Notícia
Fortunato Frederico: o patrão da história mais "sexy" e feliz da indústria portuguesa
Fortunato Frederico criou e preside ao maior grupo português de calçado. À frente da associação do sector, durante 18 anos, liderou a conversão de uma indústria obsoleta na mais moderna e “mais sexy” do mundo, disputando com a Itália a liderança dos preços.
À entrada de Portugal na então CEE, a meio dos anos 80 do século passado, no Norte do país sobrevivia uma indústria do calçado obsoleta, gerida por empresários com a quarta classe, à qual tinha sido decretado o óbito. "Foi quando comecei como industrial. E eu disse: 'Fo****, então eu não sei fazer mais nada e estão a dizer que eu vou morrer? Não vou morrer, cara***!'"
Quem assim fala, com uma simplicidade desarmante, é Fortunato Frederico, o empresário que construiu a Kyaia, o maior grupo português de calçado - com cinco fábricas, em Guimarães e Paredes de Coura, soma vendas de 65 milhões de euros, exportando 95% do total, e emprega mais de 600 pessoas. Aos 75 anos, continua a dar corda aos sapatos da sua ambição: quer duplicar a facturação até 2024 e reservar um lugar entre os cinco maiores produtores europeus de calçado.
Mais e melhor: foi Fortunato Frederico que liderou, enquanto presidente da associação do sector (a APICCAPS) durante 18 anos, a transformação de um dos patinhos mais feios da economia portuguesa numa actividade moderna, com tecnologia e uma elevada auto-estima. Hoje, a indústria nacional de calçado, que exporta quase dois mil milhões de euros, apresenta-se ao mundo como "a mais sexy" e disputa com a Itália a liderança dos preços mundiais.
De varredor da Campeão à campeã Fly London
Fortunato Frederico nasceu em 4 de Abril de 1943 e, passados 15 dias , ficou órfão de pai. Com três filhos nos braços e sem possibilidades financeiras, a mãe entregou-o numa creche. Foi criado por uma freira, que recorda com carinho, até que, aos 14 anos, abandona o seminário. "Perdi-me com os namoricos." E assim se perdeu um padre, o sonho da mãe e da freira. "O Papa Francisco (...) é capaz de concluir que se perdeu um bom padre", afirmou recentemente em entrevista ao Negócios.
Abandonados os estudos, foi trabalhar para a Campeão Português, que no sector do calçado foi sempre classificada como "a universidade dos sapatos". Começou por varrer o chão da fábrica. Um dia, o patrão inquiriu os melhores operários sobre as suas ambições. Resposta do miúdo Fortunato: "Ser como o senhor!"
Antes disso, aos 24 anos, foi chamado para a tropa, onde ficou "quatro anos, um mês, um dia e duas horas". Convocado para combater na Guerra do Ultramar, esteve destacado perto de Kyaia, em Angola, onde começou a traçar o sonho de ter a sua própria fábrica de calçado.
De regresso a Portugal, foi novamente para a Campeão Português, onde trabalhou um ano. Depois esteve cerca de dois anos na Carvalho e Catarro, de Leiria, ao serviço da qual percorreu o país a vender máquinas, sobretudo para a indústria do calçado. É esta empresa que o faz despertar para a importância da tecnologia e da inovação. Seguiu-se a fabricante de sapatos Marina, de Felgueiras, quando acontece o 25 de Abril de 1974. "E eu embarquei na revolução."
Chegou a ser candidato do PCP, nas primeiras eleições legislativas, no último lugar da lista pelo círculo de Braga, mas rapidamente sai da vida política. "Comecei a tratar da minha vida." Em 1975, com as economias que tinha, montou a primeira sapataria na Rua de Gil Vicente, em Guimarães, mas logo viu que "aquilo não era negócio".
Depois de oito anos a "tomar conta" da Pratik, onde conheceu o seu ainda sócio Amílcar Monteiro, a concretização do sonho de sempre aconteceu em 1984. Com seis mil contos (30 mil euros), metade seus e a outra metade emprestados pelo Banco de Fomento [O BFE, que viria a ser integrado no BPI], abriu a Kyaia, em Guimarães.
O grande salto em frente da Kyaia aconteceu em 1994 quando, numa feira em Düsseldorf, aproveita o desentendimento entre os sócios de uma empresa inglesa para adquirir a marca Fly London, que hoje representa 40 milhões das vendas de 65 milhões do grupo, que vende sapatos para 61 países.
Fortunato garante que pagou "sempre bem" aos trabalhadores e que lhes dá um prémio todos os anos - "este ano distribuímos 150 mil euros pelos 370 da área industrial da Kyaia", tendo ficado de fora os da rede de lojas Foreva, adquirida em 2005, "pois esta empresa ainda dá prejuízo".
Quis abandonar tudo quando perdeu o filho
A história da Kyaia e da indústria portuguesa de calçado podia ser outra, caso Fortunato tivesse abandonado tudo em 2001. Nesse ano, o empresário passou pela maior provação de um pai: um acidente de viação tirou-lhe um filho de 18 anos, Frederico Nuno, e deixou a sua filha, Sandra, que acompanhava o irmão nesse momento, com marcas psicológicas profundas. "Queria ir para Kyaia, onde havia muita miséria, como missionário." Ficou. E criou a Fundação Oliveira Frederico, que tem como objectivo apoiar a investigação da doença bipolar.
O grupo Kyaia continua, entretanto, a servir de lebre para a indústria portuguesa de calçado, na frente tecnológica, em projectos como o SmartSL 4.0, e no desafio do "e-commerce", tendo investido um milhão de euros e criado uma equipa de 15 pessoas numa plataforma de venda online - o Overcube arrancou há cerca de dois meses e promete ter aqui "as melhores marcas de sapatos à distância de um clique", garantindo dar resposta a encomendas de sapatos personalizados em 24 horas.
Fora do calçado, o empresário continua a investir, em Guimarães, no turismo, com a Quinta Eira do Sol, e na reabilitação de dois prédios que comprou no centro da cidade, num investimento global próximo dos cinco milhões de euros.
"Don't walk, Fly", manda a Fly London. É um bom lema para retratar a vida de Fortunato Frederico? "Acho que sim. A minha atitude perante a vida é precisamente isso. É andar em frente, nunca parar. A novidade é aquilo que incentiva o homem, a Fly é isso. A Fly é a novidade. A voar chega-se lá!".
Quem assim fala, com uma simplicidade desarmante, é Fortunato Frederico, o empresário que construiu a Kyaia, o maior grupo português de calçado - com cinco fábricas, em Guimarães e Paredes de Coura, soma vendas de 65 milhões de euros, exportando 95% do total, e emprega mais de 600 pessoas. Aos 75 anos, continua a dar corda aos sapatos da sua ambição: quer duplicar a facturação até 2024 e reservar um lugar entre os cinco maiores produtores europeus de calçado.
De varredor da Campeão à campeã Fly London
Fortunato Frederico nasceu em 4 de Abril de 1943 e, passados 15 dias , ficou órfão de pai. Com três filhos nos braços e sem possibilidades financeiras, a mãe entregou-o numa creche. Foi criado por uma freira, que recorda com carinho, até que, aos 14 anos, abandona o seminário. "Perdi-me com os namoricos." E assim se perdeu um padre, o sonho da mãe e da freira. "O Papa Francisco (...) é capaz de concluir que se perdeu um bom padre", afirmou recentemente em entrevista ao Negócios.
Abandonados os estudos, foi trabalhar para a Campeão Português, que no sector do calçado foi sempre classificada como "a universidade dos sapatos". Começou por varrer o chão da fábrica. Um dia, o patrão inquiriu os melhores operários sobre as suas ambições. Resposta do miúdo Fortunato: "Ser como o senhor!"
Antes disso, aos 24 anos, foi chamado para a tropa, onde ficou "quatro anos, um mês, um dia e duas horas". Convocado para combater na Guerra do Ultramar, esteve destacado perto de Kyaia, em Angola, onde começou a traçar o sonho de ter a sua própria fábrica de calçado.
'Don't walk, Fly.' A minha vida é precisamente isso. É andar em frente, nunca parar. A voar chega-se lá. Fortunato Frederico
De regresso a Portugal, foi novamente para a Campeão Português, onde trabalhou um ano. Depois esteve cerca de dois anos na Carvalho e Catarro, de Leiria, ao serviço da qual percorreu o país a vender máquinas, sobretudo para a indústria do calçado. É esta empresa que o faz despertar para a importância da tecnologia e da inovação. Seguiu-se a fabricante de sapatos Marina, de Felgueiras, quando acontece o 25 de Abril de 1974. "E eu embarquei na revolução."
Chegou a ser candidato do PCP, nas primeiras eleições legislativas, no último lugar da lista pelo círculo de Braga, mas rapidamente sai da vida política. "Comecei a tratar da minha vida." Em 1975, com as economias que tinha, montou a primeira sapataria na Rua de Gil Vicente, em Guimarães, mas logo viu que "aquilo não era negócio".
Depois de oito anos a "tomar conta" da Pratik, onde conheceu o seu ainda sócio Amílcar Monteiro, a concretização do sonho de sempre aconteceu em 1984. Com seis mil contos (30 mil euros), metade seus e a outra metade emprestados pelo Banco de Fomento [O BFE, que viria a ser integrado no BPI], abriu a Kyaia, em Guimarães.
O grande salto em frente da Kyaia aconteceu em 1994 quando, numa feira em Düsseldorf, aproveita o desentendimento entre os sócios de uma empresa inglesa para adquirir a marca Fly London, que hoje representa 40 milhões das vendas de 65 milhões do grupo, que vende sapatos para 61 países.
Fortunato garante que pagou "sempre bem" aos trabalhadores e que lhes dá um prémio todos os anos - "este ano distribuímos 150 mil euros pelos 370 da área industrial da Kyaia", tendo ficado de fora os da rede de lojas Foreva, adquirida em 2005, "pois esta empresa ainda dá prejuízo".
Quis abandonar tudo quando perdeu o filho
A história da Kyaia e da indústria portuguesa de calçado podia ser outra, caso Fortunato tivesse abandonado tudo em 2001. Nesse ano, o empresário passou pela maior provação de um pai: um acidente de viação tirou-lhe um filho de 18 anos, Frederico Nuno, e deixou a sua filha, Sandra, que acompanhava o irmão nesse momento, com marcas psicológicas profundas. "Queria ir para Kyaia, onde havia muita miséria, como missionário." Ficou. E criou a Fundação Oliveira Frederico, que tem como objectivo apoiar a investigação da doença bipolar.
O grupo Kyaia continua, entretanto, a servir de lebre para a indústria portuguesa de calçado, na frente tecnológica, em projectos como o SmartSL 4.0, e no desafio do "e-commerce", tendo investido um milhão de euros e criado uma equipa de 15 pessoas numa plataforma de venda online - o Overcube arrancou há cerca de dois meses e promete ter aqui "as melhores marcas de sapatos à distância de um clique", garantindo dar resposta a encomendas de sapatos personalizados em 24 horas.
Fora do calçado, o empresário continua a investir, em Guimarães, no turismo, com a Quinta Eira do Sol, e na reabilitação de dois prédios que comprou no centro da cidade, num investimento global próximo dos cinco milhões de euros.
"Don't walk, Fly", manda a Fly London. É um bom lema para retratar a vida de Fortunato Frederico? "Acho que sim. A minha atitude perante a vida é precisamente isso. É andar em frente, nunca parar. A novidade é aquilo que incentiva o homem, a Fly é isso. A Fly é a novidade. A voar chega-se lá!".
CV
Pobre e órfão de pai aos 15 dias de vida, começou a trabalhar aos 14 anos. Criou a Kyaia em 1984 e adquiriu a marca Fly London dez anos depois. vende sapatos para 61 países. Aos 75 anos continua firme na liderança do grupo português de calçado, tendo estado 18 anos à frente da associação do sector.