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Sogrape cria marca de vinho para aproveitar "liberalização" do alvarinho
A dona do Gazela e Morgadio da Torre junta o Azevedo ao portefólio de vinhos verdes. Da primeira colheita produziu 158 mil garrafas de alvarinho/loureiro, categoria legalizada após o polémico acordo que dividiu a região.
A Sogrape aproveitou o polémico acordo de "liberalização" do alvarinho para lançar uma nova marca na região dos vinhos verdes. Chama-se Azevedo, que é o nome da propriedade com mais de 30 hectares de vinha comprada nos anos 1980 no concelho de Barcelos, e as duas primeiras referências chegam ao mercado com a mesma composição em termos de lote: 70% loureiro e 30% alvarinho.
Segundo calculou ao Negócios fonte oficial da maior empresa portuguesa de vinhos, desta primeira colheita de 2017 foram produzidas 110 mil garrafas de Azevedo Loureiro/Alvarinho e 48 mil garrafas de Quinta de Azevedo Reserva. Posicionados como vinhos "premium", os preços recomendados para venda ao público (indicativos e não vinculativos) são 4,49 euros e 6,99 euros, respectivamente.
A categoria alvarinho/loureiro estava proibida por lei até à assinatura do acordo, em Janeiro de 2015, que alargou a toda a região a possibilidade de comercializar vinhos verdes desta valiosa casta, que até essa altura era um exclusivo da sub-região de Monção e Melgaço. É que este entendimento pôs também fim a uma espécie de fronteira artificial que só permitia alvarinho nesses dois concelhos do Alto Minho e a casta loureiro – "rainha" na produção de vinhos verdes – nos restantes municípios da região, localizados a Sul.
De acordo com os dados divulgados em Abril pelo presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), Manuel Pinheiro, que num balanço dos primeiros três anos da aplicação desta legislação atestou que as vendas de Monção e Melgaço até subiram 32,3% em volume durante o período em análise, também a produção desta nova categoria alvarinho / loureiro já ascendeu no ano passado a quase um milhão de litros.
Três marcas e dois dígitos nas vendas
Azevedo é a terceira marca deste produto no portefólio da Sogrape Vinhos, apontando a empresa que nas contas de 2017 "o peso da exportação dos vinhos verdes no total das vendas foi de 11% em volume e 8% em valor". A principal referência – e eleita como "uma das prioritárias" no plano estratégico traçado pela multinacional com sede em Vila Nova de Gaia – continua a ser o Gazela, um dos "porta-aviões" do sector, que no ano passado vendeu cerca de oito milhões de garrafas em todo o mundo e há duas semanas foi um dos destaques da "Vinho Verde Wine Experience", organizada pela CVRVV em Nova Iorque.
Ainda nesta região demarcada em 1908, em que 15 mil agricultores produzem 100 mil toneladas de uva que são vinificadas e engarrafadas por 600 empresas, a Sogrape comercializa também o Morgadio da Torre, um 100% Alvarinho da sub-região de Monção e Melgaço. A mesma fonte ressalvou que vai continuar a existir como marca autónoma (ou seja, não faz parte da gama Azevedo) e que na última colheita foram produzidas 30 mil garrafas.
"Temos já marcas de grande notoriedade nos vinhos verdes, mas com Azevedo damos um novo passo para vinhos que satisfaçam o consumidor que tem preferência por brancos frescos e aromáticos, mas com uma maior complexidade, um sabor mais persistente e menos gás. Este é o perfil que tem registado maior crescimento e Azevedo responde a esta tendência de modernidade. De resto, estamos também a dar resposta ao reconhecimento crescente que a casta Alvarinho tem vindo a conquistar não só em Portugal como internacionalmente", justificou João Gomes da Silva, administrador da Sogrape Vinhos.
Além dos vinhos verdes, a Sogrape tem produção em várias outras regiões portuguesas – Douro, Dão, Bairrada, Alentejo e Madeira –, assim como operações espalhadas por Espanha, Chile, Argentina e Nova Zelândia. A empresa detentora das marcas Mateus Rosé, Sandeman ou Barca Velha, que a 20 de Junho viu desaparecer o patriarca Fernando Guedes (filho de um dos fundadores e pai do actual presidente executivo), factura mais de 215 milhões de euros, emprega cerca de mil trabalhadores e tem 1.500 hectares de vinha plantada (mais de metade localizada em Portugal), comercializando uma média de 135 garrafas de vinho por minuto.