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Dos 160 a menos de 100: A travagem abrupta da VW

Já foi a empresa mais valiosa do mundo, mas o escândalo com os motores a gasóleo está a tirar o brilho à fabricante automóvel alemã. Tem vindo a derrapar na bolsa. Não há ABS?

Bloomberg
03 de Outubro de 2015 às 10:00
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Foi um "short squeeze", espoletado pela Porsche, que fez da Volkswagen a empresa mais valiosa do mundo. Um recorde, com as acções acima dos 1.000 euros, em 2008, que rapidamente se desvaneceu. Desapareceram os ganhos artificiais, mas o valor da empresa continuou a ser elevado. Até agora.

Gases poluentes a mais, escondidos através de um "kit", fizeram travar a fundo os títulos da VW. De mais de 160, derraparam até menos de 100. E pode continuar a deitar fumo nos mercados.

A VW arrancou o ano com o pé a fundo no acelerador. Cada acção da empresa germânica valia 184,65 euros, mas continuou a subir na bolsa, à boleia do optimismo dos investidores em torno da recuperação económica que se traduz, no caso da fabricante, em mais vendas de automóveis. Ou seja, mais lucros, permitindo-lhe gerar mais retornos para os investidores. Chegou aos 255,20 euros em meados de Março, alcançando máximos de 2008. Mas, tal como o resto do mercado, começou a corrigir.


Os títulos da empresa perderam 34,5% desde o máximo, num movimento em consonância com o do sector, mas também com o da generalidade dos mercados accionistas europeus. Mas depois, as acções travaram a fundo com o "Dieselgate". Testes feitos nos EUA apontaram para que a VW estava a manipular os testes de emissões de gases poluentes nos seus motores a "diesel". A empresa admitiu e foi um choque na bolsa. Logo na primeira sessão, a 21 de Setembro, a VW perdeu 12,9 mil milhões de euros. As acções passaram de 167,80 para 132,20 euros. Foi a maior queda desde 2008.


Mas mesmo depois de cair mais de 18%, voltou a afundar quase 20% ao admitir que o problema não era apenas nos EUA: afecta 11 milhões de veículos vendidos a nível mundial. E as quedas têm-se sucedido desde então, excepto no dia em que revelou que Matthias Müller é o novo CEO da Volkswagen, substituindo Martin Winterkorn. Aí disparou, mas só para inverter a tendência continuar a derrapar. Neste curto período, passou de mais de 160 para apenas 91,61 euros, com as emissões a intoxicarem as restantes fabricantes europeias. E tocou um mínimo de Outubro de 2011 nos 90,70 euros.


A VW vale, actualmente, 46 mil milhões de euros, ainda assim o equivalente ao valor de mercado de todas as cotadas do PSI-20. Aquela que já foi, um dia, a empresa mais valiosa do mundo, está agora na 185ª posição do "ranking" mundial. E há margem para que caia ainda mais, tendo em conta as perspectivas negativas que os analistas têm vindo a apontar para a dona da Audi, Skoda e Seat. A média das avaliações continua a ser superior à cotação actual, mas os "research" mais recentes aponta para valores inferiores.


O Crédit Suisse é, actualmente, o banco de investimento que tem a avaliação mais baixa de todas, de apenas 82 euros, sendo que a Bankhaus Metzler e a AlphaValue têm preços-alvo de 88 e 89,50 euros. E comum a vários analistas é o facto de recomendarem aos investidores que vendam os títulos, numa altura em que muitos dos proprietários de veículos da marca estão a fazer o mesmo com os carros. As multas que poderá ter de pagar, mas também os danos reputacionais estão na base desta recomendação de marcha atrás aos investidores relativamente a uma fabricante que parece estar sem ABS para evitar que as suas acções evitem o precipício.

Como é que a manipulação foi descoberta?

Efeito Borboleta. Quase se pode recorrer a esta figura para demonstrar o que enfrenta a . O desejo de satisfazer uma curiosidade acabou por fazer tremer um império gigante.

Um curioso acaso

Dois investigadores de associações ligadas ao controlo do ar decidiram replicar nos Estados Unidos testes já realizados em território europeu. O seu objectivo era mostrar que esta era uma opção "limpa", até porque as barreiras americanas são mais apertadas nesse nível. A própria Volkswagen tinha vindo a trabalhar nessa sensibilização. Os investigadores pediram ajuda à West Virginia University e aí chegaram as conclusões: os dados de laboratório estavam longe de se assemelhar aos obtidos em estrada. No último cenário, as emissões podiam ser 40 vezes superiores ao permitido.

Até à pressão final
A Bloomberg conta que as negociações entre a Volkswagen e a EPA (Agência de Protecção Ambiental) não são novas. A empresa comprometeu-se em resolver o problema através de uma actualização do "software". Os reguladores não se deixaram convencer e foram fazendo novos testes, comprovando que as emissões continuavam acima do permitido. Só perante a possibilidade de não serem aprovados modelos que iam para o mercado em 2016 é que a empresa cedeu. A EPA pedia um esclarecimento, a Volkswagen admitiu a fraude.


Vendas suspensas

Com o escândalo, a Volkswagen suspendeu a venda de vários dos seus modelos nos EUA, mas outros países decretaram o mesmo por sua própria iniciativa, até saberem ao certo a dimensão do problema. Suíça e Bélgica foram os mais recentes a travar a comercialização dos veículos da fabricante alemã.

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