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Volkswagen: o luxo e as extravagâncias acabaram?

Concertos, parques de diversões e até uma fábrica de salsichas. O império da Volkswagen estende-se para lá dos carros. Com o maior escândalo de sempre na sua história, alguns dos luxos podem ter de cair.

Bloomberg
17 de Outubro de 2015 às 10:00
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Wolfsburgo. Cidade ferroviária com cerca de 125 mil habitantes. A sede da fabricante automóvel Volkswagen. E o epicentro do escândalo de manipulação de emissões poluentes que afecta 11 milhões de carros em todo o mundo.

Depois da polémica ter estalado em Setembro, é tempo de fazer contas e cortar em tudo o que não seja "essencial". Por ano, os cortes no investimento vão ser de mil milhões de euros. Onde? É a verdadeira questão.

Ao longo dos anos, o grupo foi extravagante e nunca fez questão de escondê-lo. A cultura de gastos foi assumida sem medos. A cada lançamento de um novo modelo, uma festa luxuosa. Com artistas de renome como Pet Shop Boys, Robbie Williams, Justin Timberlake ou Lenny Kravitz.

Bares abertos, buffets a perder de vista, ecrãs gigantes, plataformas rottórias. Os cordões da bolsa da VW nunca se fecharam para fazer a diferença na hora de apresentar ou vender um carro. No fundo, transformou-se o acto de compra numa experiência memorável.

Quem compra tem de associar o carro a um "happening". No Frankfurt Motor Show deste ano, por exemplo, o pavilhão da Audi contava com um corredor feito de gelo.

Um parque de diversões a grande velocidade

Wolfsburgo é mais do que um mero centro produtivo. É um parque de diversões para compradores, com nome e tudo. Imaculado, à boa tradição alemã, o Autostadt conta com oito pavilhões e recebeu mais de dois milhões de visitantes em 2014.

Há lagos, jardins cuidadosamente arborizados e a possibilidade de diversão a cada metro. Sobretudo se isso for feito ao volante de um luxuoso Porsche ou Lamborghini, duas das 12 marcas que integram o grupo automóvel.

Na cidade alemã há ainda espaço para a cultura e para a gastronomia. A Volkswagen financiou um museu de ciências projectado pela reputada arquitecta iraniana Zaha Hadid. A lista dos apoios contempla ainda o hotel Ritz-Carlton, que a VW financiou parte da construção como parte integrante do próprio parque de diversões. Nele está também instalado um restaurante com três estrelas Michelin, o Aqua. Depois, há um conjunto pequenos negócios, como a restauração, que acabam por depender dessa dinâmica da VW.

A Volkswagen emprega 60% dos 125 mil habitantes da cidade. 

Encher salsichas será prioridade?

Talvez seja a maior idiossincrasia deste grupo automóvel. Ou pelo menos, o investimento mais inesperado tendo em conta a área de especialização. A Volkswagen opera uma fábrica de salsichas em Wolfsburgo. São 25 pessoas a trabalhar aqui. Por semana, são processadas mais de 10 toneladas de carne.

E a surpresa é ainda maior: a Volkswagen produz mais salsichas do que carros. Em 2014, foram 7,8 milhões de salsichas. Mais 1,7 milhões do que o número de carros que o grupo fabricou. O negócio está no bom caminho para seguir esta tendência, mostram as últimas perspectivas de crescimento.


Mas esta não é uma salsicha qualquer. Chama-se "currywurst" e resulta de uma combinação de carne de porco, especiarias e caril. É uma presença assídua em todos os lançamentos e grandes eventos da marca, integra os menus das fábricas e dos escritórios e até chega aos supermercados.

O apito final chegou ao futebol

É para já uma das únicas certezas quanto aos cortes. A Volkswagen decidiu suspender a construção de um centro de treinos para a academia do Wolsburgo. A fabricante é dona de 95% dos direitos do clube de futebol criado em 1945 e que integra a primeira liga alemã.

Se a princípio o director-geral do clube Klaus Aloofs se mostrava confiante quanto à manutenção dos investimentos no Wolsburgo, rapidamente teve de rever a sua posição. Agora, perante o passo atrás no centro de treinos, diz "compreender" a decisão porque "este não é o momento para investir. Para além do futebol, o Wolfsburgo tem outras modalidades como o badminton, o andebol e o atletismo.

Quando se esperam milhares de milhões de custos associados ao escândalo das emissões, nem só nas extravagâncias se verão os cortes. Apesar de não querer cortar em postos de trabalho, o CEO Matthias Müller já avisou os trabalhadores que este processo "não vai ser feito sem dor".

Resta saber se será feito sem música, salsichas ou partidas de futebol.

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