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Manuel Alfredo de Mello: renasceu nos anos 80 para se tornar um gigante mundial de azeites

Manuel Alfredo de Mello é o presidente da Nutrinveste, a maior empresa portuguesa de agro-alimentar. Discretamente, mantém-se grande. Nos últimos 15 anos consolidou a sua presença no sector dos azeites e hoje a sua Sovena é líder mundial desse negócio. E o principal negócio da Nutrinveste, que traçou como estratégia especializar-se em gorduras alimentares líquidas.

Paulo Calado
30 de Maio de 2018 às 16:00
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Com o 25 de Abril de 1974 o maior grupo português industrial, a CUF, desfaz-se. Os irmãos José Manuel e Jorge de Mello vêem a sua vida mudar. O grupo iniciado pelo avô Alfredo da Silva sucumbia às mãos das nacionalizações empreendidas pelo processo revolucionário em curso.

Jorge de Mello esteve exilado. Suíça e Brasil foram algumas das suas moradas. O 25 de Abril de 1974 tinha apanhado o seu filho Manuel Alfredo de Mello na tropa. Não antecipava as mudanças que a revolução dos cravos teria na sua vida.

Jorge e José de Manuel optaram, no regresso, por tentar as respectivas sortes em ramos separados. Já não voltaria a grande CUF, com negócios desde a indústria ao sector financeiro. Jorge era o industrial. José Manuel, o banqueiro. E assim seguiram rumos paralelos em sectores distintos. Ambos conseguiram recriar impérios.

Jorge de Mello optou pela agro-indústria. Na década de 80, adquire a Alco, de extracção, refinação e embalagem de óleos alimentares, e mais tarde, a Fábrica Torrejana de Azeites, em Torres Novas. Como conta a história do grupo, as aquisições continuaram: Lusol, Tagol e a Sovena, que tinha já nascido - antes do 25 de Abril, em 1956 - pelas mãos da CUF em parceria com a Macedo e Coelho e a Sociedade Nacional de Sabões. Voltaria ao universo da família Mello. Estava reconstruído o grupo, agora pela mão do neto Jorge de Mello, e sob a designação Nutrinveste.

É então que Manuel Alfredo de Mello toma conta da gestão do grupo recriado pelo pai. Em 1993 toma os comandos da Nutrinveste, mas sempre esteve ao lado do pai, começando agora a dar lugar ao seu próprio filho. Jorge de Mello, como o avô, assumiu este ano a presidência da Sovena, o maior activo do grupo. Manuel Alfredo de Mello, em 35 anos de carreira, olha para trás e diz ao Negócios, em declarações por escrito, aqueles que foram os dois momentos "extremamente difíceis": o primeiro aconteceu há cerca de dois anos, quando um acidente na fábrica tirou a vida a duas pessoas, o "que muito me impressionou e não esqueço". O segundo que relata foi há mais tempo. Há cerca de 30 anos um grande incêndio aconteceu na fábrica de Maia. "Conseguimos reconstruí-la em seis meses, com a ajuda de todos na empresa, e conseguimos não descontinuar a nossa presença no mercado com a colaboração de dois parceiros de negócio." Manuel Alfredo de Mello, da mesma maneira que vê nestes dois episódios os piores momentos da sua carreira, também vê o maior sucesso no facto de "conseguir que as 1.300 pessoas que connosco trabalham se sintam motivadas e orgulhosas em pertencerem a este grupo, que nasceu das cinzas das nacionalizações, e hoje é uma referência a nível mundial."

Começámos com 150 pessoas na Maia, hoje somos 1.300 nos quatro cantos do mundo, com uma gestão típica de uma multinacional.  Manuel Alfredo de Mello 

São hoje cerca de 1.300 pessoas, o dobro de há 15 anos. Maior foi ainda o crescimento no volume de negócios. Se em 2003 gerava 592,4 milhões de euros em facturação, em 2017 atingiu os 1,5 mil milhões de euros, 2,5 vezes mais. Mas a génese da evolução pode ser vista por outro número. Há 15 anos, 80% do negócio era gerado em terras nacionais; actualmente essa mesma percentagem é feita no exterior. Esta é, aliás, a fórmula para a Nutrinveste poder dizer que é dos líderes mundiais em azeites. E esse nem foi um dos negócios primeiros da Nutrinveste.

Manuel Alfredo de Mello lembra como é "sempre difícil entrar num mercado novo". A presença nos azeites era pequena, através da Fábrica Torrejana de Azeites. Mas há cerca de 15 anos foi adquirida, em Sevilha, uma empresa, na altura falida, que tinha alguns clientes importantes. A partir daí, "conseguimos que ela ganhasse de novo credibilidade no mercado, e foi assim, resumidamente, mas na boa altura, que demos o primeiro passo na internacionalização", relata Manuel Alfredo de Mello, com a convicção já na altura de que "não poderíamos ficar confinados a este pequeno país, sob pena de ficarmos não competitivos e vulneráveis".

Outra decisão foi, então, tomada. A Nutrinveste tinha quatro grandes negócios - óleos, sumos, bolachas e cafés - e ganhar dimensão em cada um obrigava a crescer e a internacionalizar. Mas a Nutrinveste tinha noção de que "não tínhamos capacidade financeira para internacionalizar todas as áreas de negócios". A reflexão estratégica levou à alienação de três daquelas áreas, focando-se nos óleos, alargada depois aos azeites. "Na altura não foi fácil tomar esta decisão. Hoje penso que escolhemos o caminho certo."

Pelo caminho ficou a sua presença nos sumos, com a venda da Compal, das bolachas, com a alienação da Triunfo, e dos cafés, sector no qual detinha a Nutricafés. Com a decisão de ser um grupo de gorduras alimentares líquidas a Nutrinveste reforçou nos óleos que exporta para países mediterrânicos e africanos, mas cuja actuação se foca na Península Ibérica, "onde somos o principal actor ao nível da origenação, transformação e comercialização de sementes, farinhas e óleo de girassol".

Mas é nos azeites que mais cresce. Lançou-se, neste projecto, na plantação de olivais, com o grupo Atitlan, começando em Marrocos. Criou o projecto Elaia, que hoje conta com mais de 14.600 hectares em exploração, em Espanha, Marrocos e na maioria em Portugal. "Foi um investimento muito elevado, mas que tem superado as melhores expectativas, pois além do mais, nestes últimos anos, o valor na cadeia do azeite tem-se transferido para montante", diz, por escrito, ao Negócios Manuel Alfredo de Mello.

Da azeitona ao azeite, todo o processo passou a ser controlado pela Sovena, detentora de quatro lagares. Em 2010, inaugura em Ferreira do Alentejo (Marmelo) aquele que passou a ser o maior lagar do país, com capacidade para transformar 1.300 toneladas de azeitona por dia. O negócio de azeites foi, mesmo, o que mais cresceu na Nutrinveste nos últimos anos. Mas foi também "aquele onde mais investimos, tanto nas plantações de olivais, como em lagares (Portugal, Espanha e Marrocos), bem como em investigação, embalamento, comunicação, etc.". A expansão foi global e, por isso, Manuel Alfredo de Mello não se coíbe de dizer que é "um negócio planetário, com o centro do comando na Península Ibérica".

CV

Manuel Alfredo de Mello é filho de Jorge de Mello, neto de Alfredo da Silva. Depois do 25 de Abril foi Jorge de Mello que ficou com a indústria. Reconstruiu a empresa. E Manuel Alfredo de Mello foi o seu sucessor. Em 1993, toma os comandos da Nutrinveste. Agora é o seu filho, Jorge de Mello, que está a fazer a escalada. 

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