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Paulo Azevedo: CEO atípico mostra o que o "professor" Belmiro ensinou
Paulo Azevedo chegou ao mais alto patamar da Sonae, o maior empregador de Portugal. O grupo está lançado e prepara mais uma operação no mercado de capitais. Quando as saídas de bolsa se acumulam, a Sonae vai colocar o seu principal negócio disponível à negociação. Paulo Azevedo partilha a liderança executiva na Sonae com Paupério. Mas foi o filho que Belmiro escolheu para sucessor.
A compra não foi conseguida, mas a Sonae esteve sempre do lado vencedor. Ficou com o que mais lhe interessava: uma das redes de telecomunicações que estava nas mãos da PT. Não bastou a OPA. Teve de lutar mais por ela. Conseguiu-o através de uma fusão da "sua" Optimus com a convertida Zon (até 2007 foi PT Multimédia, com a rede de televisão por cabo), estabelecendo uma parceria com a empresária angolana Isabel dos Santos. Mesmo não tendo sido bem-sucedido numa aliança com a mesma responsável para a distribuição em Angola.
Paulo Azevedo
Foram vários os embates da Sonae com os diversos governos. Belmiro de Azevedo era mais crítico em relação a essas dificuldades. Paulo Azevedo sempre tentou ser mais apaziguador. E menos polémico. Até aconselhava o pai a fazer o mesmo, a suavizar o discurso.
Em 2003, Paulo Azevedo estava na Sonaecom, em 2007 foi escolhido para sucessor de Belmiro na liderança executiva da Sonae. Tinha acabado de perder a OPA, travada contra poderosos. Paulo já estava destinado à liderança, mas o desfecho da operação acelerou o processo. Mesmo que uns dias antes do lançamento da OPA em 2006 a Visão o tenha questionado sobre a preparação para suceder a Belmiro no grupo. A resposta: "Hhhuuuummm. Não sei se sou a pessoa que está mais bem preparada."
Era mesmo. E o seu reinado à frente da Sonae, discreto, já tem a sua marca. A Sonae, hoje, envolve-se em poucos negócios que tenham de passar pelo Estado, mas também não o confronta tanto. E reforçou a sua história. A Sonae é um grupo de distribuição, com presença nos centros comerciais e nas telecomunicações em parceria. A Sonae, hoje em dia, prefere assumir que já não é a empresa que não gosta de ter capital sem mando. Mas mesmo nos casos em que não tem a totalidade do capital, tem sempre um forte mando. É da sua natureza.
Como é da natureza do grupo nortenho aproveitar as oportunidades que o mercado de capitais abre. Está, por estes dias, a preparar a dispersão de capital do negócio de retalho alimentar (incluindo a unidade que tem os imóveis associado a este comércio). Em 2006, a Sonae tinha retirado de bolsa a Modelo Continente, que começou a ser cotada em 1987, quando Belmiro de Azevedo colocou, de uma assentada, sete empresas em bolsa, usufruindo, então, de benefícios fiscais pela forma como o fez, operação que ficou para a história como as "sete OPV" e que ainda lhe valeu um processo, entretanto arquivado.
Belmiro de Azevedo defendeu sempre esta "ousadia" da Sonae, sempre, realçou, de acordo com a lei. Em 1987, ainda Ângelo Paupério não estava na Sonae. Entrou dois anos depois para, juntamente com Paulo Azevedo, avançar no projecto de televisão do grupo, tendo conseguido uma posição de relevo na TVI, colocando José Eduardo Moniz à frente da estação. Perdeu a TVI para a Media Capital, então de Pais do Amaral, mas não perdeu dinheiro.
Essa é, aliás, outra das características que ao longo de todos estes anos caracterizou a Sonae: não perder dinheiro, e ir à luta, até à justiça, dure os anos que durar. Foi também ela uma empresa endividada. Quando assumiu a presidência executiva Paulo Azevedo "apanhou" uma empresa com uma dívida acima dos 2 mil milhões de euros. Ainda passou, nesses primeiros anos, a fasquia dos 3 mil milhões. Mas foi estancada e actualmente está em cerca de 1,2 mil milhões. Em 10 anos de Paulo Azevedo, o volume de negócios da Sonae aumentou mil milhões de euros: passou dos 4,63 mil milhões de euros em 2007 para os 5,71 mil milhões em 2017. A Sonae estará preparada para outros voos, mas fá-lo cada vez mais discretamente. E já sem a presença do "professor" Belmiro (morreu no ano passado). Paulo Azevedo até a liderança executiva resolveu partilhar com o seu braço-direito, Ângelo Paupério. "Não tenho ambição pessoal. Tenho muita ambição pela empresa, mas não pessoal", declarou em 2016, quando se descreveu como líder atípico.
CV
Paulo azevedo nasceu no Porto em 1965. No último dia do ano. Licenciou-se em Engenharia Química na Suíça. Fez o percurso dentro da Sonae, passando por todos os negócios no grupo. A entrada da TVI foi um dos seus primeiros projectos. E a OPA sobre a PT considerado o mais ousado. No seguimento dessa oferta, ascendeu à liderança do grupo.