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Mais compras de activos em Dezembro? Draghi diz que é uma “questão em aberto”
Os juros da dívida estão a registar fortes subidas. Esta é a consequência directa de Mario Draghi ter dito que mais estímulos monetários em Dezembro ainda não são uma certeza. As medidas estão a ser avaliadas, mas o presidente do BCE não dá garantias.
Apenas há duas semanas, Mario Draghi disse que o Banco Central Europeu iria avaliar a possibilidade de aumentar os estímulos à economia. Declarações na conferência de imprensa, após mais uma reunião de política monetária, que levaram os juros da dívida dos países da Zona Euro a registarem fortes quedas. Agora, em entrevista ao jornal Il Sole 24 Ore, o presidente da instituição monetária disse que esta é ainda uma "questão em aberto". Conclusão? Os juros da dívida estão a disparar.
"Se estivermos convencidos de que o nosso objectivo para a inflação no médio prazo está em risco, tomaremos as medidas necessárias", disse Mario Draghi, na entrevista ao jornal italiano, publicada no sábado, 31 de Outubro. Contrariando o entusiasmo excessivo de que mais compras de activos seriam já uma certeza, o responsável ripostou que "veremos se serão necessários mais estímulos". E acrescentou que é "demasiado cedo" para fazer considerações sobre um corte na taxa de depósitos, actualmente em -0,2%.
Estas declarações do presidente do banco central da Zona Euro vieram refrear os ânimos. Mas não ficaram por aqui. "Prevemos que a inflação irá permanecer próxima de zero e até tornar-se negativa, pelo menos até ao início de 2016", disse ainda Mario Draghi. Mas o responsável pela política monetário no seio do euro foi peremptório ao afirmar que, "depois disso, o efeito das fortes quedas dos preços do petróleo, que temos visto desde o fim de 2014 e o fim desde ano, irão desaparecer da inflação homóloga". Ou seja, explicou, "isto irá levar a uma subida puramente mecânica da inflação".
As estimativas do BCE de Setembro, publicadas após a reunião de política monetária realizada nesse mês, apontavam então para uma inflação de 1,1% em 2016 e 2,7% em 2017. Mas foi depois da reunião de Malta em Outubro, que, disse Draghi, "pedimos a todos os comités relevantes e à equipa do BCE para preparar da eficácia relativa de diferentes opções para a reunião de Dezembro". Por isso, acrescentou, "iremos decidir com base nisso. Veremos se são necessários mais estímulos".
Mario Draghi admitiu ainda que reduzir cortou a taxa de depósitos "poderá ser um dos instrumentos que voltamos a usar". Até porque, explicou, "o principal teste à credibilidade de um banco central é a habilidade de atingir os seus objectivos. Não tem nada a ver com os instrumentos". Já em relação à Reserva Federal dos EUA, o responsável pela política monetária da Zona Euro recusou qualquer ligação entre a actuação dos dois bancos centrais, concluindo que o mandato de Yellen é definido pela jurisdição dos EUA, ao passo que o do BCE depende da Zona Euro.
Juros da dívida disparam
Com o cenário de que, afinal, o BCE poderá não avançar com mais estímulos à economia, as obrigações soberanas da Zona Euro estão a ser fortemente penalizadas esta segunda-feira, 2 de Novembro. A taxa de juro da dívida portuguesa a 10 anos avança 4,6 pontos base para 2,586%, tendo já chegado a subir um máximo de 8,2 pontos. Mas Portugal não está a ser o país mais penalizado, já que a incerteza política impediu também que beneficiasse tanto como os pares.
As "yields" de Espanha e Itália estão a registar subidas muito acentuadas nesta sessão, com a taxa a 10 anos de Espanha a subir 6,7 pontos para 1,739%, tendo chegado a subir 9,1 pontos. Mais significativo é o desempenho de Itália, já que a "yield" a 10 anos dispara 16,3 pontos para 1,644%, sendo que a subida já chegou a ser de 18,9 pontos nesta sessão.
Ao mesmo tempo, a taxa de juro das obrigações alemãs com a mesma maturidade está a ser penalizada. Esta avança 4,8 pontos para 0,566%, tendo chegado a subir um máximo de 5,5 pontos. Um desempenho que, assim, leva a uma redução do prémio de risco ("spread") de Portugal para 202,3 pontos.