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Kiev vai fazer tudo para manter laços com os EUA após Trump suspender ajuda militar à Ucrânia
A Ucrânia estará a discutir com os aliados europeus formas de substituir as defesas aéreas fornecidas pelos EUA.
A Ucrânia garante que vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para manter os laços com os Estados Unidos, depois de o Presidente Donald Trump ter suspendido a ajuda militar a Kiev. O primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, afirmou que o país ainda tem meios para abastecer as suas forças da linha da frente, mas classificou a ajuda norte-americana como "preciosa".
"Continuaremos a trabalhar com os Estados Unidos através de todos os canais disponíveis e de uma forma calma", disse Shmyhal, em conferência de imprensa. "Só temos um plano - vencer e sobreviver. Ou ganhamos, ou o plano B será escrito por outra pessoa".
O comité de segurança e defesa nacional do parlamento ucraniano reuniu-se esta terça-feira à porta fechada para discutir a suspensão da ajuda militar dos EUA, segundo noticiou a agência noticiosa RBC-Ucrânia. A principal tarefa agora é encontrar formas de substituir as defesas aéreas fornecidas pelos EUA, bem como a artilharia de longo alcance de precisão americana.
O conselheiro presidencial ucraniano Mykhailo Podoliak anunciou, na rede social X, que Ucrânia está a "discutir" opções com os europeus, sem excluir Washington. "Estamos a discutir opções com os nossos parceiros europeus", escreveu na publicação. "E, claro, não descartamos a possibilidade de negociações com os nossos homólogos norte-americanos".
O Presidente norte-americano Donald Trump determinou na segunda-feira a suspensão do apoio militar à Ucrânia, que combate a invasão russa, na sequência da altercação durante a visita, na semana passada, do homólogo ucraniano Volodymyr Zelensky à Casa Branca.
Fonte da Casa Branca citada pela Associated Press (AP) referiu que Trump está focado em chegar a um acordo de paz para terminar a guerra que decorre há mais de três anos e que pretende ter Zelensky comprometido com esse objetivo. A mesma fonte acrescentou que os Estados Unidos estão a "suspender e a rever" a sua ajuda para "garantir que está a contribuir para uma solução".
A ordem executiva aplica-se a todo o equipamento militar dos EUA que não se encontre atualmente na Ucrânia, incluindo armas em trânsito por via de aviões e navios ou à espera em áreas de trânsito na Polónia. Embora a extensão do armamento abrangido não seja conhecido, Trump herdou do ex-presidente Joe Biden a autoridade para entregar 3,85 mil milhões de dólares em armas norte-americanas.
O congelamento da ajuda a caminho da Ucrânia inclui a entrega de munições essenciais, centenas de sistemas de foguetes guiados de lançamento múltiplo, armas anti-tanque e outros equipamentos. A Ucrânia depende dos EUA para a sua defesa aérea, uma vez que a Rússia bombardeia o seu antigo parceiro soviético com mísseis e drones. Apenas os sistemas de defesa antimíssil Patriot dos EUA são capazes de abater os mísseis balísticos russos, incluindo o Kinzhal.
Trump tem vindo a trabalhar num acordo para acabar com a guerra desencadeada pela invasão da Rússia ao país vizinho, mas quando Zelenskiy insistiu, na semana passada, em garantias de segurança para assegurar que a Rússia não viola qualquer acordo, o líder norte-americano respondeu que voltasse quando estivesse pronto para a paz. Um acordo sobre recursos minerais que era visto como um possível precursor de um cessar-fogo não foi assinado.
Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Polónia, a decisão dos EUA apanhou de surpresa os aliados europeus, que não foram consultados. Os altos funcionários britânicos não tinham conhecimento do plano até ao final do dia de segunda-feira, apesar da troca de telefonemas que tem sido feita nos últimos dias entre membros dos gabinetes do Reino Unido e dos EUA.
Já o Kremlin considerou que a decisão da Administração Trump de cortar a ajuda poderia empurrar a Ucrânia para a mesa de negociações. "Ainda não conhecemos os pormenores, mas, a ser verdade, trata-se de uma decisão que pode encorajar" Kiev a avançar para o processo de paz, disse o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, segundo a agência noticiosa Interfax. Acrescentou que é demasiado cedo para falar de um eventual abrandamento das sanções impostas pelos EUA à Rússia.