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Schulz: "A situação financeira na Grécia é perigosa"

Alexis Tsipras quer trazer o problema grego para o palco político da cimeira de Bruxelas, mas o mais provável é que seja aconselhado a fazer as reformas que prometeu se quer receber novas transferências. "O Governo grego tem de actuar e agora", avisou o presidente do Parlamento Europeu. "Ninguém quer um Grexit", assegurou, por seu lado, Donald Tusk, que presidirá à cimeira de hoje e amanhã.

Reuters
19 de Março de 2015 às 14:13
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O presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz afirmou nesta quinta-feira que a situação financeira da Grécia é "perigosa" e que o país precisa de dois a três mil milhões de euros para evitar no curto prazo a "bancarrota". "O tempo é curto", disse Schulz à rádio alemã Deutschlandfunk.

 

"Portanto, seria bom se a Grécia cumprisse as obrigações com que se comprometeu, e, nesse caso, novas transferências poderão ser feitas", disse, referindo-se aos mais de sete mil milhões de euros comprometidos no programa de assistência financeira prolongado até ao fim de Junho e que estão dependentes de Atenas executar as medidas acordadas no Eurogrupo de 20 de Fevereiro.


O responsável europeu falava horas antes do início da cimeira europeia de Bruxelas, que será consagrada à resposta europeia face à ofensiva russa na Ucrânia e à união energética. Contudo, a pedido de Alexis Tsipras, a situação na Grécia será discutida com a chanceler alemã Angela Merkel, o presidente francês François Hollande e os presidentes da Comissão (Jean-Claude Juncker) e Conselho (Donald Tusk).

 

Em Bruxelas, Jean-Claude Juncker, o presidente da Comissão Europeia insistiu na mesma mensagem. Questionado sobre o que dirá esta noite ao primeiro-ministro grego, respondeu: "Irei repetir o que já lhe disse por duas vezes: a Grécia tem de fazer as reformas necessárias, a Grécia têm tem de dar seguimento aos compromissos que assumiu no Eurogrupo de 20 de Fevereiro".

 

Donald Tusk, por seu turno, baixou ao mínimo as expectativas sobre o resultado da mini-cimeira pedida por Atenas. "Este encontro informal não será decisivo nem o último". "Tenho até lido na imprensa, que este encontro será a última chance para a Grécia [manter-se no euro]. Não é. E ninguém quer um Gréxit". O presidente do Conselho e antigo primeiro-ministro polaco disse, porém, que este encontro é útil para "evitar uma confrontação política" e preparar decisões futuras.

 

Também o primeiro-ministro holandês Mark Rutte disse que "cabe à Grécia cumprir o acordado

Irei repetir o que já lhe disse por duas vezes: a Grécia tem de fazer as reformas necessárias, a Grécia têm tem de dar seguimento aos compromissos que assumiu no Eurogrupo de 20 de Fevereiro.
 
Jean-Claude Juncker
Presidente da Comissão Europeia

com o Eurogrupo", ao passo que o seu colega finlandês avisava que o seu país não entrará no financiamento de um provável terceiro resgate à Grécia, como tem sido requerido por Atenas sob a designação de "novo contrato para o crescimento".

 

A convite de Angela Merkel, Alexis Tspiras irá a Berlim na segunda-feira. Falando no Bundestag esta manhã, a chanceler alemã repetiu que o lugar da Grécia é no euro e que não deve ser permitido que nenhum país abandone a união monetária. "Se o euro falhar, a Europa falha. Os olhos do mundo estão a ver como resolvemos problemas e crises em cada país da Zona Euro. O euro é mais do que uma moeda", afirmou. Contudo, acrescentou, é preciso que a Grécia honre os seus compromissos.   

 

Negociações no terreno estão travadas

 

Uma semana depois de terem sido relançadas, as negociações técnicas entre as autoridades gregas e os representantes da troika estão travadas e, segundo relatos das agências internacionais, a promessa de Atenas de concretizar um programa de reformas credíveis – como consta do acordo de 20 Fevereiro a troco da extensão em quatro meses da assistência financeira internacional – ainda não passou disso mesmo, e não terá sequer disponibilizado os números necessários para se traçar um quadro actualizado da situação orçamental e financeira do país.

 

A paciência dos credores com as autoridades gregas parece prestes a esgotar-se, sobretudo no seio do Fundo Monetário Internacional (FMI). A Bloomberg citava ontem dois funcionários segundo os quais, em 70 anos de história, a instituição sedeada em Washington nunca lidou com um país tão incapaz de se ajudar a si mesmo – "the most unhelpful", queixam-se.

 

O Parlamento grego votou nesta quarta-feira medidas para lidar com a crise social do país, incluindo subsidiar electricidade, alimentação e alojamento para cerca de 150 mil famílias, metade do originalmente pensado. Sexta-feira, deverá ainda ser votada legislação para permitir o pagamento de impostos em atraso (rondarão 76 mil milhões de euros) em cem prestações.

 

Escreve a agência norte-americana que, entre os técnicos da troika, existe a preocupação crescente de que Alexis Tsipras acabe por forçar a saída da Grécia do euro, na medida em que o seu governo se recusa legislar as medidas consideradas necessárias pelas instituições para desencadear mais apoio financeiro do FMI e da União Europeia. Isto, uma altura em que os cofres públicos estão quase no vermelho, dado que muitos gregos não pagaram em Janeiro e em Fevereiro os impostos devidos, possivelmente à espera da concretização da promessa de amnistia fiscal. Simultaneamente, os bancos continuam a perder depósitos, ainda que a menor ritmo (terão fugido mais de 20 mil milhões de euros desde o início do ano), motivo que levou o presidente do Eurogrupo Jeroen Dijsselbloem a referir-se à eventualidade de serem impostos controlos de capitais no país.

 

Tsipras diz que o problema é "político"

 

Para o primeiro-ministro grego, o problema de "liquidez" da Grécia não é, porém, técnico mas político, pelo que o quer discutir na cimeira desta semana em Bruxelas, aparentemente na expectativa de conseguir um tratamento mais generoso por parte do BCE, que, tal como decidira em 2012, deixou de aceitar como colateral (ou garantia) títulos de dívida soberana da Grécia nas operações de financiamento à banca devido ao impasse na implementação do programa de ajustamento. Em alternativa, o BCE tem autorizado o banco central grego a disponibilizar uma linha de financiamento de emergência aos bancos do país, sendo esta, porém, mais cara e limitada.

 

O primeiro-ministro grego quererá que o BCE abra mais a torneira aos bancos e permita que estes comprem mais bilhetes do Tesouro grego. Frankfurt tem avisado que as regras não lhe permitem alimentar bancos quando se suspeita que estes financiam depois Estados à beira da bancarrota e que não estão a seguir os programas de assistência da comunidade internacional, como é o caso da Grécia, cuja dívida é classificada de "lixo" por todas as agências de rating. Até agora, a Grécia tem realizado atempadamente os pagamentos devidos, designadamente ao FMI. Nesta sexta-feira, tem de honrar mais de dois mil milhões de euros de dívida que se vence.

 

Morgan Stanley, UniCredit e Fitch Ratings foram algumas das casas financeiras que elevaram nos últimos dias o risco de a Grécia sair do euro devido à estratégia negocial de Tsipras que, no seio do Syriza há quem designe de "desobediência controlada". Em entrevista ao Die Welt, o comissário europeu Pierre Moscovici reafirmou ontem que o desejo é manter a Grécia no euro, mas - avisou -"não a qualquer preço". 

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