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26 de Janeiro de 2025 às 21:31

Se o ridículo mata, Miguel Arruda está política e civicamente "morto"

O episódio do alegado roubo de malas por um deputado do Chega, a entrevista de Pedro Nuno Santos e a posse de Trump são alguns dos temas abordados este domingo por Luís Marques Mendes no seu habitual espaço de comentário na SIC.

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DEPUTADO MIGUEL ARRUDA

 

  1. O alegado roubo de malas, no Aeroporto de Lisboa, por parte do deputado Miguel Arruda, do Chega, é um verdadeiro ato de comédia: é patético, é ridículo e é de gargalhada. É tudo de gargalhada: um roubo de malas num local carregado de câmaras de videovigilância; a invocação de inteligência artificial para explicar as imagens recolhidas; a venda na internet dos produtos alegadamente furtados. Se o ridículo mata, este homem está política e civicamente "morto".

 

  1. Mas este caso também tem um lado grave. Não o devíamos desvalorizar. Não devíamos tratá-lo só na base da comédia e da gargalhada. É que este caso agrava a imagem da política e dos políticos.
  • Se tivesse um pingo de vergonha e de decência, este deputado já devia ter saído do Parlamento. No mínimo, devia suspender funções até ao fim do processo judicial em que está envolvido.
  • É pena que para casos como este, especialmente chocantes e desviantes, a AR não tenha um instrumento legal para suspender deputados do exercício de funções. Não tem, mas devia ter.
  • Há vinte anos propus na AR a criação de uma Comissão de Ética, com uma composição senatorial, com ex-Presidentes do Parlamento e ex-Provedores de Justiça, para decidir em situações de graves violações da ética política. Infelizmente, não vingou.
  • Mas mesmo não tendo essa instância, eu gostaria que todos os partidos, da direita à esquerda, fizessem pressão para que este deputado abandone o Parlamento. Em nome da decência política, não é admissível que ele se mantenha na AR.

  

DESPEDIMENTOS NO BE

 

  1. À direita, tivemos o caso Miguel Arruda. À esquerda, tivemos a revelação de que, em 2022, na sequência das eleições legislativas, o BE despediu várias colaboradoras, algumas das quais tinham acabado de ser mães e ainda estavam a amamentar.

 

  1. O que o BE fez, depois de ver reduzida a sua subvenção estatal, é provavelmente o que fazem muitas empresas quando as receitas baixam e, em consequência, precisam de "cortar" nas despesas. O problema é a falta de coerência do Bloco: é que quando as empresas têm este tipo de comportamento, o BE é impiedoso nas críticas, nas acusações e nas denúncias dos respetivos empresários. Afinal, acabou a fazer dentro de casa o mesmo que critica aos outros. Ou pior. Afinal, dois pesos e duas medidas!

 

  1. Já não é a primeira vez que a alegada superioridade moral do Bloco se vira contra si próprio. A primeira aconteceu com Ricardo Robles: cá fora, clamava contra a especulação imobiliária; dentro de casa praticava a especulação. É bom que o BE tenha um pouco mais de humildade e menos manias de superioridade ética e moral!

 

 

COMISSÃO EXECUTIVA DO SNS

 

  1. Esta semana prosseguiu a novela da demissão do Diretor da Comissão Executiva do SNS. A oposição acusou o Ministério da Saúde de ter tido conhecimento das acumulações de funções de Gandra de Almeida; o Ministério da Saúde diz que desconhecia se havia acumulações ilegais e respaldou-se no parecer favorável emitido pela CRESAP. Para mim, salvo o devido respeito, a maior responsabilidade é do próprio Diretor Executivo. Ele, depois de convidado, devia ter tomado a iniciativa de explicar que acumulações tinha e em que condições as exerceu. Em especial, a questão da remuneração. É que ele foi autorizado a acumular funções sem remuneração. E acabou a receber remuneração. Um médico, ainda por cima militar, devia ter esclarecido isto, desde o início.

 

  1. Posto isto, acho que a ministra da Saúde agiu bem na substituição de Gandra de Almeida.
  • Primeiro, porque tomou uma decisão rápida. A rapidez, aqui, era essencial.
  • Segundo, porque a escolha de Álvaro Almeida parece ser uma boa escolha. Ele é sobretudo um técnico, com experiência na área da saúde. Um técnico elogiado, além do mais, por especialistas em saúde que não são da área do Governo. Foi o que sucedeu com o ex-ministro Correia de Campos, que elogiou publicamente esta nomeação.

A ENTREVISTA DE PEDRO NUNO

  1. Numa semana recheada de novidades, a entrevista do líder do PS ao Expresso é uma das mais surpreendentes. Pedro Nuno Santos surpreendeu em matéria de imigração. Há aqui três realidades: uma mudança; uma mudança positiva; e uma mudança que pode ter sido influenciada pela proximidade das autárquicas.

 

  1. Vejamos mais em concreto:
  • Uma mudança, em primeiro lugar. Pedro Nuno mudou de posição. Mudou ao reconhecer as falhas do governo anterior, o que nunca tinha feito. Mudou ao discordar do instrumento "manifestação de interesses", que até há pouco defendia. É claramente uma mudança de posição. O que não tem qualquer problema. As pessoas podem mudar de opinião. E reconhecer que as coisas correram mal no passado é uma evidência. Basta pensar em 400 mil imigrantes por legalizar. Maior sinal de fracasso não há.
  • Uma mudança positiva, em segundo lugar. Esta mudança, além de legítima e corajosa, é também positiva. Ao aproximar-se da posição do Governo, esta mudança favorece uma convergência mais ampla entre PSD e PS em matéria de imigração. E numa questão tão sensível como a da imigração, um consenso alargado entre as forças moderadas, só pode ser um sinal positivo.
  • Finalmente, uma mudança que pode ter sido influenciada pela proximidade das autárquicas. Os autarcas do PS estão preocupados com a imigração e com os seus efeitos eleitorais. Sendo assim, é natural que tivessem feito pressão sobre o líder. E que o líder fosse sensível às pressões exercidas. Afinal, num partido da oposição, os autarcas têm um peso decisivo.

 

DRAGHI EM PORTUGAL

  1. Mario Draghi vem esta semana a Portugal apresentar o seu Relatório sobre a falta de competitividade da UE. É um momento especial para refletir sobre o maior problema da União: a sua anemia económica e a sua perda de competitividade para os EUA.
  • Em termos comerciais, a UE até tem um excedente comercial face aos EUA: 158 mil milhões de euros em 2023. Exporta para os EUA mais do que importa. Sobretudo em produtos médicos e automóveis.
  • Mas, em termos de crescimento, a situação é muito preocupante: a UE cresce muito menos que os EUA. De 2019 até 2023, o crescimento acumulado do PIB dos EUA foi o dobro do crescimento do PIB da UE (12% nos EUA contra 6% na UE).
  • O exemplo mais paradigmático e cruel é o do PIB do estado do Mississípi, nos EUA. Apesar de o Mississípi ser o estado mais pobre dos EUA, o seu PIB per capita é maior que o da média da UE, é maior que o de França e do Reino Unido e está praticamente ao nível do da Alemanha. Verdadeiramente impressionante.
  • Isto mostra bem como a UE tem mesmo de mudar de vida: ou investe, inova e cresce, ou acabará a ser, como diz Enrico Letta, uma colónia económica dos EUA ou da China.

 

  1. A UE tem atualmente três problemas sérios: falta de liderança política, anemia económica; défice de investimento em segurança e defesa. Se quiser ser um player de futuro, a UE só tem um caminho: reinventar-se, deixar de se queixar dos EUA e fazer o que lhe compete fazer. Se resolver estes três problemas, a UE falará de igual para igual para com os EUA. Se os não resolver, estará sempre em posição de dependência.

 

 

A POSSE DE TRUMP

  1. Volto a repetir o que disse há uma semana: este mandato de Trump vai ser bem diferente do primeiro. De 2016 a 2020, houve muita trapalhada, mas poucas consequências. Agora, tudo é mais perigoso. Trump está mais profissional e mais forte. Vejamos três exemplos sérios desta primeira semana presidencial:
  • Primeiro, num só dia acabou com anos de negociações para uma taxação mínima (15%) das grandes multinacionais.
  • Segundo, de uma penada, fez os EUA saírem da OMS, o que é especialmente grave para a prevenção de futuras pandemias.
  • Terceiro, reafirmou a sua vontade de "tomar conta" da Gronelândia e do Canal do Panamá, o que mostra que, na prática, é igual a Putin na Ucrânia. Na prática, legitima a intervenção da Rússia na Ucrânia.

 

  1. Tudo o que está a suceder com Trump é perigoso para a humanidade. Mas o lado mais perigoso da sua estratégia ainda está encoberto: é a sua vontade de dividir a UE. Trump como Putin têm em comum um mesmo objetivo: dividir a UE. Dividir para reinar. Os sinais de Trump aí estão:
  • Trump só convidou para a sua posse os dirigentes europeus que são seus amigos ideológicos e não os responsáveis institucionais da UE;
  • Trump já começou a admitir discriminações seletivas em matéria de taxas alfandegárias: exceções para os amigos ideológicos; regime-regra para os demais. E ainda estamos no início.
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