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Vendas de Monção e Melgaço subiram 32% desde a "liberalização" do alvarinho
Três anos após o polémico acordo que agitou os vinhos verdes, a sub-região que perdeu o exclusivo até foi "a grande vencedora" comercial, mantendo o preço das uvas e as vinhas em pé. O maior impacto pode chegar em 2021.
Nos primeiros três anos da aplicação da nova lei que permitiu o alargamento a toda a região da possibilidade de comercializar vinhos verdes da casta alvarinho, que era um exclusivo dos municípios de Monção e Melgaço (MM), as vendas deste valioso produto naquela sub-região afectada pelo acordo subiram 32,3% em volume, de 1,41 para 1,87 milhões de litros, sobretudo no mercado nacional.
Além disso, também a comercialização dos vinhos produzidos ali com as castas alvarinho / trajadura aumentou 17% face a 2014, para 3,32 milhões de litros. E a categoria alvarinho / loureiro, que estava proibida pela legislação anterior – havia uma espécie de fronteira artificial que só permitia a primeira casta naqueles dois concelhos do Alto Minho e a segunda nos restantes, a Sul – já ascendeu a quase um milhão de litros no ano passado.
Os dados divulgados esta quarta-feira, 4 de Abril, pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) comparam com o aumento de "apenas" 5% nas vendas globais da região durante este mesmo período de três anos. "Quando se pensava que o acordo era a grande derrota de Monção e Melgaço, verifica-se que eles são os grandes vencedores", sublinhou ao Negócios o presidente deste organismo com sede no Porto, Manuel Pinheiro.
"Ao fim de três anos, sendo possível fazer uma primeira avaliação, a grande surpresa é que os grandes vencedores foram os produtores de MM e não os outros. Aumentam as suas vendas muito acima da média do vinho verde. A segunda surpresa é que um vinho novo, como o alvarinho / loureiro já é muito relevante e vai continuar a crescer para ser uma categoria vencedora", acrescentou, lembrando ainda o orçamento promocional de três milhões de euros para a sub-região e que afinal se estenderá por mais do que seis anos, já que nos dois primeiros a execução ficou aquém do programado.
Sem "inundação" de alvarinho antes do impacto de 2021
Foi em Dezembro de 2013 que a CVRVV iniciou um processo negocial para alterar o estatuto especial da sub-região de MM, existente desde 1908, e passar a aplicar a mesma regra a todos os produtores. Mais de um ano depois, em Janeiro de 2015, saiu "fumo branco" de um grupo de trabalho mandatado pelo Ministério da Agricultura para resolver o polémico diferendo relativo ao alargamento a toda a região da possibilidade de comercializar vinhos verdes da casta alvarinho, que é aquela de maior valor.
O acordo é amplo [ver caixa no final do texto], mas no centro do debate, que dividiu a região e contou até ao fim com a oposição do poder local em Melgaço, estava a possibilidade de todas as empresas mencionarem a casta, isto é, rotularem Vinho Verde Alvarinho, que era um exclusivo de MM. Nos restantes 35 concelhos da região, a casta já era plantada e vinificada, mas se o produtor quisesse mencioná-la não podia chamar-lhe "Vinho Verde", mas rotular apenas "Vinho Regional Minho", que não tem o mesmo valor comercial no mercado nacional e internacional.
No entanto, o verdadeiro e total impacto da alteração da lei apenas se deverá sentir em 2021, quando houver a aplicação plena do acordo e, depois do período transitório fixado em seis anos, acabar a regra de que só as uvas da casta alvarinho vinificadas em MM podem dar origem a VV Alvarinho. Manuel Pinheiro reconhece esse facto, mas alega com "outro sinal curioso" para indiciar que o efeito para os 67 produtores e quase dois mil viticultores destes municípios minhotos pode afinal ser mitigado.
"As novas vinhas que estão a ser plantadas [no resto da região] não são alvarinho, mas arinto e loureiro, que são mais interessantes e produtivas. Não se está a verificar o que se receava: que se começasse a plantar alvarinho para [no final do período de transição] inundar o mercado de alvarinho. Porquê? Porque é menos produtivo. Como temos escassez de matéria-prima – o vinho verde está a vender toda a sua produção – os produtores [fora de MM] estão à procura de outras castas. O alvarinho garante alta qualidade, mas não garante alta produtividade", resumiu o líder da CVRVV.
O preço das uvas e as vinhas em pé
Outro "cenário catastrofista" afastado pelo responsável máximo dos vinhos verdes, que é, a par do Douro, uma das regiões vitivinícolas portuguesas em destaque nas exportações em 2017 (61,6 milhões de euros, com um preço médio no exterior de 2,35 euros por litro e EUA e Alemanha como melhores mercados) foi a possibilidade de haver uma baixa do preço das uvas alvarinho na sequência deste acordo. Ora, de acordo com os cálculos da Adega de Monção, que é a maior empresa da sub-região, o preço desta uva mantém-se estável, ligeiramente acima de um euro por quilo. E compara com os 45 cêntimos pagos, em média, no resto da região.
E também o receio de que houvesse um abandono da vinha em Monção e Melgaço – o primeiro concelho tem perto de 900 hectares e o segundo 450 hectares de terrenos dedicados exclusivamente à produção daquele vinho – é rechaçado pela CVRVV. Pelo contrário, sublinha o "elevado índice de reconversão de vinha" naqueles dois municípios e alude também a "novos investimentos em curso e anunciados" e a cada vez mais "firmas de fora da região a procurarem propriedades para comprar" no Alto Minho.
Os sete pontos do polémico acordo no alvarinho
Confira as principais mudanças acertadas no acordo para o alargamento que esteve a ser negociado durante mais de um ano até à assinatura final em Janeiro de 2015, dando origem à publicação de nova legislação.
1 - Distinção da sub-região de Monção e Melgaço (MM) na rotulagem: foi criado um selo de garantia específico; MM é a única sub-região a poder usar a designação da casta Alvarinho conjugada com a sub-região.
3 - Lote mínimo com menção a alvarinho: passou a existir um lote mínimo de 30% de Alvarinho para que a casta possa ser mencionada na rotulagem.
4 - Produção de alvarinho DO (Denominação de Origem) a partir de uvas MM: durante um período transitório de seis anos, só as uvas da casta Alvarinho vinificadas em MM podem dar origem a Vinho Verde Alvarinho (com salvaguarda de +6 ou 12 anos em casos de excepção). A aplicação plena do acordo só a partir de 2021.
5 - Igualar as regras Denominação de Origem / Indicação Geográfica: as regras de produção e rotulagem aplicáveis à casta alvarinho são igualadas no Vinho Verde e no vinho com Indicação Geográfica Minho.
6 - Investimento promocional: a CVRVV investe três milhões de euros ao longo dos próximos anos na promoção da sub-região MM como território produtor de vinhos de excelência, para permitir aos produtores afirmarem esta nova "marca" do território e ultrapassarem a dependência exclusiva da designação da casta.
7 - Comissão de Monitorização: foi criada uma comissão com representantes das partes, da CVRVV e do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), que se reúne semestralmente para avaliar a aplicação do acordo e, se necessário, emitir recomendações.