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Pedro Queiroz Pereira: o industrial que investe milhões em Portugal

Pedro Queiroz Pereira é hoje o grande industrial português. Só a Navigator investiu nos últimos 15 anos mais de 1,3 mil milhões de euros em Portugal. Também a Secil, onde passou a ter a totalidade do capital, tem feito investimentos, designadamente no Brasil. Ganhar a guerra de poder com Ricardo Salgado foi determinante para conseguir manter o controlo do grupo que herdou do pai.

Alexandre Azevedo
30 de Maio de 2018 às 14:00
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Costuma dizer aos mais próximos que com o dinheiro que ganha podia comprar um palácio no sul de França. Mas Pedro Queiroz Pereira não gosta de palácios nem do sul de França. Prefere investir e inaugurar novas fábricas. E é o que tem feito, quase a uma média de uma por ano.

Através da Semapa controla empresas como a Navigator, na área da pasta e papel, e a Secil, nos cimentos. Tem também projectos no ambiente e na energia. Em 2017, a sua holding teve lucros de mais de 124 milhões.

Nos últimos 15 anos, só a The Navigator Company (antiga Portucel) investiu cerca de 1.300 milhões de euros em Portugal. Um valor dificilmente superado por outra empresa industrial nacional. Em 2009, ano de crise, despendeu mais de 550 milhões de euros numa nova fábrica de papel na unidade de Setúbal. Em 2015, comprou a AMS, produtora de "tissue" (para lenços de papel, guardanapos ou papel higiénico) de Vila Velha de Rodão, para entrar numa nova área de negócio, num investimento global que ascendeu a cerca de 80 milhões de euros. Seguiram-se reforços de capacidade nesta unidade, assim como na fábrica de Cacia, que o empresário fez questão de inaugurar ainda nesse ano.

Eu pago impostos e ajudo a enriquecer o país. Nos últimos dez anos investi dois mil milhões de euros em Portugal. Pedro Queiroz Pereira

Apesar das ameaças de não continuar a investir no país, por falta de matéria-prima, acabou por pôr em marcha mais dois projectos no início de 2017, num total de 206 milhões de euros, nas fábricas de Cacia e da Figueira da Foz, os quais serão concluídos este ano.

A decisão do Governo de travar e, mais do que isso, reduzir a área de eucalipto em Portugal contrariou as suas pretensões. Os incêndios do ano passado politizaram o eucalipto, que passou a espécie "non grata". "Não parece ser este o caminho para evitar a desindustrialização", criticou o empresário, que nem de António Costa obteve o apoio que precisava para travar a medida no Parlamento. Sem madeira no país, o grupo tem sido obrigado a aumentar as importações. Queiroz Pereira diz que só não investe mais por falta de matéria-prima.

A Navigator, que gere hoje 120 mil hectares de floresta em Portugal, admite agora olhar para outras fontes de madeira fora do país, tendo na mira a Galiza, em Espanha. Em análise tem já novas oportunidades de investimento na pasta de eucalipto, sendo certo que só avançará fora de Portugal. Quer ainda reforçar a aposta na produção de energia eléctrica a partir da biomassa, sendo já responsável por cerca de 52% da produção total do país a partir desta fonte renovável. Em avaliação está o investimento em novos activos nesta área.

Hoje, a Navigator é líder mundial de papel de impressão escrita, exportando para 130 países. Segundo um estudo da KPMG que avaliou o impacto das unidades do grupo, a empresa gera mais de 30 mil empregos em Portugal, directos, indirectos e induzidos. Vende 100% do que produz , continua a somar lucros e a entregar dividendos. Tudo com pouca dívida.

O segredo do sucesso do grupo pode ser explicado pelos baixos custos de produção, graças ao investimento elevado em máquinas de última geração, e com as vendas para todo o mundo, não dependendo de mercados específicos.

A internacionalização da papeleira era uma ambição antiga. Moçambique foi o país escolhido para desenvolver um projecto integrado, de longo prazo, previsto ascender a 2,7 mil milhões de euros. A grande instabilidade da conjuntura político-económica obrigou-o a reduzir o ritmo do investimento.

Em 2014, o grupo avançou para uma nova área de negócio num país que decidiu conhecer do ponto de vista industrial, os Estados Unidos. Investiu então cerca de 110 milhões de dólares (cerca de 89 milhões de euros) na construção de uma fábrica de "pellets" (concentrados de madeira utilizados como combustível) na Carolina do Sul. Mas no final de 2017 "uma oportunidade financeira atractiva para proceder ao desinvestimento" surgiu e alienou a operação já este ano por 135 milhões de dólares (cerca de 112 milhões de euros). Com isso teve uma mais-valia de mais de 15 milhões de euros.

Dono de 100% da Secil

O cimento é outra área onde Queiroz Pereira tem apostado. Falhadas as tentativas de ficar com a Cimpor, o empresário tem investido na Secil, quer no reforço da posição da Semapa na empresa, quer na entrada em novos mercados.

Em 2012, para que a sua holding ficasse com a totalidade do capital da Secil (onde tinha 51%) pagou 574 milhões de euros à irlandesa CRH, a qual tinha gasto, em 2004, 333 milhões de euros para comprar à Semapa uma participação de 45% no capital da segunda maior cimenteira nacional.

A Secil tem investido em vários mercados, num processo de internacionalização que se iniciou em 2000 pela Tunísia, se estendeu ao Líbano e chegou em 2011 ao Brasil, com a aquisição de uma participação na Supremo Cimentos, onde quatro anos depois assumiu a totalidade do capital e inaugurou uma nova fábrica de cimento em Adrianópolis, num investimento de cerca de 186 milhões de euros. Também em Espanha e na Holanda, o grupo tem feito investimentos.

A guerra com Salgado

Se Queiroz Pereira mantém todos estes projectos de investimento é porque conseguiu assegurar o seu grupo industrial em 2013. Esse ano foi de importantes vitórias para o empresário, na sequência das guerras abertas com a sua irmã Maude e com o Grupo Espírito Santo. Queiroz Pereira impediu "in extremis" aquilo a que chamou de "tentativa de assalto à diligência", na disputa pelo controlo do seu grupo industrial.

O conflito com Ricardo Salgado foi resolvido com o descruzamento das participações históricas entre as duas famílias. E saiu caro ao líder do BES depois de Queiroz Pereira ter feito denúncias junto do Banco de Portugal de suspeitas de irregularidades financeiras no GES.

CV

Pedro Queiroz Pereira  é presidente do conselho de administração da Semapa, através da qual controla a Navigator e a Secil. O empresário nasceu em Lisboa em 1949 e frequentou o Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa. Foi também piloto de competição até assumir a liderança do grupo industrial familiar.



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