Notícia
Fernando Cunha Guedes: financeiro “concentra” multinacional de vinhos
A Sogrape é a maior empresa portuguesa de vinhos, uma multinacional com produção e distribuição em vários países e detém marcas icónicas, como Mateus Rosé, Sandeman e Barca Velha. Já com Fernando Cunha Guedes como CEO, foi eleita a melhor empresa do sector a nível mundial.
"Na Sogrape fazemos amigos antes de fazer negócios". A frase é atribuída a Fernando Van Zeller Guedes, que no Verão de 1942 fundou com 15 amigos a então designada Sociedade Comercial dos Vinhos de Mesa de Portugal. Numa indústria em que o cariz familiar do negócio contribui para a construção de uma imagem de respeitabilidade, de compromissos a longo prazo e também para consolidar a identidade corporativa, esta citação é repetida em todos os eventos corporativos de relevo. Como o que, em Janeiro do ano passado, assinalou o início das comemorações dos 75 anos da maior empresa portuguesa de vinhos.
Nesse jantar privado para a família, amigos e parceiros na Quinta de Azevedo, em Barcelos, uma propriedade detida desde 1980 pelo grupo nortenho, estiveram cerca de 500 convidados de vários quadrantes empresariais - incluindo os presidentes dos maiores bancos e companhias portuguesas - e também políticos. Além de ministros, sentaram-se na mesa principal os últimos três Presidentes da República: Jorge Sampaio, Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa, tendo este último subido ao palco antes da fadista Mariza para, "em nome de Portugal", expressar gratidão à empresa pela "excelência reiteradamente premiada no presente e [pela] vontade indomável de fazer futuro".
Com início de actividade numa adega alugada em Vila Real, onde lotava e engarrafava o vinho comprado em pipas a pequenos produtos do Douro, a Sogrape assumiu a liderança nacional no sector dos vinhos no final dos anos 1980, quando já tinha alargado a presença a outras regiões portuguesas, que se estende actualmente ao Dão, Verdes, Bairrada, Alentejo e Madeira. Com cerca de um milhar de trabalhadores, 1.500 hectares de vinha plantada (mais de metade localizada em Portugal) e comercializadora de cerca de 135 garrafas de vinho por minuto, na liderança está a terceira geração da família fundadora, tendo já a quarta a trabalhar na empresa.
Foi como aprendiz de tanoeiro que, nos anos 1950, Fernando Guedes, o filho primogénito do fundador, entrou com 22 anos no negócio da família, da qual viria a ser o primeiro enólogo de origem portuguesa após estudar em Dijon. O condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique comandou a empresa até se reformar, em 2000, passando a pasta ao filho mais velho, Salvador da Cunha Guedes, que tinha entrado na empresa na década de 1980 e acompanhado o ciclo de aquisições a nível nacional e internacional. Um movimento que aprofundou durante quase uma década e meia, até abandonar de forma forçada e inesperada a liderança depois de lhe ter sido diagnosticada Esclerose Lateral Amiotrófica e lançar o movimento "Todos contra ELA" para ajudar e divulgar a doença. A 1 de Janeiro de 2015, a Sogrape conhecia oficialmente o quarto presidente executivo da história - e o terceiro Fernando a sentar-se na cadeira do poder.
Protagonista da nova era
Fernando Cunha Guedes, "o financeiro com o bichinho da terra", como foi descrito pela revista Forbes, é o mais novo de três irmãos. Licenciou-se em Gestão de Empresas e no arranque da carreira foi subdirector de Grandes Empresas do Banco Bilbao Viscaya e analista de banca corporativa do BPI. Foi nessa altura que conheceu António Domingues, então director financeiro, que em 2016 o viria a convidar para a administração da Caixa Geral de Depósitos, um cargo que não chegou a assumir depois da polémica na sucessão do banco público. Depois de quatro anos na banca, integrou o negócio da família como técnico do gabinete de controlo de gestão da Sogrape Vinhos e, apenas um ano depois, na sequência do primeiro grande alargamento de produção da empresa, em 1997, mudou-se para Buenos Aires, na Argentina, onde dirigiu a operação da Finca Flichman até 2001.
De regresso a Portugal depois dessa "aventura total", Fernando Cunha Guedes manteve a estreita ligação às empresas produtoras - "é crucial sairmos e vermos com os nossos olhos o que se passa lá fora" -, sendo nomeado administrador com o pelouro do controlo de gestão e da viticultura. O lugar no conselho de administração da empresa-mãe chega "naturalmente" em 2008, no quadro de uma evolução no modelo organizativo da empresa, cujo sucesso acredita que está alavancado "numa perfeita comunhão da gestão profissional e moderna com um ambiente familiar, que preserva e luta pelos valores".
A entrada para CEO coincidiu com o início do novo ciclo estratégico desenhado pela família e pela consultora Boston Consulting Group, após vários anos a crescer, não só em termos orgânicos como por aquisição, programando a passagem da diversificação à concentração. Embora o gestor já tenha avisado que essas orientações devem ir sendo ajustadas à conjuntura e que "a estratégia não é um dogma" neste grupo vitivinícola com sede em Vila Nova de Gaia, num total de mais de três dezenas no portefólio foram seleccionadas cinco marcas prioritárias e que valem metade das vendas totais - Mateus Rosé, Gazela, Casa Ferreirinha, LAN e Sandeman (vinho do Porto) - e organizados também os mercados de consumo, surgindo como "core" o português, o espanhol, o britânico e o norte-americano.
Espalhado actualmente por dez países, com cinco origens de produção - Portugal, Espanha (LAN e Bodegas Aura), Argentina (Finca Flichman), Chile (Viña Los Boldos) e Nova Zelândia (Framingham) - e seis empresas de distribuição em mercados-chave para o desenvolvimento do negócio, o grupo Sogrape vende em mais de 120 países e registou um volume de negócios de 215 milhões de euros em 2016. Estabelecer e atingir metas ambiciosas é aquilo que Fernando Cunha Guedes, 49 anos, assume que lhe dá mais energia no trabalho: "Sentir que o objectivo foi cumprido com sucesso dá uma tremenda força para fazer mais e melhor".
Nesse jantar privado para a família, amigos e parceiros na Quinta de Azevedo, em Barcelos, uma propriedade detida desde 1980 pelo grupo nortenho, estiveram cerca de 500 convidados de vários quadrantes empresariais - incluindo os presidentes dos maiores bancos e companhias portuguesas - e também políticos. Além de ministros, sentaram-se na mesa principal os últimos três Presidentes da República: Jorge Sampaio, Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa, tendo este último subido ao palco antes da fadista Mariza para, "em nome de Portugal", expressar gratidão à empresa pela "excelência reiteradamente premiada no presente e [pela] vontade indomável de fazer futuro".
O sucesso assenta numa perfeita comunhão da gestão profissional com um ambiente familiar, que preserva e luta pelos valores. Fernando Cunha Guedes
Com início de actividade numa adega alugada em Vila Real, onde lotava e engarrafava o vinho comprado em pipas a pequenos produtos do Douro, a Sogrape assumiu a liderança nacional no sector dos vinhos no final dos anos 1980, quando já tinha alargado a presença a outras regiões portuguesas, que se estende actualmente ao Dão, Verdes, Bairrada, Alentejo e Madeira. Com cerca de um milhar de trabalhadores, 1.500 hectares de vinha plantada (mais de metade localizada em Portugal) e comercializadora de cerca de 135 garrafas de vinho por minuto, na liderança está a terceira geração da família fundadora, tendo já a quarta a trabalhar na empresa.
Foi como aprendiz de tanoeiro que, nos anos 1950, Fernando Guedes, o filho primogénito do fundador, entrou com 22 anos no negócio da família, da qual viria a ser o primeiro enólogo de origem portuguesa após estudar em Dijon. O condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique comandou a empresa até se reformar, em 2000, passando a pasta ao filho mais velho, Salvador da Cunha Guedes, que tinha entrado na empresa na década de 1980 e acompanhado o ciclo de aquisições a nível nacional e internacional. Um movimento que aprofundou durante quase uma década e meia, até abandonar de forma forçada e inesperada a liderança depois de lhe ter sido diagnosticada Esclerose Lateral Amiotrófica e lançar o movimento "Todos contra ELA" para ajudar e divulgar a doença. A 1 de Janeiro de 2015, a Sogrape conhecia oficialmente o quarto presidente executivo da história - e o terceiro Fernando a sentar-se na cadeira do poder.
Protagonista da nova era
Fernando Cunha Guedes, "o financeiro com o bichinho da terra", como foi descrito pela revista Forbes, é o mais novo de três irmãos. Licenciou-se em Gestão de Empresas e no arranque da carreira foi subdirector de Grandes Empresas do Banco Bilbao Viscaya e analista de banca corporativa do BPI. Foi nessa altura que conheceu António Domingues, então director financeiro, que em 2016 o viria a convidar para a administração da Caixa Geral de Depósitos, um cargo que não chegou a assumir depois da polémica na sucessão do banco público. Depois de quatro anos na banca, integrou o negócio da família como técnico do gabinete de controlo de gestão da Sogrape Vinhos e, apenas um ano depois, na sequência do primeiro grande alargamento de produção da empresa, em 1997, mudou-se para Buenos Aires, na Argentina, onde dirigiu a operação da Finca Flichman até 2001.
5
Países produtores
A Sogrape produz vinhos em Portugal, Espanha, Chile, Nova Zelândia e Argentina.
2008
Administrador
Fernando Cunha Guedes chega à administração em 2008, após assumir o controlo de gestão.
De regresso a Portugal depois dessa "aventura total", Fernando Cunha Guedes manteve a estreita ligação às empresas produtoras - "é crucial sairmos e vermos com os nossos olhos o que se passa lá fora" -, sendo nomeado administrador com o pelouro do controlo de gestão e da viticultura. O lugar no conselho de administração da empresa-mãe chega "naturalmente" em 2008, no quadro de uma evolução no modelo organizativo da empresa, cujo sucesso acredita que está alavancado "numa perfeita comunhão da gestão profissional e moderna com um ambiente familiar, que preserva e luta pelos valores".
A entrada para CEO coincidiu com o início do novo ciclo estratégico desenhado pela família e pela consultora Boston Consulting Group, após vários anos a crescer, não só em termos orgânicos como por aquisição, programando a passagem da diversificação à concentração. Embora o gestor já tenha avisado que essas orientações devem ir sendo ajustadas à conjuntura e que "a estratégia não é um dogma" neste grupo vitivinícola com sede em Vila Nova de Gaia, num total de mais de três dezenas no portefólio foram seleccionadas cinco marcas prioritárias e que valem metade das vendas totais - Mateus Rosé, Gazela, Casa Ferreirinha, LAN e Sandeman (vinho do Porto) - e organizados também os mercados de consumo, surgindo como "core" o português, o espanhol, o britânico e o norte-americano.
Espalhado actualmente por dez países, com cinco origens de produção - Portugal, Espanha (LAN e Bodegas Aura), Argentina (Finca Flichman), Chile (Viña Los Boldos) e Nova Zelândia (Framingham) - e seis empresas de distribuição em mercados-chave para o desenvolvimento do negócio, o grupo Sogrape vende em mais de 120 países e registou um volume de negócios de 215 milhões de euros em 2016. Estabelecer e atingir metas ambiciosas é aquilo que Fernando Cunha Guedes, 49 anos, assume que lhe dá mais energia no trabalho: "Sentir que o objectivo foi cumprido com sucesso dá uma tremenda força para fazer mais e melhor".
CV
Fernando Cunha Guedes partilha o nome com o pai e o avô, em homenagem ao fundador da Sogrape em 1942. Licenciado em Gestão de Empresas, iniciou a carreira na área da banca, trabalhou na Argentina e chegou à presidência executiva do grupo em Janeiro de 2015.