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Brasil ao rubro: o Presidente Temer, a produtora de proteína animal e a compra do silêncio de Cunha

Os donos da brasileira JBS, maior produtora mundial de proteína animal, têm provas que colocam o Presidente Temer em maus lençóis. Em Abril contaram tudo à Procuradoria-Geral da República e agora confirmaram no Supremo todas as informações, avançou o jornal O Globo.

18 de Maio de 2017 às 00:22
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A delação premiada, figura jurídica no Brasil que permite a redução da pena de um arguido em troca de colaboração com a Justiça, continua a dar frutos do outro lado do Atlântico. Desta vez foram os reis da proteína animal a colocar o Presidente Michel Temer (na foto) em maus lençóis.

No passado mês de Abril, os donos da JBS, maior produtora mundial de proteína animal, apresentaram à Procuradoria-Geral da República provas que comprometem Temer e que prometem aquecer ainda mais o meio político do Brasil. Agora, confirmaram palavra por palavra.

 

Com efeito, na passada quarta-feira, 10 de Maio, os irmãos Joesley e Wesley Batista, patrões da empresa vocacionada para o mercado de suínos, bovinos e aves de capoeira, atestaram junto do juiz Edson Fachin - relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) - que tudo o que denunciaram no mês passado é verdade e foi feito sem qualquer tipo de coacção, avançou o jornal O Globo.

"Foram lá [os dois irmãos e mais cinco funcionários da JBS] para o acto final de uma bomba atómica que explodirá sobre o país — a delação premiada que fizeram, com poder de destruição igual ou maior que a da Odebrecht", sublinhou a mesma publicação.

 

Num contexto em que o descontentamento popular tem imperado, este novo escândalo vem dar um grande abanão ao meio político.

Mais do que autorizar o pagamento de "luvas" a um deputado, Temer abriu esse caminho e incentivou a que se mantivessem os subornos. E os donos da JBS têm tudo gravado.

 

Tudo aconteceu no passado dia 7 de Março, quando Joesley Batista foi ao encontro de Michel Temer. "Joesley chegou à residência oficial do presidente com o máximo de discrição: foi a conduzir o seu próprio carro para uma reunião a dois, fora de agenda. Escondia no bolso uma arma poderosa — um gravador", relata O Globo.

 

No seu depoimento junto dos procuradores, Joesley declarou não ter sido Temer a determinar que fossem pagas "luvas", mas explicou que o Presidente tinha pleno conhecimento da operação. Até porque terá sido Temer a indicar o nome de um deputado "subornável".

 

"Diante de Joesley, Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da J&F (holding que controla a JBS). Posteriormente, Rocha Loures foi filmado a receber uma mala com 500 mil reais (145,9 mil euros) enviados por Joesley", refere O Globo.

 

Além disso, Joesley disse a Temer que também estava a pagar "luvas" a Eduardo Cunha – ex-presidente da Câmara dos Deputados que se encontra actualmente preso no âmbito da Operação Lava Jato – e ao seu então braço-direito Lúcio Funaro, igualmente detido [no âmbito da Operação Sépsis]. Tudo isto para ficarem calados.

 

A manobra pareceu ser do agrado do Presidente brasileiro, conforme denunciado. "Todo o diálogo foi gravado por Joesley. Tem trechos explosivos. Num deles, o dono da JBS relatou a Temer que estava ‘dando mesada’ [a subornar] a Eduardo Cunha e Lúcio Funaro para que ambos, tidos como conhecedores de segredos de dezenas de casos escabrosos, não abrissem o bico. Temer mostrou-se satisfeito com o que ouviu. Nesse momento, diminuiu um pouco o tom de voz, mas deu o seu aval: — Tem que manter isso, viu?", salienta O Globo.

 

No passado dia 30 Março, recorde-se, Eduardo Cunha foi condenado a 15 anos e quatro meses de prisão, acusado de ter recebido "luvas" da petrolífera estatal Petrobras em 2011, em troca de apoio ao governo da ex-Presidente Dilma Rousseff.

 

E como se passaram as coisas? Em 2011, a Petrobras anunciou a compra de 50% de um bloco num campo petrolífero da Compagnie Beninoise des Hydrocarbures Sarl ­(CBH) por 34,5 milhões de dólares. Em Maio daquele ano, a Petrobras transferiu esse valor para a CBH. As investigações da Lava Jato identificaram que, poucos dias depois de receber o dinheiro da Petrobras, a companhia africana fez uma transferência de 10 milhões de dólares para uma conta na Suíça em nome de João Augusto Rezende Henriques, identificado como lobista do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), partido de Cunha e antigo aliado do PT de Dilma no governo, e também do actual Presidente Michel Temer. 

Agora, com esta denúncia dos donos da JBS - igualmente no âmbito das investigações da Lava Jato -, Cunha vê-se ainda mais atolado no enredo do escândalo que o atirou para a prisão.

A publicação Brasil327 refere, por seu lado, que também o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi gravado a pedir dinheiro a Joesley. E muito dinheiro: dois milhões de reais (583 mil euros). Neste caso, também há provas, já que a transacção foi filmada pela Polícia Federal.

 
Recorde-se que nos próximos dias 6, 7 e 8 de Junho o Tribunal Superior Eleitoral do Brasil vai julgar a acção que pode levar à cassação da dupla Dilma-Temer, vencedora das eleições de 2014. Segundo informações deste Tribunal, citadas pela Veja, "foram reservadas quatro sessões para deliberar sobre o processo movido pelo PSDB". 

"O Tribunal vai decidir se existem indícios suficientes de abuso de poder político e económico" para impugnar a dupla Dilma-Temer, "o que, na prática, significa retirar do cargo o Presidente Temer, levando à convocação de eleições", acrescenta a Veja.

 

"Designado Presidente depois de Dilma Rousseff ser condenada por crimes fiscais, Michel Temer [que era o vice de Dilma] e os seus principais aliados foram recentemente citados por delatores da construtora Odebrecht como receptores de subornos nas investigações dos crimes na Petrobras e noutros órgãos públicos", conforme referiu na semana passada a agência Lusa.

 

Temer tem sido citado em vários pedidos de abertura de inquérito no âmbito da Lava Jato, mas não houve um pedido de investigação porque o cargo de Presidente lhe dá imunidade temporária. "Enquanto estiver no cargo, o chefe de Estado brasileiro não pode ser investigado por crimes não relacionados com o seu mandato", explicava a Lusa a 11 de Abril. Mas agora, com a denúncia - por parte da JBS - destes actos ilícitos cometidos em pleno mandato, o caso pode mudar de figura.

Com a divulgação deste novo caso, os ânimos voltaram a aquecer e as reacções não se fizeram esperar. Na Avenida Paulista, em São Paulo, a multidão foi crescendo, numa manifestação convocada na rede social Facebook. 'Fora Temer' foi o mote. 



Entretanto, Michel Temer reagiu à notícia do jornal O Globo poucas horas depois de esta ter sido divulgada, dizendo que "jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio de ex-deputado Eduardo Cunha".

Num comunicado divulgado pelo Palácio do Planalto, e citado pela Impala, o chefe de Estado brasileiro declarou que não participou e nem autorizou "qualquer movimento com o objectivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar".


(notícia actualizada às 02:35)

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