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Vendas de Monção e Melgaço subiram 32% desde a "liberalização" do alvarinho

Três anos após o polémico acordo que agitou os vinhos verdes, a sub-região que perdeu o exclusivo até foi "a grande vencedora" comercial, mantendo o preço das uvas e as vinhas em pé. O maior impacto pode chegar em 2021.

DR
04 de Abril de 2018 às 13:00
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Nos primeiros três anos da aplicação da nova lei que permitiu o alargamento a toda a região da possibilidade de comercializar vinhos verdes da casta alvarinho, que era um exclusivo dos municípios de Monção e Melgaço (MM), as vendas deste valioso produto naquela sub-região afectada pelo acordo subiram 32,3% em volume, de 1,41 para 1,87 milhões de litros, sobretudo no mercado nacional.

 

Além disso, também a comercialização dos vinhos produzidos ali com as castas alvarinho / trajadura aumentou 17% face a 2014, para 3,32 milhões de litros. E a categoria alvarinho / loureiro, que estava proibida pela legislação anterior – havia uma espécie de fronteira artificial que só permitia a primeira casta naqueles dois concelhos do Alto Minho e a segunda nos restantes, a Sul – já ascendeu a quase um milhão de litros no ano passado.

 

Os dados divulgados esta quarta-feira, 4 de Abril, pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) comparam com o aumento de "apenas" 5% nas vendas globais da região durante este mesmo período de três anos. "Quando se pensava que o acordo era a grande derrota de Monção e Melgaço, verifica-se que eles são os grandes vencedores", sublinhou ao Negócios o presidente deste organismo com sede no Porto, Manuel Pinheiro.

 

"Ao fim de três anos, sendo possível fazer uma primeira avaliação, a grande surpresa é que os grandes vencedores foram os produtores de MM e não os outros. Aumentam as suas vendas muito acima da média do vinho verde. A segunda surpresa é que um vinho novo, como o alvarinho / loureiro já é muito relevante e vai continuar a crescer para ser uma categoria vencedora", acrescentou, lembrando ainda o orçamento promocional de três milhões de euros para a sub-região e que afinal se estenderá por mais do que seis anos, já que nos dois primeiros a execução ficou aquém do programado.

 

Sem "inundação" de alvarinho antes do impacto de 2021

 

Foi em Dezembro de 2013 que a CVRVV iniciou um processo negocial para alterar o estatuto especial da sub-região de MM, existente desde 1908, e passar a aplicar a mesma regra a todos os produtores. Mais de um ano depois, em Janeiro de 2015, saiu "fumo branco" de um grupo de trabalho mandatado pelo Ministério da Agricultura para resolver o polémico diferendo relativo ao alargamento a toda a região da possibilidade de comercializar vinhos verdes da casta alvarinho, que é aquela de maior valor.

 

O acordo é amplo [ver caixa no final do texto], mas no centro do debate, que dividiu a região e contou até ao fim com a oposição do poder local em Melgaço, estava a possibilidade de todas as empresas mencionarem a casta, isto é, rotularem Vinho Verde Alvarinho, que era um exclusivo de MM. Nos restantes 35 concelhos da região, a casta já era plantada e vinificada, mas se o produtor quisesse mencioná-la não podia chamar-lhe "Vinho Verde", mas rotular apenas "Vinho Regional Minho", que não tem o mesmo valor comercial no mercado nacional e internacional.

 

Como há escassez de matéria-prima – o vinho verde está a vender toda a produção –, os produtores [fora de Monção e Melgaço] estão a plantar outras castas mais produtivas. Manuel Pinheiro, presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes

 

No entanto, o verdadeiro e total impacto da alteração da lei apenas se deverá sentir em 2021, quando houver a aplicação plena do acordo e, depois do período transitório fixado em seis anos, acabar a regra de que só as uvas da casta alvarinho vinificadas em MM podem dar origem a VV Alvarinho. Manuel Pinheiro reconhece esse facto, mas alega com "outro sinal curioso" para indiciar que o efeito para os 67 produtores e quase dois mil viticultores destes municípios minhotos pode afinal ser mitigado.

 

"As novas vinhas que estão a ser plantadas [no resto da região] não são alvarinho, mas arinto e loureiro, que são mais interessantes e produtivas. Não se está a verificar o que se receava: que se começasse a plantar alvarinho para [no final do período de transição] inundar o mercado de alvarinho. Porquê? Porque é menos produtivo. Como temos escassez de matéria-prima – o vinho verde está a vender toda a sua produção – os produtores [fora de MM] estão à procura de outras castas. O alvarinho garante alta qualidade, mas não garante alta produtividade", resumiu o líder da CVRVV.

 

Manuel Pinheiro, presidente da região dos vinhos verdes, foi um dos principais impulsionadores da liberalização do alvarinho.
Manuel Pinheiro, presidente da região dos vinhos verdes, foi um dos principais impulsionadores da liberalização do alvarinho.

 

O preço das uvas e as vinhas em pé

 

Outro "cenário catastrofista" afastado pelo responsável máximo dos vinhos verdes, que é, a par do Douro, uma das regiões vitivinícolas portuguesas em destaque nas exportações em 2017 (61,6 milhões de euros, com um preço médio no exterior de 2,35 euros por litro e EUA e Alemanha como melhores mercados) foi a possibilidade de haver uma baixa do preço das uvas alvarinho na sequência deste acordo. Ora, de acordo com os cálculos da Adega de Monção, que é a maior empresa da sub-região, o preço desta uva mantém-se estável, ligeiramente acima de um euro por quilo. E compara com os 45 cêntimos pagos, em média, no resto da região.

 

E também o receio de que houvesse um abandono da vinha em Monção e Melgaço – o primeiro concelho tem perto de 900 hectares e o segundo 450 hectares de terrenos dedicados exclusivamente à produção daquele vinho – é rechaçado pela CVRVV. Pelo contrário, sublinha o "elevado índice de reconversão de vinha" naqueles dois municípios e alude também a "novos investimentos em curso e anunciados" e a cada vez mais "firmas de fora da região a procurarem propriedades para comprar" no Alto Minho.

Os sete pontos do polémico acordo no alvarinho

Confira as principais mudanças acertadas no acordo para o alargamento que esteve a ser negociado durante mais de um ano até à assinatura final em Janeiro de 2015, dando origem à publicação de nova legislação.

1 - Distinção da sub-região de Monção e Melgaço (MM) na rotulagem: foi criado um selo de garantia específico; MM é a única sub-região a poder usar a designação da casta Alvarinho conjugada com a sub-região.

2 - Possibilidade de lotar alvarinho MM com outras castas: permitiu aos produtores de MM adquirir outros vinhos de casta na região e lotar com alvarinho e aos produtores do resto da região adquirir alvarinho em MM; todos sem perda do direito de o mencionarem na rotulagem.

3 - Lote mínimo com menção a alvarinho: passou a existir um lote mínimo de 30% de Alvarinho para que a casta possa ser mencionada na rotulagem.

4 - Produção de alvarinho DO (Denominação de Origem) a partir de uvas MM: durante um período transitório de seis anos, só as uvas da casta Alvarinho vinificadas em MM podem dar origem a Vinho Verde Alvarinho (com salvaguarda de +6 ou 12 anos em casos de excepção). A aplicação plena do acordo só a partir de 2021.

5 - Igualar as regras Denominação de Origem / Indicação Geográfica: as regras de produção e rotulagem aplicáveis à casta alvarinho são igualadas no Vinho Verde e no vinho com Indicação Geográfica Minho.

6 - Investimento promocional: a CVRVV investe três milhões de euros ao longo dos próximos anos na promoção da sub-região MM como território produtor de vinhos de excelência, para permitir aos produtores afirmarem esta nova "marca" do território e ultrapassarem a dependência exclusiva da designação da casta.

7 - Comissão de Monitorização: foi criada uma comissão com representantes das partes, da CVRVV e do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), que se reúne semestralmente para avaliar a aplicação do acordo e, se necessário, emitir recomendações.

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