Opinião
Marques Mendes: É preciso o esclarecimento de Hernâni Dias
No seu último comentário, Marques Mendes aborda a demissão do secretário de Estado da Administração Local, a polémica sobre segurança em Lisboa e o estado da economia nacional.
SUBSTITUIÇÃO NO GOVERNO
- Com a saída do Secretário de Estado Hernâni Dias, consumou-se a primeira "baixa" no Governo. Esta saída tornou-se inevitável para o próprio e para o Governo.
- Para o próprio, a saída era inevitável. Quanto mais tempo passasse, pior condição teria para continuar. Estava sob suspeita de um conflito de interesses. Nestas circunstâncias, o melhor é sair, dar o lugar a outro e, já fora do Governo, esclarecer tudo o que houver a esclarecer.
- Para o Governo, também a saída era inevitável. Depois do que sucedeu com os "casos e casinhos" do Governo anterior, o PM Luís Montenegro está obrigado a fazer diferente. Se fechasse os olhos e fizesse o mesmo que fazia António Costa, então descredibilizava-se.
- Em conclusão: ambos fizeram bem. O Secretário de Estado, ao pedir para sair. O PM ao aceitar a demissão. Mas, a bem da democracia, ainda é importante uma outra questão: o esclarecimento de Hernâni Dias sobre a razão pelas quais constituiu duas sociedades depois de estar no governo. Este esclarecimento será prestado no Parlamento, na próxima semana. E é importante. É que aquele comportamento de constituição de sociedades quando se está num governo, não é normal. Aguardemos uma explicação.
A POLÉMICA DA SEGURANÇA
- A polémica em torno da segurança entre PSP e Carlos Moedas é, no mínimo, uma polémica exagerada. Por uma razão simples: ambos têm as suas razões. E ambas as razões fazem sentido. Isto é objetivo para ambas as partes.
- Vejamos mais em concreto:
- Segundo a PSP, a criminalidade grave e violenta baixou em Lisboa, em 2024. Se assim é, trata-se de uma excelente notícia. Melhor até do que eventualmente se esperaria. A PSP merece ser saudada porque contribuiu para isso.
- Mas, segundo as sondagens, o sentimento de insegurança das pessoas aumentou. Também é objetivo. De acordo com a sondagem mais recente (Intercampus, ontem publicada no Correio da Manhã), 62% dos portugueses consideram que o crime aumentou. É este sentimento de insegurança que leva os autarcas, com Carlos Moedas à cabeça, a continuarem preocupados e a exigirem mais policiamento de proximidade.
- Ainda bem que os autarcas não cruzam os braços, também em matéria de segurança. Porque lhes compete dar voz aos sentimentos das pessoas. Não é só Carlos Moedas. É também Ricardo Leão em Loures. E são vários outros autarcas pelo país fora. A bolha político-mediática tem o seu papel e a sua opinião. Os autarcas têm outras responsabilidades. Ainda bem que nem sempre coincidem. Veja-se o exemplo da operação policial no Martim Moniz: quase toda a opinião mediática a condenou; mas a opinião pública concordou com ela. Na mesma sondagem já aqui referida, mais de 60% dos portugueses aprovou essa operação.
O ESTADO DA ECONOMIA
- Há boas notícias do lado da economia nacional.
- Segundo o INE, Portugal cresceu em 2024 acima da previsão do OE (1,9% contra 1,8%); no quarto trimestre, registámos mesmo o maior crescimento em cadeia da UE (1,5%); e, no conjunto ao ano, Portugal cresceu bem acima da média da UE e da Zona Euro.
- O último trimestre do ano teve um crescimento significativo, muito acima do esperado; o consumo privado teve um grande contributo para este resultado, designadamente em função dos alívios fiscais em sede de IRS que foram feitos.
- Este excelente resultado no último trimestre de 2024, vai influenciar positivamente o crescimento do PIB este ano. Segundo os especialistas, mesmo que o crescimento estagnasse nos vários trimestres de 2025, o crescimento do PIB este ano nunca ficaria abaixo de 1,3%. São boas perspetivas.
- As boas notícias também se estendem ao crédito à habitação. Primeiro, porque o BCE voltou a baixar as taxas de juro. Depois, porque, no mês de fevereiro, os beneficiários de crédito à habitação voltaram a ter reduções importantes nas suas prestações aos bancos.
- Também uma boa notícia na Europa: a Comissão Europeia começou a aplicar o Relatório Draghi. Aprovou a "Bússola" para a competitividade, um plano com o objetivo de reduzir a carga regulatória e administrativa, promovendo uma redução de custos para as empresas (25% para todas as empresas e 35% para as PME).
- A má noticia no mundo: Trump aumentou tarifas em relação ao Canadá, México e China. Estes Países vão retaliar. Começam, assim, as guerras comerciais. E ainda falta a UE.