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Petróleo está a descer há 10 dias. E agora OPEP?

O Comité Ministerial da OPEP reúne-se este fim-de-semana em Abu Dabhi numa altura em que os preço do petróleo estáo a afundar. Vai o cartel fazer marcha-atrás nas quotas de produção?

O ministro de Energia da Arábia Saudita, Khalid Al-Falih, tem 12 meses cruciais pela frente. Surpreendeu os cépticos em 2016 ao reverter a estratégia do reino e conseguir o primeiro corte de produção em oito anos pelos integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). O ex-presidente da Aramco encerrou 2017 com chave de ouro ao assegurar um acordo para estender os cortes de produção até o final de 2018.

Agora, só precisa que os outros cumpram o prometido, que a Rússia mantenha o seu interesse no que foi combinado e torcer para que o preço do petróleo esteja alto o suficiente para garantir o sucesso da abertura de capital da Aramco, mas não a ponto de estimular outro movimento de ascensão da indústria do petróleo de xisto nos EUA. Simples.
Al-Falih, o poderoso ministro da Arábia Saudita, precisa do apoio da Rússia para cortar produção Heinz-Peter Bader
10 de Novembro de 2018 às 16:11
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Donald Trump reclamou que a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) devia tomar medidas para colocar mais petróleo no mercado e assim travar a escalada dos preços da matéria-prima.

 

A pressão tem sido exercida durante os últimos meses e ganhou intensidade há poucas semanas, quando a cotação do petróleo negociava acima dos 80 dólares em Londres  e em máximos de quatro anos também em Nova Iorque. Com as exportações da Venezuela em queda abrupta devido à crise no país e a proximidade da entrada em vigor das sanções ao Irão, os membros do cartel aproveitaram para aumentar a produção, que está agora no nível mais elevado em dois anos. 

 

Mas o presidente dos Estados Unidos "tirou o tapete" à OPEP, pois permitiu que uma série de países (como o Japão, China, Turquia e a Índia) continue a comprar petróleo ao Irão. Isto numa altura em que a produção de petróleo nos EUA continua a aumentar a bom ritmo e atingirá um novo recorde este ano.

 

Foi este conjunto de factores que levou a que o petróleo, no espaço de pouco mais de um mês, passasse de máximos de quatro anos para mínimos de Abril. Uma queda de 20% ao longo de cinco semanas no vermelho que deixou o petróleo em "bear market".

 

A OPEP, que desde 2017 implementou cortes de produção para acabar com a situação de excesso de oferta no mercado que verificava há alguns anos, viu o seu esforço esfumar-se num curto espaço de tempo.

 

Era suposto que as sanções ao Irão, que entraram em vigor na semana passada, "representassem uma alteração de paradigma no mercado. Os países produtores estavam a produzir na capacidade máxima para aliviar o impacto das sanções, mas depois Trump apareceu e concedeu excepções", disse à Bloomberg Michael Loewen, do Scotiabank.

 

Para o presidente dos EUA a estratégia revelou-se para já acertada, pois implementou as pré-anunciadas sanções ao Irão e até conseguiu que os preços do petróleo descessem. Isto precisamente na altura em que decorreram as eleições intercalares no país onde o preço da gasolina é um factor bastante sensível.

 

Ciclo de quedas histórico

O WTI em Nova Iorque está a cair há dez sessões seguidas, o que nunca tinha acontecido na história do mercado petrolífero.  Negoceia abaixo do 60 dólares o barril e já acumula perdas em 2018. O Brent em Londres (caiu em nove das últimas dez sessões) transacciona abaixo dos 70 dólares e ontem também entrou em "bear market".

 

É neste cenário de fragilidade que os responsáveis da OPEP se vão encontrar este domingo em Abu Dhabi. O mercado está de olhos postos na capital dos Emirados Árabes Unidos para perceber se a OPEP terá um "coelho na cartola", mas as notícias de que está em cima da mesa uma reviravolta de 180.º na estratégia do cartel não travaram o deslize das cotações.

 

Depois de seis meses de aumentos consecutivos de produção (está em máximos de 2016), os membros do cartel vão agora anunciar um corte de produção? A possibilidade foi noticiada pelas agências internacionais na quarta-feira e as cotações (apesar de uma reacção em alta inicial) continuaram a cair, já que os investidores não acreditam que a OPEP terá capacidade para inverter a tendência de excesso de oferta no mercado.

 

Até porque do lado da procura a situação é agora menos favorável, já que se está a assistir a um abrandamento da economia global, sobretudo na China, que é um dos principais consumidores de petróleo no mundo e enfrenta uma guerra comercial com os Estados Unidos.

 

Já no início de Outubro a OPEP antecipava uma menor procura de petróleo, ao reduzir em 900 mil barris por dia a sua estimativa para a procura mundial, devido ao crescimento económico mais fraco e ao aumento da produção dos seus rivais, em particular dos produtores norte-americanos de petróleo de xisto. 

 

Se anunciar este domingo que pretende efectuar um corte de produção, a OPEP fará este ano a segunda inversão de estratégia nas quotas de produção. Foi há apenas quatro meses que o cartel decidiu aumentar a produção em um milhão de barris por dia a partir do início de Julho.

 

A Bloomberg assinala que no caso da Arábia Saudita, membro mais influente da OPEP e maior exportador de petróleo do mundo, será a terceira vez em poucos anos que corta a produção pouco depois de anunciar um aumento.

 

O aumento de produção que a OPEP deliberou em Junho terminou com o acordo de corte da oferta que vigorava desde Janeiro de 2017 e que juntou outros grandes produtores de fora do cartel, como a Rússia.

 

Nessa altura, em 2017, o grupo liderado pela OPEP e Rússia adoptou um corte de produção agressivo (1,8 milhões de barris por dia) para responder à queda dos preços e diminuir o excesso de oferta no mercado. Antes tinha resistido ao corte de produção pois os preços baixos reduziam a atractividade dos projectos de exploração nos EUA (que só são viáveis com preços do petróleo mais elevados).


Resta saber o que vai agora decidir a OPEP e qual a influência que a estratégia que adoptar terá nos preços da matéria-prima.

 

Decisão final só no próximo mês em Viena

 

A reunião que tem lugar em Abu Dabhi este fim-de-semana é do Comité Ministerial da OPEP, orgão que contém apenas seis dos 25 países que fazem parte do cartel. Qualquer decisão que seja anunciada será apenas interina e terá que ser sempre ratificada na reunião agendada para Dezembro em Viena.

 

Ainda assim, muitas vezes a OPEP não tem que tomar decisões para fazer mexer as cotações do petróleo e as declarações do ministro da Energia da Arábia Saudita poderão ser suficientes para se perceber quais serão as quotas de produção a adoptar em Janeiro do próximo ano pela OPEP.

 

Al-Falih já falou com o seu homólogo russo para preparar a reunião deste fim-de-semana, sendo que segundo a Bloomberg Alexander Novak não terá mostrado abertura para a reduzir a produção de petróleo. Isto numa altura que os Estados Unidos superaram o país para ocupar o posto de segundo maior produtor de petróleo do mundo.

 

Da parte de outros membros da OPEP, já há quem reclame que devem ser a Arábia Saudita e a Rússia a tomar a iniciativa de reduzir a produção para pressionar os preços em baixa. "A Arábia Saudita e a Rússia aumentaram a produção e o preço desceu 15 dólares por barril. Eles desequilibraram o mercado" e não têm agora outra opção. Têm de cortar a produção em 1 milhão de barris por dia, disse à Bloomberg Hossein Kazempour Ardebili, que representa o Irão na OPEP.

 

Ed Morse, analista do Citigroup, diz que a OPEP, "algures no próximo ano terá de cortar a produção, pois "a economia mundial está a desacelerar e as tensões comerciais na China estão a ter um impacto visível na procura".

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