Notícia
João Miranda: construiu um império à base de muita fruta
João Miranda construiu, a partir de um alambique instalado nas traseiras da casa de família, a única companhia nacional do sector alimentar verdadeiramente multinacional. Com oito fábricas espalhadas por três continentes, a Frulact assenta o seu sucesso na inovação.
Diospiro. É este o fruto preferido do benfiquista João Miranda, CEO e accionista maioritário da Frulact, uma das cinco maiores fabricantes mundiais de preparados à base de fruta para a indústria alimentar. Nasceu a 19 de Abril de 1965 em Roriz, no concelho de Barcelos, onde ainda é conhecido pelos mais velhos como o neto da Augusta do Monte – a avô materna, que tinha uma mercearia onde, até aos 10 anos, ganhou uns tostões e absorveu "ensinamentos únicos" na relação com clientes e fornecedores. Figura marcante foi Ilídia Alvarenga, a sua professora primária, com quem aprendeu que "a excelência só se consegue com disciplina, exigência, método e trabalho". No final da adolescência, João não sabia muito bem para onde ir, só sabia que não queria seguir o destino traçado pelos seus progenitores.
"Quando acabei o 12.º ano, os meus pais queriam que fosse para França estudar engenharia na área dos lacticínios. Recusei. foi um acto de rebeldia, talvez imaturo." João ainda estudava quando começou a trabalhar. Primeiro na gestão de stocks de uma oficina de tractores, depois na parte administrativa de uma estamparia.
Até que, quando tinha 22 anos, deixou-se "agarrar novamente" pelo pai. Arménio Miranda, hoje com 79 anos, propõe ao filho a montagem da primeira, e ainda hoje única, fábrica portuguesa de preparados à base de fruta para a indústria alimentar. Oportunidade de negócio: fornecer chila e caramelo à Longa Vida, onde Arménio ganhou "know how" e lá continuou a trabalhar até 1994.
Negócio começou no fundo do quintal da casa em 1987
Em Lavra, Matosinhos, ao fundo do quintal da moradia da família, desalojaram galinhas e cães. Aí construíram um anexo com 120 metros quadrados, com um alambique e algumas barricas, num investimento de cerca de 50 mil contos (250 mil euros). Assim nasceu a Frulact, em Setembro de 1987, com apenas dois funcionários – o João, que contava com a ajuda de um miúdo de 17 anos, não aguentou a pesada conciliação da formação académica com o trabalho. "O dia começava para mim às quatro da madrugada e acabava cerca da meia-noite." Abandonou os estudos quando frequentava o 2.º ano de Gestão, no ensino nocturno do I.T.F.I. – Instituto Técnico de Formação e Investigação.
A Frulact fechou o primeiro ano de actividade com uma facturação de 125 mil contos (625 mil euros). A procura ultrapassou as expectativas, as exigências ao nível da qualidade também, pelo que decidiu, em 1992, investir meio milhão de contos (2,5 milhões de euros) na construção de uma fábrica moderna na zona industrial da Maia, onde ainda hoje tem sediado o seu "quartel-general". Passados dois anos, começou a exportar.
Em 1998, investiu 2,5 milhões de euros na construção de uma unidade de primeira transformação de frutas na Covilhã, o que lhe permitiu passar a controlar a fileira a montante e fortalecer a ligação aos produtores nacionais. A internacionalização industrial chegou no ano seguinte, com a instalação de uma fábrica em Marrocos e, em 2001, outra na Tunísia. Em 2006, investiu 15 milhões de euros numa fábrica em Tortosendo, Covilhã, e comprou uma unidade fabril em Vichy, França, por cinco milhões de euros. Pouco tempo depois, abriu uma nova unidade em Marrocos e, em 2008, instalou uma frente industrial na Tunísia.
Em Julho de 2009, num investimento de seis milhões de euros, comprou a fábrica GR6, em Apt, no sudeste de França, onde concentrou a produção industrial em território gaulês, desactivando a unidade de Vichy. Em 2012 abriu a sua fábrica na África do Sul, num investimento de uma dúzia de milhões de euros.
E há um ano entrou em produção a sua oitava fábrica, no Canadá. Num investimento de 20 milhões de euros, emprega actualmente 55 pessoas e deverá fechar o seu primeiro exercício completo com vendas de 15 milhões de euros.
A plataforma produtiva na América do Norte visa fazer sair a Frulact da dependência do mercado europeu. "O objectivo é que no final do próximo ano a Europa, que representou 58% das nossas vendas em 2017, caia para menos de 50%", sublinhou recentemente João Miranda ao Negócios.
Ao fim de 30 anos de muita fruta, a Frulact decidiu apostar na diversificação. Em Janeiro passado, adquiriu 100% do capital social da 5ensesinfood (5IF). Trata-se de uma start-up de base industrial que criou um processo patenteado de produção de ingredientes à base de vegetal para a indústria alimentar, permitindo a sua aplicação numa ampla gama de produtos finais.
Com oito fábricas espalhadas por três continentes, a Frulact fechou o último exercício com uma facturação de 112 milhões de euros, prevendo chegar este ano aos 122 milhões. Exporta 98% da sua produção para 34 países.
Um caminho de sucesso que não esteve isento de falhanços. As aventuras na Tunísia e na Argélia correram mal. Foram aprendizagens. "Sou positivo e optimista por natureza, mas desconfio muito dos momentos de sucesso – são perigosos para a organização. Os insucessos são bons para a regeneração da estrutura e para a correcção da trajectória", disse ao Negócios, já lá vão 10 anos.
Voltemos ao sucesso e às suas causas. Das mais de 700 pessoas que emprega, no Frutech, o seu centro de investigação, desenvolvimento e inovação, trabalham perto de seis dezenas (entre técnicos, mestres e doutorados) que desenvolvem novos produtos.
A empresa investe cerca de 2,8% das suas receitas em I&D. Sem inovação, onde estava Frulact? "Não estava, literalmente", responde João Miranda, que adora regressar à sua terra natal, aos fins-de-semana, e, em cima de um tractor, trabalhar a sua pequena exploração agrícola. Com visão para o mundo, preparado à base de fruta para novas conquistas. "A pressão é o meu tónico diário."
"Quando acabei o 12.º ano, os meus pais queriam que fosse para França estudar engenharia na área dos lacticínios. Recusei. foi um acto de rebeldia, talvez imaturo." João ainda estudava quando começou a trabalhar. Primeiro na gestão de stocks de uma oficina de tractores, depois na parte administrativa de uma estamparia.
Negócio começou no fundo do quintal da casa em 1987
Em Lavra, Matosinhos, ao fundo do quintal da moradia da família, desalojaram galinhas e cães. Aí construíram um anexo com 120 metros quadrados, com um alambique e algumas barricas, num investimento de cerca de 50 mil contos (250 mil euros). Assim nasceu a Frulact, em Setembro de 1987, com apenas dois funcionários – o João, que contava com a ajuda de um miúdo de 17 anos, não aguentou a pesada conciliação da formação académica com o trabalho. "O dia começava para mim às quatro da madrugada e acabava cerca da meia-noite." Abandonou os estudos quando frequentava o 2.º ano de Gestão, no ensino nocturno do I.T.F.I. – Instituto Técnico de Formação e Investigação.
Sem inovação, onde estava a Frulact? Não estava, literalmente. A Frulact cultiva a inovação, o pensar fora da caixa. João miranda
A Frulact fechou o primeiro ano de actividade com uma facturação de 125 mil contos (625 mil euros). A procura ultrapassou as expectativas, as exigências ao nível da qualidade também, pelo que decidiu, em 1992, investir meio milhão de contos (2,5 milhões de euros) na construção de uma fábrica moderna na zona industrial da Maia, onde ainda hoje tem sediado o seu "quartel-general". Passados dois anos, começou a exportar.
Em 1998, investiu 2,5 milhões de euros na construção de uma unidade de primeira transformação de frutas na Covilhã, o que lhe permitiu passar a controlar a fileira a montante e fortalecer a ligação aos produtores nacionais. A internacionalização industrial chegou no ano seguinte, com a instalação de uma fábrica em Marrocos e, em 2001, outra na Tunísia. Em 2006, investiu 15 milhões de euros numa fábrica em Tortosendo, Covilhã, e comprou uma unidade fabril em Vichy, França, por cinco milhões de euros. Pouco tempo depois, abriu uma nova unidade em Marrocos e, em 2008, instalou uma frente industrial na Tunísia.
Em Julho de 2009, num investimento de seis milhões de euros, comprou a fábrica GR6, em Apt, no sudeste de França, onde concentrou a produção industrial em território gaulês, desactivando a unidade de Vichy. Em 2012 abriu a sua fábrica na África do Sul, num investimento de uma dúzia de milhões de euros.
E há um ano entrou em produção a sua oitava fábrica, no Canadá. Num investimento de 20 milhões de euros, emprega actualmente 55 pessoas e deverá fechar o seu primeiro exercício completo com vendas de 15 milhões de euros.
A plataforma produtiva na América do Norte visa fazer sair a Frulact da dependência do mercado europeu. "O objectivo é que no final do próximo ano a Europa, que representou 58% das nossas vendas em 2017, caia para menos de 50%", sublinhou recentemente João Miranda ao Negócios.
Ao fim de 30 anos de muita fruta, a Frulact decidiu apostar na diversificação. Em Janeiro passado, adquiriu 100% do capital social da 5ensesinfood (5IF). Trata-se de uma start-up de base industrial que criou um processo patenteado de produção de ingredientes à base de vegetal para a indústria alimentar, permitindo a sua aplicação numa ampla gama de produtos finais.
Com oito fábricas espalhadas por três continentes, a Frulact fechou o último exercício com uma facturação de 112 milhões de euros, prevendo chegar este ano aos 122 milhões. Exporta 98% da sua produção para 34 países.
Um caminho de sucesso que não esteve isento de falhanços. As aventuras na Tunísia e na Argélia correram mal. Foram aprendizagens. "Sou positivo e optimista por natureza, mas desconfio muito dos momentos de sucesso – são perigosos para a organização. Os insucessos são bons para a regeneração da estrutura e para a correcção da trajectória", disse ao Negócios, já lá vão 10 anos.
Voltemos ao sucesso e às suas causas. Das mais de 700 pessoas que emprega, no Frutech, o seu centro de investigação, desenvolvimento e inovação, trabalham perto de seis dezenas (entre técnicos, mestres e doutorados) que desenvolvem novos produtos.
A empresa investe cerca de 2,8% das suas receitas em I&D. Sem inovação, onde estava Frulact? "Não estava, literalmente", responde João Miranda, que adora regressar à sua terra natal, aos fins-de-semana, e, em cima de um tractor, trabalhar a sua pequena exploração agrícola. Com visão para o mundo, preparado à base de fruta para novas conquistas. "A pressão é o meu tónico diário."
CV
João Miranda aliou-se ao pai na criação da Frulact. Tinha 22 anos. Hoje é o CEO e controla o capital da empresa. Benfiquista, fez 53 anos em Abril, é casado, tem três filhos e gosta de passar os fins-de-semana na sua terra natal, Roriz, Barcelos, ao volante de um tractor.