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Isabel Vaz: A mulher que pôs a saúde na bolsa

É a cara da saúde privada em Portugal. Em 18 anos, transformou uma empresa de raiz num dos principais grupos privados de saúde, com mais de 29 unidades de prestação de cuidados espalhados por todo o país. Foi ainda a responsável pela entrada em bolsa de uma empresa do sector.

Pedro Elias
30 de Maio de 2018 às 13:00
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Um "percurso gratificante porque tive a oportunidade, única na vida de um gestor, de montar de raiz a Luz Saúde, hoje uma organização de referência no sector da saúde em Portugal". As palavras são da própria Isabel Vaz, presidente da comissão executiva da Luz Saúde, e foram utilizadas para responder à pergunta do Negócios sobre como definiria o seu percurso profissional nos últimos 15 anos.

Isabel Vaz , hoje com 52 anos, tinha 33 e estava a trabalhar há sete na consultora norte-americana McKinsey quando Ricardo Salgado a convidou para liderar um grupo privado de saúde - a Espírito Santo Saúde (ES Saúde).

Estávamos em 1999. Um ano depois, a ES Saúde começou a sua actividade com a compra de uma participação maioritária no capital social da Cliria - Hospital Privado de Aveiro e do Hospital da Arrábida, em Vila Nova de Gaia.

Hoje em dia é um dos maiores grupos privados de saúde a operar em Portugal, fazendo concorrência directa à José de Mello Saúde, o primeiro grande "player" nesta área.

[Decisão mais marcante foi] entrar em bolsa para salvar a ESS, no contexto da falência financeira e reputacional
do GES.
Isabel Vaz

Desde a sua fundação, Isabel Vaz conseguiu constituir uma rede integrada de cuidados de saúde, que inclui unidades hospitalares, clínicas ambulatórias e hospitais residenciais, além de uma oferta de residências sénior.

Actualmente, o Grupo tem 29 unidades, em que se incluem 13 hospitais privados, um hospital do SNS explorado em regime de Parceira Público-Privada (PPP), 13 clínicas privadas a operar em regime de ambulatório e duas residências sénior, e está presente nas regiões Norte, Centro, Centro-Sul de Portugal continental e na Região Autónoma da Madeira.

Entrar na bolsa para salvar a ES Saúde

A jóia da coroa do grupo, o Hospital da Luz, começou a sua actividade em 2007, o ano em que entrou em funcionamento também o Hospital da Luz Clínica de Oeiras (anteriormente Clínica Parque dos Poetas).

Cinco anos mais tarde era a vez de o Hospital Beatriz Ângelo, o novo hospital de Loures em regime de PPP, iniciar a sua actividade, com a abertura das consultas de pediatria e de dermatologia.

Questionada sobre a decisão mais marcante na sua carreira, Isabel Vaz aponta a entrada "em bolsa para salvar a Espírito Santo Saúde, hoje Luz Saúde, no contexto da falência financeira e reputacional do Grupo Espírito Santo (GES)".

Estávamos em Fevereiro de 2014, quando a Espírito Santo Saúde concretizou a sua entrada no mercado de capitais, através de uma oferta pública inicial, tornando-se a primeira empresa privada do sector da saúde cotada na Euronext Lisboa.

"Marcou-nos a todos para sempre"

"Foi uma decisão, por um lado, intuitiva, porque na verdade a nossa equipa desconhecia a dimensão do problema que afectava o GES, mas, por outro lado, fria e racional, com a total consciência de que não havia lugar a falhar e estávamos completamente por nossa conta na defesa da empresa que tínhamos fundado e dos seus mais de 10.000 colaboradores. Correu bem, felizmente, e marcou-nos a todos para sempre", acrescentou.

Filha de um médico, Isabel Vaz licenciou-se em Engenharia Química pelo Instituto Superior Técnico (IST) e tirou um MBA na Universidade Nova de Lisboa. Iniciou a sua actividade profissional no Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (IBET), no ramo da investigação de células animais. Ainda antes de entrar na McKinsey, passou na Atral Cipan onde desenvolveu um projecto de engenharia fabril durante um ano.

PPP foi "uma aposta menos conseguida"

Questionada pelo Negócios sobre se há alguma coisa de que se tenha arrependido e que se pudesse voltar atrás faria de outra maneira, Isabel Vaz respondeu que teria sido "bem mais cautelosa na aceitação do edifício jurídico que regula o contrato com o Estado português no contexto das PPP hospitalares".

"Não fosse a motivação e orgulho que resultam da obra que se foi capaz de criar, no nosso caso o Hospital Beatriz Ângelo em Loures (...), diríamos que esta foi uma aposta menos conseguida", reconheceu.

[Se pudesse voltar atrás], teria sido bem mais cautelosa na aceitação do edifício jurídico das Parcerias Público-Privadas hospitalares. Isabel Vaz

Isto porque, na opinião da presidente da comissão executiva da Luz Saúde, o "edifício" jurídico das PPP veio a revelar-se "desequilibrado para o parceiro privado e cuja aplicação cega e inflexível não permite sequer ao parceiro Estado reconhecer o valor inequívoco que todas as parcerias trouxeram e poderiam trazer ainda mais ao sector e à gestão hospitalar em Portugal, em particular".

A entrada dos chineses

Com a falência do banco liderado por Ricardo Salgado e a queda do GES, a Espírito Santo Saúde tornou-se um alvo muito apetecível. Em 2014, a Rioforte - a empresa de topo do ramo não financeiro do GES, aceitou vender à Fidelidade a participação de 51% que detinha na ES Saúde. A decisão surgiu depois de os chineses da Fosun, que já controlavam a Fidelidade, terem aumentado o preço que ofereciam por cada acção no âmbito na Oferta Pública de Aquisição (OPA).

Em Outubro desse ano, após um processo altamente competitivo de ofertas públicas de aquisição, a Fidelidade adquiriu 96% das acções da ES Saúde, passando assim a ser o seu novo accionista maioritário. É nesta altura que é anunciado o novo nome da empresa: Luz Saúde.

"Novos e magníficos desafios"

Questionado pelo Negócios sobre o principal objectivo para os próximos 15 anos, Isabel Vaz começou por responder que " 15 anos é muito tempo!" .

"Nos próximos cinco anos , a nossa equipa tem como objectivo consolidar a Luz Saúde e a marca Hospital da Luz como o operador de referência em Portugal", afirmou em seguida a presidente da comissão executiva da Luz Saúde. Sobre os dez anos seguintes, Isabel Vaz disse: "Veremos. Haverá seguramente novos e magníficos desafios neste sector espectacular."

CV

Isabel Vaz tem 52 anos e é filha de um médico. Licenciou-se em Engenharia Química no Instituto Superior Técnico e tem um MBA na Universidade Nova de Lisboa. Antes de assumir a liderança da Espírito Santo Saúde em 1999, esteve sete anos na consultora McKinsey. 

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