tomou conta das eleições e a Europa deve estar atenta a estes fenómenos.
"O populismo é uma das ameaças à confiança e ao investimento", apontou Mourinho Félix, adiantando ainda que é "essencial pensar primeiro nos cidadãos".