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Tarifas recíprocas de Trump ameaçam inundar Europa de produtos chineses
Tarifas surpreenderam por penalizarem mais os países asiáticos. UE teme uma inundações de produtos chineses no mercado europeu e está já a preparar um plano de emergência. Em cima da mesa estão tarifas de "salvaguarda" para restringir, de forma temporária, bens chineses.
A severidade das tarifas "recíprocas" de Donald Trump sobre economias como a China e o Vietname ameaça redirecionar a venda de produtos asiáticos para o mercado europeu. Os líderes europeus temem que a inundação de produtos chineses e de outros países asiáticos, a "preços de saldo", agravem os riscos económicos na União Europeia (UE) e a Comissão Europeia está já a trabalhar em "tarifas de emergência".
O presidente francês, Emmanuel Macron, foi dos primeiros a alertar para esse efeito colateral das tarifas "recíprocas" de Donald Trump no mercado europeu. "Ao verem o mercado norte-americano bloqueado, com tarifas entre 30% e 40%, [os países asiáticos] vão redirecionar os seus fluxos comerciais para a Europa", disse o líder francês, numa reação inflamada às tarifas "recíprocas" de Donald Trump. "Não é necessariamente uma situação que veremos imediatamente, mas algo para o qual nos estamos a preparar".
As tarifas "recíprocas" de Donald Trump surpreenderam por afetarem com especial intensidade países asiáticos, com o argumento de que é com eles que os Estados Unidos têm o maior défice comercial. As tarifas impostas superam os 20% que vão ser aplicados à UE, para a qual Donald Trump diz ter sido "generoso": 24% para a Malásia, 26% para a Índia, 32% para a Indonésia, 36% para a Tailândia, 46% para o Vietname, 48% para Laos e 49% para o Camboja – este último com a tarifa mais alta entre as centenas de países visados.
Mas é sobretudo de Pequim que vêm as maiores preocupações europeias. A China será punida com uma tarifa "recíproca" de 34%, que vai juntar-se a uma tarifa de 20% anunciada anteriormente, fazendo com que os produtos chineses tenham de pagar uma tarifa de 54% para entrarem nos Estados Unidos. Isso significa que os bens chineses vão perder competitividade no mercado norte-americano e podem vir a ser redirecionados para outros mercados. E, entretanto, a China já anunciou também vai retaliação na mesma medida.
Além do impacto direto das tarifas "recíprocas" de 20% que vão entrar em vigor a 9 de abril, a UE teme, por isso, uma eventual inundação do mercado europeu de produtos baratos chineses e de outros países asiáticos, sobretudo de produtos elétricos e eletrodomésticos. A acontecer, as empresas europeias deverão enfrentar uma concorrência feroz e ficar ainda mais pressionadas, numa altura em que a UE está já a sofrer com as tarifas norte-americanas sobre automóveis, aço e alumínio. Assim, o risco de degradação económica é ainda maior.
A Comissão Europeia está a preparar-se já para esse impacto e deverá avançar com "tarifas de emergência", para conter um eventual redirecionamento massivo de produtos asiáticos para o mercado europeu, avança esta sexta-feira o Financial Times, citando um alto representante da Comissão Europeia.
No primeiro mandato de Donald Trump, a UE teve de lidar com pressões semelhantes, quando, em 2018, os Estados Unidos avançaram com tarifas sobre as importações de aço e alumínio. Na altura, foram adotadas tarifas de "salvaguarda" de 25% sobre as importações de aço e alumínio acima de uma determinada quota. A expectativa é de que a UE decida algo semelhante agora, para responder ao risco de inundação de produtos asiáticos.
As tarifas de "salvaguarda" são um mecanismo permitido pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e possibilitam restringir, de forma temporária, as importações de um determinado bem, se as sobrevivência de empresas de um determinado país ou área económica estiverem sob ameaça pelo aumento dessas importações.