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Pedro Soares dos Santos: Um líder que não esperava, mas há muito planeado

Depois de ter passado pelo Brasil e Polónia, o actual líder da Jerónimo Martins regressou, em 2001, a Portugal para assumir as rédeas do negócio nacional. Em 2010, foi o escolhido para suceder ao pai Alexandre Soares dos Santos na gestão do dia-a-dia do grupo que se manteve como um dos maiores investidores e empregadores em Portugal e rumou a uma nova geografia - Colômbia.

Miguel Baltazar
30 de Maio de 2018 às 12:00
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Cair e saber levantar-se. É o próprio grupo Jerónimo Martins a titular assim o período que passou entre 1999 e 2001, num documentário seu. Foi, diz mesmo, "o mais conturbado da sua história centenária". Começou em 1999 aquando do primeiro "profit warning" (aviso aos investidores de que os resultados ficariam abaixo do previsto) de uma cotada portuguesa. "Estes, eram tempos difíceis." A diversificação internacional colocou o grupo com duas novas geografias em simultâneo: Brasil e Polónia. Uma diversificação que custou dinheiro e uma dívida. Vivia-se também a euforia das "dotcom" (empresas da internet) e até aí o grupo quis ter presença. Muita coisa ao mesmo tempo. O então líder do grupo, Alexandre Soares dos Santos, isso mesmo reconheceu. Assumiu o erro. Mandou o filho Pedro para a Polónia, onde tinha entrado em 1994 com uma estratégia multiformato. Pedro Soares dos Santos chegou à Polónia em 1999, nos tais anos conturbados do grupo. Esteve aí dois anos. O tempo suficiente para concentrar a operação apenas no formato de lojas de desconto que em 1999 tinha 345 lojas. Em 2007 - já Pedro Soares dos Santos estava de volta a Portugal - comemora a abertura da milésima loja e em 2012 da loja 2000, um ano antes de o gestor assumir a presidência executiva do grupo. Enquanto na Polónia traçava esta estratégia, o Brasil foi alienado em 2002. Neste período difícil, a Jerónimo Martins vendeu os supermercados brasileiros Sé, mas também a empresa de águas que tinha adquirido uns anos antes a Sousa Cintra - a Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas, e as lojas de artigos desportivos em Londres, a Lillywhite.

"O investimento da América do Sul devia ter tido lugar após a consolidação da Polónia. Surgiram-nos com uma companhia interessantíssima em São Paulo e deixámo-nos seduzir por essa compra. Mas não foi a compra que foi mal feita. O que foi mal feito foi não termos deixado aquela empresa quieta e sossegada e consolidar a Polónia e depois começar novamente com o Brasil", assumiu uns bons anos mais tarde Alexandre Soares dos Santos.

A solução foi vender o Brasil e focar-se na Polónia. E se nessa altura a Polónia consumia recursos de Portugal, hoje pesa 68% das vendas do grupo e 87% do seu EBITDA, que mede a rentabilidade operacional. Como Pedro Soares dos Santos já disse: "Somos uma companhia polaca com sede em Portugal." Mas agora também com um braço na Colômbia, a geografia escolhida para o regresso do grupo à América Latina. A expansão para este mercado tem já o selo de Pedro Soares dos Santos. Uma nova geografia já com Polónia consolidada. Não se comete o mesmo erro duas vezes.

Foi este país do centro da Europa que permitiu à Jerónimo Martins saltar de um negócio de 3,4 mil milhões de euros (vendas em 2003) para 16,27 mil milhões de euros em 2017. E de 920 lojas passou para um parque de 3.900 unidades.

Hoje é uma companhia sólida, e não pode viver do improviso. Não pode viver de não compreender o que pretende fazer.  Pedro Soares dos Santos

Foi precisamente em 2003 que o grupo Jerónimo Martins assumiu o ponto de viragem. Num relatório assinado por Alexandre Soares dos Santos, o empresário garantia: "2003 trouxe de volta o sabor do sucesso que sempre caracterizou a Jerónimo Martins. Confirmou-se, assim, o acerto das opções tomadas para a resolução dos problemas que nos afectaram no final da última década." Foi esse o último exercício que não teve direito a dividendo. O grupo, em plena crise, optou por não remunerar os seus accionistas pelos exercício de 2000, 2001, 2002 e 2003. Um contraste com a situação actual. Em 2017, o grupo - que vendeu entretanto a área industrial à empresa da família Soares dos Santos - resolveu ser generoso para com os accionistas: entregou, pelo segundo ano consecutivo, todos os lucros de 2017. Mas mesmo com este nível de dividendos, Pedro Soares dos Santos não tem dúvida: o grupo tem um balanço "muito forte". Hoje o grupo não tem dívida. Longe vão os tempos em que o endividamento superava os 1,8 mil milhões de euros ou que Alexandre Soares dos Santos deu a receita ao filho Pedro: "Quero estar sentado em dinheiro", disse em 2007.

Pedro Soares dos Santos já estava no grupo durante os "anos conturbados". Escalou no percurso da reviravolta do grupo e chegou ao topo. Primeiro como presidente executivo, em 2010, depois em 2013 acumulando com a função não executiva. Foi o sucessor de Alexandre Soares dos Santos no negócio da distribuição. "O que é que achas se te convidar para meu sucessor?" A pergunta do pai Alexandre ao filho Pedro feita em finais dos anos 1990 apanhou-o desprevenido. " Ele nunca tinha pensado nisso, porque nunca pensou que o tivesse como candidato", contou Alexandre Soares dos Santos ao Público em 2012. O patriarca via no filho características essenciais, apesar da rebeldia: líder nato e conhecedor do negócio "como ninguém", disse na mesma entrevista, confessando ainda: "Somos muito pouco diferentes."

Alexandre Soares dos Santos não tinha dúvidas - "o Pedro merecia ser o CEO. Merecia!", declarou ao Público em 2012 Alexandre Soares dos Santos - e estendeu-lhe o tapete. Com o espanto do próprio Pedro. Como revelou à Sábado, o actual líder do grupo: "A verdade é que durante muito tempo não me vi como elegível para suceder ao meu pai na liderança do grupo Jerónimo Martins, e muito menos era meu objectivo."

Mas é Pedro, hoje, que comanda o negócio da distribuição, o mais visível, até pelo facto de ser uma empresa cotada. Ao todo são sete os filhos de Alexandre Soares dos Santos. "Os negócios estiveram sempre presentes à mesa. Uma das características das empresas com uma forte componente familiar é que se leva permanentemente o negócio para casa", assumiu à Sábado Pedro Soares dos Santos.

À mesa os temas serão hoje mais diversificados. A família, além do grupo de distribuição, tem outros negócios na área industrial e mais recentemente o Oceanário. Também por isso Alexandre Soares dos Santos saiu do retalho. Como disse, já era a altura de se dedicar a outros projectos "com a confiança de quem sabe que deixa bem entregue a principal obra da sua vida".

CV

Pedro Soares dos Santos nasceu em 1960. Em 1983, iniciou-se nas lides do grupo que hoje lidera, como "chairman" e administrador-delegado. Mas na década de 1980 começou como assistente de compras de perecíveis no Pingo Doce. Passou por todas as áreas e geografias (Brasil, Polónia) até assumir em 2010 a presidência. 

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