Notícia
António Rios Amorim: o sobrinho de Américo que reinventou o negócio da cortiça à escala global
À frente da Corticeira Amorim e da associação do sector, à qual presidiu durante nove anos, deu a volta a uma indústria que estava ameaça de morte. Declarou uma bem-sucedida guerra ao cheiro a rolha no vinho e aos vedantes sintéticos, e colocou a líder mundial a brilhar na bolsa.
Entrou no mundo da cortiça aos sete anos pela mão do pai, que o levava aos fins-de-semana para as fábricas da Amorim. Mas não foi por aqui que começou a trabalhar no grupo familiar. Aos 22 anos, recém-chegado de Inglaterra, onde se licenciou em Comércio Internacional pela Universidade de Birmingham, assumiu funções na Amorim - Investimentos e Participações.
Passou depois pela Amorim Hotéis, sendo responsável pelo lançamento dos hotéis Novotel e Ibis em Portugal, e entre 1993 e 1995 foi responsável operacional da Amorim Imobiliária, tendo no ano seguinte ascendido ao cargo de director-geral da unidade de rolhas da Corticeira Amorim.
Até que, em Março de 2001, o falecido Américo Amorim confia a um dos seus "queridos 'champignons' "(cogumelos), como gostava de tratar os sobrinhos, a missão de lhe suceder na presidência da líder mundial de produtos de cortiça. Aos 33 anos, António Rios Amorim assumia a liderança da Corticeira Amorim, numa época em que a empresa vivia dias conturbados, com a emergência dos vedantes de plástico e de metal.
Ano negativamente histórico, o de 2001: a Corticeira fechou o exercício com prejuízos (14,8 milhões de euros), o que já não acontecia, pelo menos, desde 1988, quando a empresa passou a estar cotada na bolsa. Rios Amorim disse então que iria "pôr tudo em causa". Entre outras mudanças, adoptou um novo modelo organizacional e introduziu a metodologia Balanced Scorecard (baseada na avaliação de indicadores de desempenho). Os resultados foram imediatos: a empresa voltou aos lucros .
Mas chega 2008 e com ela a crise financeira e económica mundial. Logo no ano seguinte, em Fevereiro, a Amorim procedeu, pela primeira vez na sua centenária história, a um despedimento colectivo de 193 pessoas. Ao seu redor, várias corticeiras do top-10 nacional foram à falência.
Com o famigerado TCA (vinho com aroma a rolha) a dar má imagem às clássicas rolhas e a reforçar o sucesso dos vedantes sintéticos, a indústria da cortiça estava ameaçada de morte. À frente do grupo e da associação do sector (Apcor), Rios Amorim passou ao ataque: esta indústria investiu cerca de 500 milhões de euros em I&D e 50 milhões numa campanha de comunicação internacional, que teve, entre outros rostos, o treinador de futebol José Mourinho. E tudo mudou, com a cortiça a recuperar prestígio e quota aos seus concorrentes.
Na Corticeira, além do forte investimento na inovação e na procura de novas aplicações para a cortiça, Rios Amorim soma ao crescimento orgânico uma política agressiva de compras, sobretudo na produção de rolhas, que valem quase 70% do negócio. Só entre Julho e Janeiro passados, investiu cerca de 37,5 milhões de euros na aquisição de três concorrentes internacionais.
A maior operação foi a tomada do controlo do grupo francês Bourrassé - a Amorim pagou 29 milhões de euros para ficar com 60% do capital da empresa, devendo adquirir os restantes 40% até 2022. Com cerca de 450 trabalhadores, produzindo e distribuindo mais de 700 milhões de rolhas por cerca de 3.330 clientes, a Bourrassé fechou 2016 com vendas de 55 milhões de euros em 2016.
Para atestar a relevância desta aquisição, refira-se que, através da Bourrassé, a Corticeira engoliu a Socori, situada em Santa Maria da Feira, que é simplesmente a segundo maior fabricante de rolhas, empregadora e compradora de cortiça em Portugal. Chega de compras? "Gostamos de surpreender", respondeu Rios Amorim, ainda recentemente, quando questionado sobre se havia novas aquisições no horizonte.
E assim Rios Amorim vai surpreendendo os analistas, com crescimentos significativos de vendas e de rentabilidade: a facturação recorde de 2017 superou os 700 milhões de euros e os lucros ascenderam aos 73 milhões. Desde que se estreou na bolsa, já lá vão 30 anos, a Corticeira viu o seu valor de mercado multiplicado por 17 para perto de 1,6 mil milhões de euros.
Já a dívida líquida, que há um ano se fixava nuns residuais 11,7 milhões de euros, apesar das recentes aquisições continua a um nível bastante confortável - 85,9 milhões de euros, no final de Março passado. Fundada em 1870, no império corticeiro da Amorim trabalham perto de quatro mil pessoas em mais de 35 países.
Dotado de uma sólida formação académica
Em termos académicos, António Rios Amorim tem uma formação sólida: além da licenciatura em Inglaterra, concluiu vários estudos de pós-graduação em gestão de empresas, com destaque para a Universidade de Columbia (1992), nos Estados Unidos, INSEAD (2001), em França, e Universidade de Stanford (2007), também nos Estados Unidos, somando ainda um diploma em enologia pela francesa Universidade de Bordéus.
Aos 50 anos, Toni, como é tratado por familiares e amigos, só sabe olhar para o topo. "Adora caça, mas até aí não gosta de perder. Bastante realista, se percebe que não pode disputar a liderança, não vai a jogo", confidencia o empresário e amigo Jorge Armindo. "É muito forte, um cavalo de batalha no confronto com a concorrência", confirma, sob anonimato, ao Negócios, um outro seu amigo. Ambos concordam que "Toni é o homem certo no lugar certo". No que é que difere do mestre Américo? "É mais diplomático", garantem.
Mas segue-o no velho hábito de "bem receber os clientes" em sua casa, uma icónica habitação apalaçada na portuense Foz Velha, que comprou ao BES. A morte de Américo em nada deve alterar a vida na liderança da Corticeira. Os seis primos dos dois ramos da família, que controlam a empresa fundacional do grupo, são amigos e comprometeram-se a continuar coligados, sendo que, caso optem pela separação, a Corticeira passará para as mãos do ramo de Rios Amorim.
Passou depois pela Amorim Hotéis, sendo responsável pelo lançamento dos hotéis Novotel e Ibis em Portugal, e entre 1993 e 1995 foi responsável operacional da Amorim Imobiliária, tendo no ano seguinte ascendido ao cargo de director-geral da unidade de rolhas da Corticeira Amorim.
Ano negativamente histórico, o de 2001: a Corticeira fechou o exercício com prejuízos (14,8 milhões de euros), o que já não acontecia, pelo menos, desde 1988, quando a empresa passou a estar cotada na bolsa. Rios Amorim disse então que iria "pôr tudo em causa". Entre outras mudanças, adoptou um novo modelo organizacional e introduziu a metodologia Balanced Scorecard (baseada na avaliação de indicadores de desempenho). Os resultados foram imediatos: a empresa voltou aos lucros .
Mas chega 2008 e com ela a crise financeira e económica mundial. Logo no ano seguinte, em Fevereiro, a Amorim procedeu, pela primeira vez na sua centenária história, a um despedimento colectivo de 193 pessoas. Ao seu redor, várias corticeiras do top-10 nacional foram à falência.
Com o famigerado TCA (vinho com aroma a rolha) a dar má imagem às clássicas rolhas e a reforçar o sucesso dos vedantes sintéticos, a indústria da cortiça estava ameaçada de morte. À frente do grupo e da associação do sector (Apcor), Rios Amorim passou ao ataque: esta indústria investiu cerca de 500 milhões de euros em I&D e 50 milhões numa campanha de comunicação internacional, que teve, entre outros rostos, o treinador de futebol José Mourinho. E tudo mudou, com a cortiça a recuperar prestígio e quota aos seus concorrentes.
Fala-se da rolha como uma coisa do passado, mas a rolha é o nosso maior negócio e tem um peso significativo nas exportações portuguesas. António Rios Amorim
Na Corticeira, além do forte investimento na inovação e na procura de novas aplicações para a cortiça, Rios Amorim soma ao crescimento orgânico uma política agressiva de compras, sobretudo na produção de rolhas, que valem quase 70% do negócio. Só entre Julho e Janeiro passados, investiu cerca de 37,5 milhões de euros na aquisição de três concorrentes internacionais.
A maior operação foi a tomada do controlo do grupo francês Bourrassé - a Amorim pagou 29 milhões de euros para ficar com 60% do capital da empresa, devendo adquirir os restantes 40% até 2022. Com cerca de 450 trabalhadores, produzindo e distribuindo mais de 700 milhões de rolhas por cerca de 3.330 clientes, a Bourrassé fechou 2016 com vendas de 55 milhões de euros em 2016.
Para atestar a relevância desta aquisição, refira-se que, através da Bourrassé, a Corticeira engoliu a Socori, situada em Santa Maria da Feira, que é simplesmente a segundo maior fabricante de rolhas, empregadora e compradora de cortiça em Portugal. Chega de compras? "Gostamos de surpreender", respondeu Rios Amorim, ainda recentemente, quando questionado sobre se havia novas aquisições no horizonte.
E assim Rios Amorim vai surpreendendo os analistas, com crescimentos significativos de vendas e de rentabilidade: a facturação recorde de 2017 superou os 700 milhões de euros e os lucros ascenderam aos 73 milhões. Desde que se estreou na bolsa, já lá vão 30 anos, a Corticeira viu o seu valor de mercado multiplicado por 17 para perto de 1,6 mil milhões de euros.
Já a dívida líquida, que há um ano se fixava nuns residuais 11,7 milhões de euros, apesar das recentes aquisições continua a um nível bastante confortável - 85,9 milhões de euros, no final de Março passado. Fundada em 1870, no império corticeiro da Amorim trabalham perto de quatro mil pessoas em mais de 35 países.
Dotado de uma sólida formação académica
Em termos académicos, António Rios Amorim tem uma formação sólida: além da licenciatura em Inglaterra, concluiu vários estudos de pós-graduação em gestão de empresas, com destaque para a Universidade de Columbia (1992), nos Estados Unidos, INSEAD (2001), em França, e Universidade de Stanford (2007), também nos Estados Unidos, somando ainda um diploma em enologia pela francesa Universidade de Bordéus.
Aos 50 anos, Toni, como é tratado por familiares e amigos, só sabe olhar para o topo. "Adora caça, mas até aí não gosta de perder. Bastante realista, se percebe que não pode disputar a liderança, não vai a jogo", confidencia o empresário e amigo Jorge Armindo. "É muito forte, um cavalo de batalha no confronto com a concorrência", confirma, sob anonimato, ao Negócios, um outro seu amigo. Ambos concordam que "Toni é o homem certo no lugar certo". No que é que difere do mestre Américo? "É mais diplomático", garantem.
Mas segue-o no velho hábito de "bem receber os clientes" em sua casa, uma icónica habitação apalaçada na portuense Foz Velha, que comprou ao BES. A morte de Américo em nada deve alterar a vida na liderança da Corticeira. Os seis primos dos dois ramos da família, que controlam a empresa fundacional do grupo, são amigos e comprometeram-se a continuar coligados, sendo que, caso optem pela separação, a Corticeira passará para as mãos do ramo de Rios Amorim.
CV
António Rios Amorim tem 50 anos e dois filhos. Começou a trabalhar no grupo Amorim aos 22. Passou pelas áreas têxtil, hotéis e imobiliária, até que chegou à cortiça em 1996. Preside à Corticeira desde 2001 e esteve nove anos à frente da associação do sector. É licenciado em Comércio internacional e tem várias pós-graduações.