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As entrevistas que marcaram o ano: Arturo Pérez-Reverte

Na guerra e na vida, não há linhas estanques a separar o bem do mal. O mundo não é branco nem negro, não é roxo nem azul. O escritor espanhol Arturo Pérez-Reverte fala assim. Define-se como um homem que foi acumulando incertezas. Costuma dizer, meio a brincar, ou nem tanto, que é também um homem sem ideologia – porque tem uma biblioteca. E nessa biblioteca há gente de esquerda e de direita, há fascistas e ditadores. Nos livros, cabe quase tudo, ou mesmo tudo.
Lúcia Crespo e Miguel Baltazar - Fotografia 25 de Dezembro de 2024 às 12:00

Foi sobretudo na guerra que aprendeu que o ser humano é feito de ambiguidades - pode ser um herói de manhã e, à tarde, um miserável, vilão ou cobarde. Na guerra e na vida, não há linhas estanques a separar o bem do mal. O mundo não é branco nem negro, não é roxo nem azul. É feito de muitos cinzentos. O escritor espanhol Arturo Pérez-Reverte fala assim. Define-se como um homem que foi acumulando incertezas. Costuma dizer, meio a brincar, que é também um homem sem ideologia - porque tem uma biblioteca. E nessa biblioteca há gente de esquerda e de direita, há fascistas e ditadores. Nos livros, cabe quase tudo, ou mesmo tudo. Arturo Pérez-Reverte foi repórter de guerra durante 21 anos, e o que viu e sentiu está também na sua obra. É autor de títulos como "O Mestre de Esgrima", "A Pele do Tambor", "O Cemitério dos Barcos sem Nome" e, mais recentemente, lançou "Revolução" - que tem como cenário o México no tempo de Emiliano Zapata e de Francisco Villa.


* Entrevista publicada originalmente a 29 de novembro de 2024

Divide a sua vida entre a literatura, o mar e a navegação. O que lhe dá o mar?

Tranquilidade. Não associo o mar a desporto ou a um lugar para passar férias. O mar é para mim uma forma de estar. Quando estou saturado da terra firme, e isso acontece-me muitas vezes, procuro o mar e tudo se torna mais claro na minha mente. Ali, encontro soluções. De uma forma paradoxal, o mar mantém-me vivo. Eu explico: à superfície da terra, ilusoriamente, tudo parece ser estanque, estável e tranquilo, ainda que a natureza de repente nos recorde de forma brutal que a serenidade é mesmo só aparente, como aconteceu com as chuvas terríveis em Valência. Em terra firme, é muito fácil deixarmo-nos adormecer. Relaxamos e rapidamente baixamos a guarda. No mar, mantemos uma permanente e salutar incerteza; estamos dependentes de barómetros, do vento, do sol, de um barco que vem. O mar obriga-nos a estar sempre despertos, o que é muito positivo, sobretudo quando chegamos a uma determinada idade, eu fiz agora 73 anos, e há uma certa tendência para diminuirmos a vigilância. O mar obriga-nos a estar sempre em estado de alerta, lembra-nos constantemente que o mundo é um lugar perigoso e que, se adormecemos, a vida pode matar-nos. Ou seja, nesse território hostil que é o mundo, o mar mantém-nos atentos e lúcidos. Mas, também paradoxalmente, sinto que o mar é mais seguro do que a terra. Se nos pode matar ou não, isso é secundário; a verdade é que funciona como um estimulante, como uma força que nos mantém vivos e cautelosos. 


Livros tais como "O Cemitério dos Barcos sem Nome" e "Cabo Trafalgar", entre outros, mostram essa sua ligação ao mar. Começou a navegar ainda muito jovem?

Navego desde pequeno e, quando deixei de ser repórter, comprei um veleiro. Costumo sair frequentemente para velejar. Mas, antes disso, já tinha andado noutros veleiros, em petroleiros e em embarcações mercantes… Nasci em Cartagena, uma cidade portuária da região espanhola de Múrcia, e a minha família esteve sempre ligada ao mar. Cresci entre gente da pesca. O meu pai também viajava em petroleiros por vários países para avaliar a qualidade do petróleo importado para Espanha, e muitos dos seus amigos eram capitães da marinha mercante. Também tive um tio que era capitão da marinha. Então, fui crescendo neste mundo e, por isso, a vida dos marinheiros é-me profundamente familiar, próxima e concreta. O meu contacto com o mar foi sempre constante e intenso. Em miúdo, até faltava às aulas para ir ao porto da cidade ver os barcos, os marinheiros e as mulheres que estavam nas esquinas das ruas e que me perguntavam: o que estás aqui a fazer, rapaz…? Portanto, para mim, o mar não é apenas um lugar onde há água, mas sim um caminho onde as pessoas se vão cruzando; é um lugar de memória, de cultura e de história. O mar para mim é isso – sobretudo o mar Mediterrâneo, que é o meu. 

 

Lançou agora um novo título em Espanha, "La Isla De La Mujer Dormida", que tem como cenário o mar Egeu. O que nos conta neste livro?

É uma história relacionada com a Guerra Civil Espanhola, em 1937. Naquele período, alguns barcos mercantes soviéticos traziam material militar da União Soviética para a República Espanhola, para apoiar a luta contra as forças de Franco. Esses navios eram frequentemente atacados por barcos franquistas e italianos. No meu livro, criei uma operação fictícia, na qual a marinha franquista envia um comando a uma ilha, utilizando uma lancha, para atacar o tráfico mercante soviético no mar Egeu. O romance desenvolve-se em três planos narrativos: é uma história de aventuras, um enredo de espionagem e, ao mesmo tempo, um romance de amor – um triângulo amoroso. A ação passa-se em Istambul, onde estão os espiões, na ilha do mar Egeu, e, claro, no mar…

 

Um escritor é, acima de tudo, um observador?

Sim. Pelo menos, os meus livros não surgem de um dia para o outro; são fruto de um processo contínuo de amadurecimento. Construo as histórias com base no que vou observando e vendo; escrevo a partir daquilo que leio e recordo. Os meus livros são assim, feitos de observação, e essa é a parte que me dá maior satisfação – gosto de ir aos lugares, de viajar, de apreciar as comidas, a música e a luz, de ver o pôr do sol. As palavras vão aparecendo depois. Antes de tudo, estudo os lugares. Por exemplo, Lisboa é cenário no livro "O Francoatirador Paciente" e, para poder fazer isso, andei a explorar as ruas e a conhecer vários recantos da cidade. Para mim, essa fase de aprendizagem é mesmo a mais interessante. Já a fase da escrita é mais rotineira, mecânica e aborrecida.

Não gosta de escrever?

Detesto escrever; o que realmente gosto é de imaginar, de montar a história, de criar o mundo narrativo das personagens, de estudar e de aprender. Só que, para poder justificar tudo isso, tenho depois de escrever os livros. Mas, de facto, o que me dá maior gozo é a parte da preparação, quando ainda não sei exatamente o que vou escrever. É fase em que estou a absorver, a aprender, a descobrir. É como quando nos apaixonamos – e sabemos que a fase de enamoramento é sempre a mais fascinante.  

 

Cada novo livro é uma paixão?

Cada novo livro é como um enamoramento, onde tudo é possível. E, de facto, tudo é possível através das personagens. Quando eu era pequeno, depois de ver um filme ou ler um livro, imaginava que era uma das personagens desse filme ou desse livro. Podia ser um índio, um guerrilheiro, um soldado, um espadachim, um pirata. Podia brincar e fazer de conta. Nos meus livros, no fundo, sou ainda esse menino que continua a brincar. Nos romances, posso disfarçar-me, posso fazer coisas que nunca fiz ou que não posso voltar a fazer. Posso ser jovem, posso matar, posso viajar, posso ser feliz, posso ser rico ou pobre, posso ser um terrorista, posso ser um tonto, posso um assassino ou um detetive. Nos meus livros, posso ser quem eu quiser.

Aprendi mais na guerra do que na paz - a guerra foi para mim uma escola de lucidez.

É um "menino" cada vez mais sagaz? Costuma dizer que os anos de reportagem de guerra lhe deram lucidez para observar o mundo…

Sim. Formei-me sobretudo em dois lugares: na biblioteca e na guerra. Aprendi a ler na biblioteca dos meus avós e dos pais. Foi lá que adquiri os ensinamentos básicos para poder interpretar o mundo. Depois, aprendi na guerra. A guerra foi para mim um lugar de trabalho, mas também uma escola de lucidez; foi na guerra que aprendi a observar, a conhecer o ser humano, a compreender o mal e o bem. E percebi algo muito importante, que transporto para meus livros e para a vida: o mundo não é branco nem negro, não é roxo ou azul, e não há linhas a separar o bem do mal. A guerra é um lugar cheio de ambiguidades onde o ser humano se comporta tal como é, com uma ampla gama de cinzentos. Pode ser um herói de manhã e, à tarde, um miserável, vilão ou cobarde...


Essa experiência mudou as suas convicções?

Posso dizer que, com a idade, perdi as certezas. Fui largando muitas convicções e hoje tenho uma série de incertezas acumuladas. Mas tornei-me orgulhoso dessas minhas incertezas. O que até contrasta com os tempos que vivemos. O mundo hoje exige convicções rígidas e posições estaques: és feminista ou machista? És pró-palestiniano ou pró-israelita? Ninguém aceita meios-termos. Eu prefiro mover-me na zona cinzenta e ambígua que é a vida e que a guerra também me ensinou. Paradoxalmente, aprendi mais na guerra do que na paz, ainda que a guerra seja terrível, claro. Aprendi sobretudo que é importante escutarmos todas as vozes, quer a voz dos bons, quer a voz dos maus.

É mais importante escutar a voz dos maus do que dos bons - conhecer o mal ajuda-nos a preveni-lo.

Não escutamos todas as vozes de igual forma?

Não. E será até mais importante escutarmos a voz dos maus do que a dos bons. Com os segundos, aprendemos sobretudo o que é moralmente correto. Mas é com os maus que aprendemos muito mais – conhecer o mal ajuda-nos a preveni-lo e a defender-nos. Falo por experiência. Eu aprendi muito mais com os maus do que com os bons. Foi com eles que percebi uma série de mecanismos socais, políticos e pessoais que me ajudaram a sobreviver. Por isso é muito perigosa a tendência de silenciar os maus. Não devemos cancelá-los nem tapar-lhes a boca. É um erro. Há que deixar o vilão falar. Há que ler os seus livros. Temos de o entrevistar e percebê-lo, para assim nos podermos proteger dele e dos que são como ele. O mal é muito educativo. Silenciar os maus significa ignorar o que pensam, e isso é que é muito perigoso. O pior de tudo é mesmo a ignorância.

 

O seu último livro lançado em Portugal tem como cenário a revolução mexicana, em 1910. Diz que foi um fracasso, assim como outros movimentos revolucionários. Na sua perspetiva, as revoluções estão sempre condenadas a falhar?

A revolução mexicana um fracasso absoluto, como são todas as revoluções, é verdade – e nem a revolução portuguesa foi perfeita. Nenhuma o é. Mas, com este livro, eu queria sobretudo contar uma história de aprendizagem de vida: a forma como um jovem obtém a lucidez e descobre o mundo através da revolução, da violência e da guerra. Um jovem, engenheiro de minas, sem grande cultura e conhecimento das coisas, aprende realmente o que é a vida num ambiente de morte e de incerteza. A história tem como cenário a revolução mexicana, mas podia ser outra qualquer revolução; podia ser a francesa, a chilena, a espanhola. Podia ser uma guerra mundial. Esta é sobretudo uma história de aprendizagem: como um jovem obtém a lucidez a partir da violência.

No livro, o jovem chama-se Martín. Na vida, Martin é o Arturo?

Não sou eu. É um erro procurar o autor atrás das personagens, porque o autor pode estar ou não nos seus protagonistas. Digamos que Martín passou por um processo semelhante ao meu, mas não sou eu. Ele é, como eu fui, um jovem numa guerra, e a guerra é a tal escola de lucidez extraordinária que nos vai transformando. É mesmo um mestrado de vida. Uma aprendizagem sobre a violência, a lealdade, o amor. Nesse sentido, a vida de Martín assemelha-se à minha. Por isso, este é um romance vagamente autobiográfico. 

 

Como todos os outros, este é sobretudo um livro sobre o ser humano?

Sim, sobre o ser humano tal como o ser humano é hoje. Não me interessa escrever sobre os traços psicológicos dos cruzados da Terra Santa ou dos conquistadores espanhóis ou dos romanos na Gália. Interessa-me sobretudo o homem hoje. Mas o "hoje" é para mim muito aborrecido do ponto de vista narrativo. O presente é muito vulgar, não me seduz. Assim, recorro ao território narrativo do passado, não para recriar o passado, mas para falar sobre o ser humano de agora. Por exemplo, o livro "Sidi", que fala sobre a figura de Rodrigo Díaz de Vivar, é usado em Espanha pelas escolas de negócios para dar aulas sobre liderança. Ou seja, eu quero que os meus livros sejam úteis para o leitor de hoje.

Muitas revoluções foram traídas... As palavras perderam um certo caráter mágico de esperança.

E as revoluções são um terreno fértil para narrativas?

Costumo explorar o território passado e, por isso, gosto de revisitar algumas revoluções nas quais as palavras tinham um certo caráter mágico de esperança. Conceitos como anarquismo, socialismo e comunismo, por exemplo, representavam um lugar de esperança. Muitas pessoas honradas acreditavam nessas palavras, mas depois ficaram desiludidas com o seu desenlace. Porque – sabemos hoje – muitas revoluções foram traídas. Hoje sabemos que Che Guevara odiava homossexuais ou que a revolução russa culminou nos "gulags" e que, na América Central, os sandinistas lutaram para Ortega ter uma quinta chamada Nicarágua. Enfim... Mas, repito, sabemos isso agora, não antes. Naquele tempo, não existia a desesperança que hoje sentimos; havia gente séria que acreditava realmente que as revoluções podiam mudar o mundo. Essa inocência, essa espécie de ingenuidade política e social e pessoal, foi algo que sempre me interessou.

 

Hoje já não existe essa "ingenuidade"?

Não, essa ingenuidade já não existe. Talvez as pessoas menos informadas ou mais ingénuas ainda acreditem que as revoluções podem mudar o mundo, mas quem tem um mínimo de cultura ou de lucidez não acredita realmente que as revoluções tenham essa capacidade. Por muito charmosa que uma revolução possa parecer, por muito nobre que pareça ser a sua causa, e por mais inteligente que seja a retórica dos revolucionários, as revoluções são feitas por seres humanos, e os seres humanos acabam por contaminar negativamente as grandes ideias. Uma ideia maravilhosa culmina quase sempre no mesmo: em ambição, em loucura, em campos de concentração…

Não há nada mais triste do que um ser humano resignado.

Os seres humanos não mudam?

Não. Podem mudar as ideias que movem o mundo, mas não a essência do homem. O ser humano continua a ser o mesmo, desde Troia até aos dias de hoje. E é isso que acaba por ditar um certo fracasso das revoluções, até mesmo da portuguesa, como disse. Eu gosto muito de Portugal, costumo ir várias vezes a Lisboa. Portugal teve uma revolução maravilhosa: o 25 de Abril foi extraordinário, foi uma revolução de esperança, jovem e vigorosa que acabou com uma ditadura, e foi um grande exemplo para Espanha, para a Europa e para o mundo. O país pode realmente orgulhar-se da sua revolução. Mas não vejo, por exemplo, grandes homenagens a Salgueiro Maia, esse revolucionário tão honrado e valente. As celebrações existem, mas menos do que o desejável. Talvez essas homenagens possam ofender aqueles que questionam a revolução; e os que questionam a revolução talvez queiram que os que a fizeram sejam esquecidos. Isto aconteceu um pouco por todo o lado. Portugal é um país admirável, mas sinto esta injustiça… As revoluções são feitas pelos seres humanos, e isso afeta sempre o seu desfecho. Dito isto, não nos podemos resignar – não há nada mais triste do que um ser humano resignado, que não tenta lutar e resistir. Uma coisa é a derrota ou a rendição, outra é a resistência. Por isso é que nos meus livros há tanta admiração por aqueles que lutam.


É hoje um homem sem ideologia?

Digo sempre, meio a brincar, que não tenho ideologia, porque tenho uma biblioteca, e há um fundo de verdade nisso. Na minha biblioteca, encontro Balzac, Eça de Queiroz, Cervantes, Trotsky, Rousseau, Voltaire, Lenine, José Antonio (Primo de Rivera), que era um fascista espanhol. Encontro Napoleão, Marco Aurélio, Séneca… Há gente de direita e de esquerda, há fascistas. Há de tudo. E eu leio de tudo. Quando lemos muitos livros e conhecemos bem as obras, é impossível estarmos de um ou do outro da linha da verdade; hoje em dia, considera-se que ter ideologia é estar de um lado ou do outro dessa linha. Por isso costumo dizer para não me fazerem perguntas sobre ideologia. Não me perguntem se sou branco ou negro, se sou roxo ou azul, verde ou amarelo…

A Europa, que foi a referência do mundo, é agora o palhaço do mundo.

Costuma dizer também que o continente europeu tem mais de três mil anos de cultura que estão a ser destruídos pelos próprios europeus. De que forma?

É verdade. Bruxelas deveria apostar numa educação dos jovens mais focada na partilha do seu legado histórico comum, criando assim uma verdadeira unidade e solidariedade. A Europa, com os três mil anos de memória cultural, foi um farol da democracia, da liberdade e dos direitos; foi luz da cultura. Com todos os erros que cometeu, e foram muitos, a Europa serviu de guia moral e de inspiração para o mundo. Mas essa Europa, que foi a referência do mundo, é agora o palhaço do mundo. Em vez de criar medidas para melhorar a educação dos jovens, Bruxelas perde tempo a legislar matérias mais superficiais, ainda que possam ser importantes. Essencial mesmo seria resgatar esses três mil anos de ciência e de cultura. Somos povos muito diferentes, mas temos uma memória comum. Só que isso não se aprende na escola e, sem essa aprendizagem, não há nada que nos consiga manter unidos, não há nada que nos faça sentir uma irmandade. Há uma nova geração de jovens europeus que está a crescer sem qualquer consciência solidária; já não se sentem irmãos históricos, e isso é muito negativo.

 

Continua a ser um iberista?

Sou um iberista convicto. Eu e o Saramago conversávamos bastante sobre este assunto. Na minha opinião, Espanha cometeu um erro terrível nos anos em que Filipe II também foi rei de Portugal – durante o seu reinado, deveria ter escolhido Lisboa como capital ibérica. Um país hispano-português teria tido imensas potencialidades. Claro que os portugueses são diferentes dos espanhóis, como um galego é diferente de um catalão ou de um andaluz, mas temos o mesmo legado e conhecemo-nos bastante bem. Devo dizer que há uma falta de reciprocidade que não me agrada: de alguma forma, os portugueses sempre se interessaram por Espanha, mas o contrário nem sempre aconteceu. Espanha virou as costas a Portugal; foi sempre injusta com Portugal. E isso demonstra uma certa ignorância relativamente ao nosso passado comum. Na verdade, os espanhóis, quando estão em Portugal, sentem-se em casa. "Descobrem" um país onde se sentem muito bem e ficam surpreendidos, precisamente por desconhecerem a história que partilhamos. Eu até acho que deveria existir um Ministério dos Assuntos Ibéricos, com dois ministros, um em Espanha e outro em Portugal, a coordenar interesses e políticas comuns que nos dessem mais força negocial na Europa. Afinal, estamos no mesmo barco histórico.

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