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Pedro Soares dos Santos: Um líder que não esperava, mas há muito planeado
Depois de ter passado pelo Brasil e Polónia, o actual líder da Jerónimo Martins regressou, em 2001, a Portugal para assumir as rédeas do negócio nacional. Em 2010, foi o escolhido para suceder ao pai Alexandre Soares dos Santos na gestão do dia-a-dia do grupo que se manteve como um dos maiores investidores e empregadores em Portugal e rumou a uma nova geografia - Colômbia.
"O investimento da América do Sul devia ter tido lugar após a consolidação da Polónia. Surgiram-nos com uma companhia interessantíssima em São Paulo e deixámo-nos seduzir por essa compra. Mas não foi a compra que foi mal feita. O que foi mal feito foi não termos deixado aquela empresa quieta e sossegada e consolidar a Polónia e depois começar novamente com o Brasil", assumiu uns bons anos mais tarde Alexandre Soares dos Santos.
Foi este país do centro da Europa que permitiu à Jerónimo Martins saltar de um negócio de 3,4 mil milhões de euros (vendas em 2003) para 16,27 mil milhões de euros em 2017. E de 920 lojas passou para um parque de 3.900 unidades.
Foi precisamente em 2003 que o grupo Jerónimo Martins assumiu o ponto de viragem. Num relatório assinado por Alexandre Soares dos Santos, o empresário garantia: "2003 trouxe de volta o sabor do sucesso que sempre caracterizou a Jerónimo Martins. Confirmou-se, assim, o acerto das opções tomadas para a resolução dos problemas que nos afectaram no final da última década." Foi esse o último exercício que não teve direito a dividendo. O grupo, em plena crise, optou por não remunerar os seus accionistas pelos exercício de 2000, 2001, 2002 e 2003. Um contraste com a situação actual. Em 2017, o grupo - que vendeu entretanto a área industrial à empresa da família Soares dos Santos - resolveu ser generoso para com os accionistas: entregou, pelo segundo ano consecutivo, todos os lucros de 2017. Mas mesmo com este nível de dividendos, Pedro Soares dos Santos não tem dúvida: o grupo tem um balanço "muito forte". Hoje o grupo não tem dívida. Longe vão os tempos em que o endividamento superava os 1,8 mil milhões de euros ou que Alexandre Soares dos Santos deu a receita ao filho Pedro: "Quero estar sentado em dinheiro", disse em 2007.
Pedro Soares dos Santos já estava no grupo durante os "anos conturbados". Escalou no percurso da reviravolta do grupo e chegou ao topo. Primeiro como presidente executivo, em 2010, depois em 2013 acumulando com a função não executiva. Foi o sucessor de Alexandre Soares dos Santos no negócio da distribuição. "O que é que achas se te convidar para meu sucessor?" A pergunta do pai Alexandre ao filho Pedro feita em finais dos anos 1990 apanhou-o desprevenido. " Ele nunca tinha pensado nisso, porque nunca pensou que o tivesse como candidato", contou Alexandre Soares dos Santos ao Público em 2012. O patriarca via no filho características essenciais, apesar da rebeldia: líder nato e conhecedor do negócio "como ninguém", disse na mesma entrevista, confessando ainda: "Somos muito pouco diferentes."
Alexandre Soares dos Santos não tinha dúvidas - "o Pedro merecia ser o CEO. Merecia!", declarou ao Público em 2012 Alexandre Soares dos Santos - e estendeu-lhe o tapete. Com o espanto do próprio Pedro. Como revelou à Sábado, o actual líder do grupo: "A verdade é que durante muito tempo não me vi como elegível para suceder ao meu pai na liderança do grupo Jerónimo Martins, e muito menos era meu objectivo."
Mas é Pedro, hoje, que comanda o negócio da distribuição, o mais visível, até pelo facto de ser uma empresa cotada. Ao todo são sete os filhos de Alexandre Soares dos Santos. "Os negócios estiveram sempre presentes à mesa. Uma das características das empresas com uma forte componente familiar é que se leva permanentemente o negócio para casa", assumiu à Sábado Pedro Soares dos Santos.
À mesa os temas serão hoje mais diversificados. A família, além do grupo de distribuição, tem outros negócios na área industrial e mais recentemente o Oceanário. Também por isso Alexandre Soares dos Santos saiu do retalho. Como disse, já era a altura de se dedicar a outros projectos "com a confiança de quem sabe que deixa bem entregue a principal obra da sua vida".
CV
Pedro Soares dos Santos nasceu em 1960. Em 1983, iniciou-se nas lides do grupo que hoje lidera, como "chairman" e administrador-delegado. Mas na década de 1980 começou como assistente de compras de perecíveis no Pingo Doce. Passou por todas as áreas e geografias (Brasil, Polónia) até assumir em 2010 a presidência.