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Hollande: “O que pedimos à Grécia é que os ricos paguem impostos”

À chegada à cimeira europeia, o presidente francês e a chanceler alemã esvaziaram as expectativas de Alexis Tsipras que disse esperar "decisões corajosas" de Bruxelas. Com os cofres gregos quase vazios e os juros da dívida em máximos de quase dois anos, Atenas quererá uma solução especial para que, o quanto antes, a Europa possa transferir mais fundos, evitando uma situação de "default".

4 de Fevereiro – Tsipras após encontro com o presidente francês 

'Precisamos de um novo acordo para fazer regressar o crescimento e a coesão social à Europa. França tem de desempenhar um papel decisivo na mudança da política europeia”.
Reuters
19 de Março de 2015 às 18:34
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O presidente francês François Hollande instou, nesta quinta-feira, 19 de Março, a Grécia a cumprir os compromissos de reforma assumidos com o Eurogrupo a 20 de Fevereiro, garantindo que, se esse for o caso, também a Europa cumprirá os seus, assegurando meios de financiamento ao país.

 

"Os gregos escolheram um governo democraticamente, mas há compromissos que permanecem, para a Grécia e para todos os países, porque o que está em causa são financiamentos europeus e nacionais", acrescentou o presidente francês, à chegada à cimeira que decorre hoje e amanhã na capital belga.

 

Questionado sobre a decisão do parlamento grego, que ontem aprovou um pacote de ajuda à população mais carenciada, Hollande respondeu: "Que o governo grego se esforce para ajudar os mais pobres não me choca; o que pedimos à Grécia é que peça aos ricos para pagar os impostos".

 

Já antes, vários líderes europeus, incluindo a chanceler Angela Merkel, haviam sinalizado que a solução para os problemas da Grécia passa essencialmente por reformas que terão de ser levadas a cabo pelo governo grego no próprio país e que não passe de mágica política. "Ninguém pode esperar uma solução para os problemas da Grécia esta noite" ou mesma na segunda-feira, avisou Merkel, referindo-se ao encontro bilateral com Alexis Tsipras que visita Berlim, a convite da chanceler.

  

Há uma grande diferença entre argumentos políticos e ameaças de mandar jihadistas para a Europa".

  

Enda Kenny
Primeiro-ministro da Irlanda

"O sentimento entre os líderes políticos é que a Grécia e os políticos gregos têm de estar à altura das suas responsabilidades. A bola está do seu lado", afirmou o primeiro-ministro irlandês Enda Kenny. "O primeiro-ministro pediu tempo e espaço e isso foi-lhe dado para que avance com propostas sustentáveis e exequíveis. A Grécia precisa de reflectir rapidamente porque o tempo está a esgotar-se", acrescentou, depois de ter criticado a linguagem do novo governo de Atenas. "Há uma grande diferença entre argumentos políticos e ameaças de mandar jihadistas para a Europa".

 

Alexis Tsipras chegou hoje a Bruxelas a pedir "decisões corajosas" da Europa, depois de na véspera ter afirmado no parlamento grego que o problema de falta de liquidez no país não é técnico mas "político". "A União Europeia precisa de iniciativas políticas corajosas, que respeitem quer a democracia quer os Tratados. Deixemos a crise para trás e caminhemos na direcção do crescimento", afirmou aos jornalistas.

 

Segundo o correspondente do The Guardian em Atenas, que cita fontes próximas do Executivo grego, os cofres de Atenas estarão praticamente exauridos e Tsipras quererá na mini-cimeira, que pediu para que tenha lugar esta noite com Merkel, Hollande e os presidentes da Comissão (Jean-Claude Juncker), Conselho (Donald Tusk) e Eurogrupo (Jeroen Dijsselbloem), propor um "compromisso honorável" que passará por Atenas prometer activar de imediato as privatizações e manter as impopulares taxas sobre o património a troco do desbloqueamento imediato de fundos.

 

"Estamos a tentar aproveitar o momento para pressionar no sentido de uma solução política antes que o período de quatro meses [de extensão do resgate] se esgote. A liquidez tornou-se um problema enorme e se não resolvemos este problema como é que conseguiremos resolver qualquer outro?", refere a fonte governamental citada pelo The Guardian. 

 

Dentro do programa de assistência financeira da troika, que foi prolongado até ao fim de Junho, ainda estão disponíveis cerca de sete mil milhões de euros, mas os fundos só serão libertados se o Governo fizer reformas concretas e que aumentem a capacidade da Grécia voltar a bastar-se a si mesma, depois de estar a receber desde Maio de 2010 o maior empréstimo e o maior perdão de dívida da história contemporânea.

  

Contudo, uma semana depois de terem sido relançadas, as negociações técnicas entre as autoridades gregas e os representantes da troika estão porém travadas e, segundo relatos das agências internacionais, a promessa de Atenas de concretizar um programa de reformas credíveis – como consta do acordo de 20 Fevereiro a troco da extensão em quatro meses da assistência financeira internacional – ainda não passou disso mesmo, e não terá sequer disponibilizado os números necessários para se traçar um quadro actualizado da situação orçamental e financeira do país.

 

Estimativas não oficiais apontam para quebras homólogas nas receitas fiscais em Janeiro e Fevereiro da ordem de 1,5 mil milhões de euros. Muitos gregos não pagam impostos quando há eleições e as promessas de amnistia fiscal do Syriza terão agravado essa tendência. Para captar liquidez, o governo tem vendido obrigações nos mercados, mas os investidores exigem prazos curtos e juros muito elevados. Escreve o Financial Times que o BCE suspeita que, em violação das suas recomendações, o essencial desses títulos esteja a ser comprado pelos bancos gregos (maioritariamente do Estado) através da linha de financiamento de emergência que voltou hoje a ser aumentada, e que estará a chegar de forma residual à economia "real". 

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