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José Neves: o empreendedor que criou a Apple portuguesa

Aliando a paixão pela moda e o conhecimento em tecnologia - a sua primeira empresa era de base tecnológica - José Neves decidiu criar a Farfetch e entrar na história da moda.

Bruno Simão/Negócios
31 de Maio de 2018 às 14:00
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Aos oito anos recebeu um ZX Spectrum. O novo computador vinha sem jogos - os pais esqueceram-se que tinham que ser comprados à parte - mas trazia um manual de programação. Assim nasceu o primeiro vício: programar. Aos 19 criou a sua primeira empresa, lançou uma linha de sapatos e, há quase dez anos, José Neves criou a Farfetch, o primeiro unicórnio português.

Estávamos em plena crise financeira quando José Neves criou esta plataforma electrónica de venda de produtos de luxo. Apenas duas semanas depois, a 15 de Setembro de 2008, caía o Lehman Brothers e, com ele, o conceito "too big to fail". Assumidamente teimoso, o empresário de Guimarães não se deixou abalar pela crise, nem desistiu quando todos os bancos lhe fecharam a porta. "Em 10 anos já fiz 10 rondas de investimento. Mas entre 2008 e 2010 não fiz rondas de investimento. Tivemos momentos muito difíceis", reconheceu recentemente José Neves, na apresentação da parceria com a Burberry.

Foi, por isso, o seu dinheiro que permitiu financiar a entrada nesta "viagem", uma jornada que começou a ser delineada alguns meses antes numa feira em Paris. Com uma forte relação com o mundo da moda e uma paixão por sapatos, que o levou a lançar a Swear, José Neves viu uma oportunidade no comércio electrónico de marcas de luxo, depois de perceber que apenas as únicas empresas que cresciam eram aquelas que tinham um site de comércio electrónico.

Aliando a paixão pela moda e o conhecimento em tecnologia - a sua primeira empresa era de base tecnológica - José Neves decidiu criar a Farfetch e entrar na história da moda.

Licenciado em Economia pela Universidade do Porto, o líder da Farfetch, que superou uma avaliação de mil milhões de euros em 2015, aquando da entrada da DST Global, espera que a sua empresa seja como a Apple e, tal como há um momento antes e depois da criação do iPhone, haja um momento antes e depois da Farfetch. Mas, os desafios são mais que muitos e, neste segmento, não se pode parar sob pena de desaparecer.

A loja do futuro

Apesar de ter sede em Londres, é em Portugal que concentra o maior escritório, uma aposta que José Neves não quer inverter. Com escritórios em Guimarães, Porto, Lisboa e Braga, a Farfetch mantém um ambicioso programa de contratações, continuando a crescer a um ritmo acelerado. Foram "anos fantásticos, em que a empresa cresceu de zero para mais de dois mil colaboradores, 11 escritórios e quase dois milhões de clientes em todo o mundo". "Foi uma montanha-russa. Foi uma sensação de aceleração incrível todos estes anos... e continua. Por isso, uma viagem fantástica", disse em entrevista ao Negócios, no final de 2017. A plataforma electrónica vende roupa de 880 marcas e boutiques para 190 países em todo o mundo, contando com dois mil colaboradores em 12 países.

Em termos de estratégia de negócio, José Neves, que começa sempre o seu dia por volta das seis da manhã e não abdica de uma hora de exercício diário, admite que quer estar nos grandes mercados de luxo e fazer parte da revolução do que é o retalho de luxo. Mas como será o futuro do retalho? Ainda que acredite que as lojas físicas nunca vão acabar, o empresário defende que é preciso reinventar este negócio.

Em 10 anos fiz 10 rondas de investimento. Mas entre 2008 e 2010 não fiz. Conheci investidores em todo o mundo. Alguns que valeu a pena conhecer, outros não. José Neves

Para José Neves, a loja do futuro não passa apenas por uma loja física. "A nossa oportunidade está em reinventar essa experiência nas lojas físicas porque a verdade é que no retalho físico estamos nos anos 80", defende.

Com o bichinho empreendedor desde muito jovem, José Neves reconhece que ser presidente executivo é "a profissão mais solitária do mundo porque o CEO tem de ter cuidado com aquilo que diz aos seus colaboradores, aos colegas de equipa, ao exterior e aos seus próprios investidores". Ainda assim, o empresário assume a paixão pelo que faz e reconhece as vantagens do seu cargo, que lhe permite viajar pelo mundo, embora seja em Londres que passa a maior parte do tempo.

"Conheci investidores em todos os cantos do mundo. Alguns que valeu a pena conhecer, outros que não valeu a pena conhecer", admite o líder da Farfetch. Enquanto responsável de uma empresa em franco desenvolvimento, reter talentos é uma das preocupações. Por isso, José Neves quer que a Farfetch seja um local fantástico para trabalhar.

O desafio dos lucros e a entrada em bolsa

Tal como outros unicórnios, que já receberam várias rondas de investimento, a Farfetch tem como objectivo realizar a dispersão em bolsa. E, no caso da empresa portuguesa, a operação deverá estar para breve. Segundo uma notícia avançada pelo Financial Times em Março, a companhia contratou o JPMorgan e o Goldman Sachs para avançarem com a sua oferta pública inicial (IPO) nos Estados Unidos este ano.

A decisão surge depois da Farfetch ter fechado uma parceria com o grupo Chalhoub, que opera também no segmento de luxo no Médio Oriente. A empresa deverá avançar, assim, para o mercado antes de conseguir obter lucros. Os últimos resultados conhecidos da empresa, relativos a 2016, revelaram prejuízos antes de impostos de 35,4 milhões de libras (39,8 milhões de euros) e receitas de 151,3 milhões de libras (170 milhões de euros).

Mas, os prejuízos não são um entrave para estas empresas, que conseguem atrair rondas de investimento privado, antes da estreia em bolsa. A JD.com fez um dos últimos investimentos na empresa (325 milhões de euros), juntando-se a investidores como a Advent Ventures Partners, a Index Ventures, a Novel TMT e a e.Ventures. Falta agora saber como os investidores avaliam a empresa, nesta viagem que vai recomeçar rumo a um novo destino.

CV

José Neves nasceu na cidade do Porto em 1974. Filho de uma professora de matemática e de um director de marketing, Desde cedo alimentou o gosto pela programação. Mas foi em Economia que se licenciou na Universidade do Porto. Apaixonado por sapatos, José Neves ainda desenhou uma linha, mas foi com a Farfetch que se projectou no mundo dos unicórnios.

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